O encontro - Parte II

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A filme tinha acabado, os créditos passavam na tela da TV e iluminavam a penumbra do recinto, mas para as jovens crianças na sala, a história estava ainda longe de chegar ao seu fim.

–Por que...Por que tinha que ter tanto cabelo?! Tipo a mulher só tinha cabelo e não dava para ver o seu rosto! E depois ela virou um monstro! Que horrível! –Choramingou Alfred escondendo o rosto em uma almofada.

–E-eu também n-não entendo esse negócio de cabelo... Ela tinha tanto e até atacava as pessoas com ele... –Concordou Mattrew contendo as lágrimas de medo abraçado ao seu ursinho.

–Eu não quero ver nunca mais cabelos na minha vida! Nem poços! Nem fitas VHS! Nem nada disso! Ainda bem que estamos na era dos DVDs...A mulher do chamado não pode nos atacar! – Concluiu Alfred, se sentindo mais confiante com aquelas palavras.

–Mas, Al ...Nós temos cabelos sobre as nossas cabeças! – Indicou Matt.

–Eu sei Matt...Eu quis dizer cabelos no estilo da Sadako! Ou seja, cabelos amaldiçoados! – Alfred notou que Luciano estava muito quieto, na verdade ficara quieto todo o filme, o loiro olhou para o moreno –Lu...você está com medo, não é? – Sorriu de forma provocadora.

–E-eu...Medo? Do que? De uma mulher idiota com o seu cabelo idiota que vive em um poço idiota! Nunca! –Falou o brasileiro estufando o peito, orgulhoso.

–Oh... Ele é tão corajoso! –Disse Matt sorridente, com certo ar de admiração.

–Ele não é corajoso! Só está fingindo que é corajoso! –Acusou Alfred.

–Não sou como você! – Estirou a língua Lu.

–Seu idiota! A Sadako vai pegar você! Afinal, ela deve ficar muito irritada com garotos que não respeitam seu poder! –Nisso Luciano engole em seco, mas disfarça o nervosismo.

–Sadako não existe! Meu pai disse que filmes são mentiras...Não se pode ter medo de filmes bobos!

Yao discretamente saiu da sala e foi ao banheiro, deixando as crianças brigando entre si (um bom exemplo de como uma babá deve agir, não é mesmo?), lá chegando solta os longos cabelos negros e os penteia para frente, de modo que cubra o seu rosto. O chinês sabia que seu corpo tinha algumas características femininas, apesar de algumas vezes tal fato ser uma desvantagem e o irritar, algumas vezes sua aparência podia ser utilizava para boas coisas, como agora: parecer uma perfeita cópia da Sadako.

–Pareço mesmo com a Sadako? –Proferiu a pergunta a si mesmo ao ver sua imagem no espelho, se controla para não rir, iria dar um baita de um susto nas crianças. (novamente, vale salientar que isso seria algo que uma verdadeira babá deveria agir: fazer com que as crianças enfrentassem seus medos).

–Ué? Cadê o tio Yao? –Notou Matt olhando para os lados. O dito tio Yao ouviu o chamado... Aquela era sua chance de brilhar!

–Ele deve ter fugido de medo...Aquele medroso! –Concluiu Alfred – Parece que sou o único corajoso dessa casa!

–Não é verdade Alfred...Eu estou bem aqui... –Yao adentrou na sala com o cabelo sobre o rosto e se arrastando pelo chão tal como o personagem do filme de terror. As crianças observaram aquilo em silêncio por alguns instantes, paralisados de medo, até que...

~**~

Arthur e Afonso caminhavam de volta para casa, a noite estava fria e eles buscavam se aquecer, cada um deles perdidos em seus pensamentos... O jantar fora divertido, tinham relaxado, apesar disso algumas inquietações se formavam em seus corações.

VizinhosWhere stories live. Discover now