Sim... ou quase?

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Pov America

Eu já tinha ouvido falar de pessoas que mudaram o mundo. Personagens icônicos através dos séculos que transformaram a história, modificaram seus arredores e construíram o mundo como ele é atualmente. Até eu ler os diários que Maxon me emprestara tinha a forte convicção de que Gregory Illéa estava nessa lista. Um grande homem, com grandes feitos e baixíssima empatia. Então, com o acesso ilimitado das bibliotecas escondidas pelo palácio, tive o prazer de me deparar com figuras verdadeiramente inspiradoras. Homens e mulheres que atravessaram a pobreza e a exclusão para lutar em nome de um bem comum, em nome daquilo que acreditavam profundamente em seus corações. Esses indivíduos não buscavam a glória ou qualquer coisa por trás, não tinham interesses obscuros, mas acabaram transformando as mentes de suas épocas em prol do objetivo pelo qual lutavam.

Maxon uma vez me disse que eu seria amada como eles foram e ainda são. Me tornara um símbolo de liberdade e rebeldia, tudo o que Clarkson tentara impedir e inutilmente lutou contra. Olhando para meu próprio reflexo no espelho tentei compreender como alguém poderia depositar tamanha fé em meus ombros? Sou só uma garota que tivera a sorte em ter um ataque de claustrofobia em meu primeiro dia no palácio. Meu noivo se esconde nas sombras enquanto trabalha em seu portfólio o projeto da abolição das castas, o rei senta-se em seu escritório entre os conselheiros e pensa em seu próximo ato de distração política, August e Georgia planejam um golpe de estado e eu espero pacientemente minhas criadas terminarem de retocar minha maquiagem. O que sei sobre a situação para poder ser aclamada? Não compreendo os termos de economia que Silvia fracassa em me ensinar, não possuo a retórica nem a capacidade de convencer os outros como Maxon, muito menos sou graciosa e amada como a rainha. O que afinal eu sei para receber todos os dias centenas de cartas de todo o país? Envelopes esses demonstrando todo o amor e dedicação de pessoas que nem ao menos conheço? Tenho milhares e perguntas, mas nenhuma resposta. Nada além do silêncio em minha própria mente, divagando para tentar se ocupar e não pensar na realidade. Como posso desapontar um reino inteiro? A questão martelava meu cérebro, sendo interrompida constantemente pela minha imagem tropeçando no caminho até o altar.

Balanço a cabeça e tento esquecer o nervosismo. Volto imediatamente para minha crise existencial, para em seguida retornar às possibilidades vergonhosas que podem ou não acontecer nas próximas horas. Foi assim durante todo o dia. Podia sentir meus músculos retesados, contraindo-se mais cada vez que observava o relógio.

_Você está maravilhosa, minha filha. –ergo o olhar para encontrar o reflexo de minha mãe parada atrás de mim. As camadas do vestido não permitiram que ela se aproximasse muito, mas foi o suficiente para eu me virar. Precisei de ajuda para carregar a quantidade de pano descendo até o chão e sorri ao ver seus olhos brilhando devido às lágrimas. –Eu não vou chorar. –mente. –Prometi que não choraria. –rio, tomando-lhe as mãos. –Seu pai estaria orgulhoso de você. –fecho os olhos, controlando as lágrimas também e sorrio, imaginando-o ali.

Consegui vê-lo perfeitamente, sentado na cama com a linha fina dos lábios aberta em um sorriso sereno. As rugas de preocupação magicamente desaparecendo, repetindo diversas vezes o quão linda eu estou. Descrever o quanto gostaria de tê-lo aqui nesse momento é impossível, não existem palavras suficientes para explicar a saudade que sinto todas às vezes em que acordo e me lembro do que ocorreu.

_Eu estou orgulhosa. –continua com a voz embargada. A abraço apesar dos gritos de protestos das minhas criadas. Ela seca o campo do olho e se afasta. –Pode me agradecer depois por ter te obrigado a se inscrever. –não deixo de gargalhar.

_Não sabia que fazia piadas, Dona Magda. –provoco.

_Se eu não rir, chorarei. Então...

_Entendo. –ela sorri cabisbaixa antes de se retirar.

Royal or RebelOnde histórias criam vida. Descubra agora