Dez

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Acho que entendi porque Dravos parecia tão irritado quando deu aquelas ordens para a tripulação e disse que precisava conversar comigo. Mas ainda não acredito que vou fazer isso. Estamos indo para outra base do mesmo grupo que estava estudando as terráqueas na nave que ele destruiu – se é que ele disse a verdade – e eu vou ter que realmente entrar lá com ele. Pelo que entendi, a irmã dele vende informações e estava investigando esses lugares por algum motivo. Agora a pessoa que foi para a outra base não consegue sair sozinha e Dravos precisa que uma mulher entre lá com ele para ela sair.

— Você está falando de trocar de lugar com ela... — começo, sem ter certeza de que entendi tudo.

Ele balança a cabeça.

— Pryin mandou uma das sombras. São de outra espécie e consegue se camuflar usando outras pessoas, como se fossem realmente sombras.

Isso não está fazendo sentido.

— Mas então por que eu preciso ir? Ela pode te usar e pronto.

Ele balança a cabeça de novo.

— Uma mulher precisa de outra mulher para se esconder. Senão as energias não ressoam certo. E não me pergunte o que isso quer dizer, só estou repetindo o que uma das sombras me disse.

— Então outra mulher da tripulação...

E eu não devia estar fazendo o possível para convencer Dravos a não me levar, já que depois vou poder ir para casa. Mas ainda estou achando essa história estranha demais, como se fosse uma armadilha.

Dravos faz uma careta e olha para o alto.

— Não tenho mulheres na tripulação.

Levanto as sobrancelhas, até com medo de perguntar o motivo. Apesar de tudo, estou gostando de conversar com Dravos. Não quero descobrir que ele é um desses caras idiotas que acham que mulheres não servem para qualquer trabalho mais "pesado".

— Não precisa fazer essa cara. — Ele apoia um cotovelo na mesa e se inclina para a frente. — A culpa não é minha. Mas todas as mulheres que entram para minha tripulação e se dão bem aqui, Pryin rouba para trabalharem como agentes para ela. Se você fosse ficar aqui, aposto que ela ia te recrutar também.

Tá, agora faz mais sentido. Se é que alguma coisa aqui faz sentido.

Respiro fundo e assinto. Quero voltar para casa. Se o jeito mais fácil de conseguir isso é indo nessa tal base com Draco... Droga. Não. Não mesmo. Ele pode até não ser um alien assassino, mas não vou chamar ele pelo nome do meu personagem favorito de Harry Potter. Consegui não fazer isso até agora. Vou fazer o esforço de usar o nome certo.

Mas se o jeito mais fácil de conseguir voltar para casa é indo para a base com Dravos, então eu vou. E espero muito que ele esteja falando a verdade e não esteja planejando me deixar por lá no lugar dessa outra mulher.

— Eu vou.

Dravos assente, sério, mas tenho a impressão de que está aliviado. E com razão. O que ele ia fazer se eu não tivesse concordado?

O gatinho mia e olho para cima. Ele está descendo. Finalmente. Olho para a mesa. Quando foi que terminei de comer meu sanduíche? Acho que estava distraída demais com as explicações todas e o que Dravos quer que eu faça. Suspiro. Não acredito que concordei com isso. Pelo menos não vai ser difícil ficar grudada em Dravos o tempo todo que estivermos na base. O mais provável é eu entrar lá me escondendo atrás dele.

Passo a mão na cabeça do gato e ele se deita na mesa. Folgado. Muito folgado. E... Eu precisava de um nome para o gatinho, não é? Pronto. Draco. Assim não vou ficar querendo chamar Dravos desse jeito. E o nome combina com um gatinho voador.

Dravos (Filhos do Acordo 4) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora