Nove

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Dou uma mordida no meu sanduíche. O pão tem um gosto forte, parecendo aquele pão escuro... Acho que o nome é pão australiano. Mas é pão, isso que importa. E o recheio é gostoso. Não vou perguntar o que é isso para não perder a vontade de comer.

Dravos resmunga alguma coisa em voz baixa e sorrio. Ele está sentado na minha frente, do outro lado da mesa, e olhando para cima.

Acho que nunca ri tanto na minha vida quanto quando os aliens viram que o gatinho estava solto e que ele voa. Para minha tristeza, Dravos foi o mais calmo de todos: ele só se abaixou quando o gato foi na sua direção. Os outros aliens? Estavam parecendo eu quando entrou uma barata voadora na minha casa. Teve gritos, teve gente se escondendo debaixo das mesas, teve gente falando que ia buscar armas – e me encarando como se eu fosse a estranha quando gritei para deixarem meu gato em paz. No fim das contas, o gatinho parou no alto do refeitório, brincando com alguma coisa que está dependurada lá, e os aliens saíram muito antes dos dez minutos que Dravos deu acabarem.

— Isso não foi divertido — ele resmunga.

Levanto a cabeça. Quem ele está tentando enganar?

— Foi hilário. E eu vi que você estava segurando para não rir também.

Admito que isso me surpreendeu e muito. Achei que ele fosse ficar com raiva ou... Sei lá. Mas Dravos estava tentando não rir dos aliens fugindo do meu gatinho.

Dravos balança a cabeça e não fala nada.

Outro alien se senta ao lado dele. O dos dedos-tentáculos.

— Ela te pegou — ele fala, olhando para Dravos, antes de se virar para mim. — Vai fugir?

Querer eu quero, mas...

Balanço a cabeça. Ele continua me dando medo – dedos tentáculos, oi! – mas se eu for pensar assim, nunca vou fazer nada. Vou ficar trancada dentro daquele quarto até ficar louca. Então não vou pegar meu sanduíche e sair correndo do refeitório.

Ainda bem que o gatinho ainda está lá no alto, porque se estivesse aqui perto de mim corria o risco de eu fazer exatamente isso.

— Ótimo — ele fala e Dravos assente.

Continuo comendo meu sanduíche, esperando Dravos falar o que quer que seja. É melhor me concentrar na comida, assim não vou ficar encarando Dravos e pensando no que não deveria, porque já me peguei fazendo exatamente isso enquanto os aliens ainda estavam correndo do meu gato. Estava pensando em como ele fica irresistível tentando não sorrir. Não que ele não seja irresistível normalmente, e...

Droga.

O alien dos dedos-tentáculos limpa a garganta. Dravos resmunga mais alguma coisa que eu não entendo e percebo quando coloca as mãos na mesa. Certo. Foco. Preciso parar de pensar nessas coisas.

— Jéssica, preciso da sua ajuda.

Só não deixo meu sanduíche cair porque estou com muita fome.

Levanto a cabeça, sem ter certeza de que escutei certo. Se ele não tivesse falado meu nome eu ia ter certeza de que não era comigo, mas... Minha ajuda?

— Como assim?

— Você ouviu o que falei, que estamos a caminho de uma base. Vou precisar de você para tirar uma agente da minha irmã que está lá.

Paro, de boca aberta. Ele acha mesmo que vou cair nessa? Não sei nem o que é, mas... Para quê ele ia precisar da minha ajuda? E mesmo que precisasse, eu não vou ajudar ele a matar mais ninguém! Também ouvi quando ele falou de entrar em combate.

Dravos (Filhos do Acordo 4) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora