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-Porquê que nunca me contaste sobre o teu pai? Sempre pensei que não o conhecias como eu não começo o meu- Perguntei ainda um pouco confusa com toda esta situação. Eu não queria pressiona-lo, não era de todo o meu objetivo, se ele não quisesse falar mais sobre o assunto iria respeitar a sua vontade, mas só queria perceber um pouco o que aconteceu para ele ter tanta raiva contra o seu pai, deve ter acontecido algo grave para ele ter reagido daquela forma assim que o viu.

-Porque não queria que te preocupasses com tudo isto, é uma longa história e não queria estar a chatear-te ou arranjar-te mais problemas, estes eram os meus problemas, não queria que te preocupasses com eles também- Ele fala enquanto me olhava nos olhos e os seus braços permaneciam em torno da minha cintura- ele nem devia ter aparecido aqui, não te chateies com isto, eu tenho tudo controlado, prometo.

-Tudo controlado? Parecia que querias matá-lo, isso é ter tudo controlado?! Não me parece Zayn... Podes desabafar comigo, eu talvez consiga ajudar com alguma coisa. Não te quero ver triste – Digo lentamente, fazendo leves caricias no seu cabelo e na sua barba negra.

-Tanto eu como a minha irmã tivemos uma infância um pouco complicada devido ao meu pai, ele tem muitos problemas com o álcool, a Lottie é a única que tem lembranças do meu pai antes de ele ser alcoólico. Desde que me lembro, desde pequeno, as lembranças mais marcantes que tenho do meu pai, é vê-lo chegar a casa, todas as noites, noite após noite, completamente bêbedo, enervado, e a única coisa que sabia fazer era descarregar em nós. – Zayn começa a desabafar, enquanto se sentava na cama novamente, e encostava-se à parede atrás de si.- É claro que quando ele não bebia era o melhor pai que eu podia pedir, ainda me consigo lembrar quando ele brincava comigo e com a minha irmã, quando nos levava ao parque aqui perto de casa e passava horas connosco aos domingos à tarde a fazer-nos rir, mas infelizmente esses momentos eram muitos raros. Ele passava mais tempo a bater-nos ou a gritar connosco do que a fazer-nos felizes. Desde pequeno eu sabia que após o jantar ele podia aparecer, a qualquer momento, entrar por aquela porta, completamente bêbedo, sem saber sequer o que estava a fazer. Sempre que ele chegava à noite, após um dia inteiro no café a beber com os amigos, enquanto a minha mãe esforçava-se para nos sustentar, tudo o que ele sabia fazer era exigir o dinheiro que a minha mãe ganhava para comprar o seu álcool. Passei toda a minha infância a vê-lo levantar a mão sobre a minha mãe, a espancá-la até não puder mais, e no fim, quando estávamos a dormir, obrigava-a a ir para a cama com ela. A minha mãe nem ousava dizer não porque sabia que se o fizesse seria ainda pior, e no dia seguinte, quando estava sóbrio de novo, ele pedia desculpa por tudo o que fez, como se isso fosse mudar alguma coisa. Era um ciclo vicioso, que se repetia e voltava a repetir, e nunca parava. Todos esses anos eu observava a minha irmã a tentar pará-lo, mas quando era assim ela também levava. Eu assim que comecei a perceber o que se passava tentei impedi-lo, todas as noites, mas eu ainda era uma criança, não tinha força nenhuma para lhe fazer frente. Ainda me lembro quando ia para a escola com a minha irmã e os nossos amigos perguntavam-nos sempre porque tínhamos tantas marcas roxas no corpo, ou quando as vizinhas perguntavam à minha mãe se estava tudo bem, ao vê-la cheia de feridas no rosto, e ela apenas sorria e mostrava como estava feliz com o seu casamento, o que era completamente falso. – Ouvia-o falar, ele parecia tão calmo a falar sobre isto, o seu rosto permanecia sem emoção, enquanto eu segurava nas suas mãos, entrelaçando os nossos dedos, não conseguia acreditar no que estava a ouvir, era surreal. – Foi por isso que comecei as lutas, desde muito novo que estava nesse mundo, tudo para um dia conseguir enfrentar o meu pai, e libertar a minha mãe e a minha irmã de todo este inferno em que viviam. E esse dia chegou. Tinha 16 anos na altura, e ainda me lembro perfeitamente de toda a raiva que senti naquele dia. Eu sabia que ele iria chegar a casa a qualquer momento, então fiquei à sua espera, enquanto a minha mãe e a Lottie ficaram escondidas na cozinha. Assim que ele entrou por aquela porta eu pude vingar-me de todos aqueles anos de sofrimento que ele nos fez passar. Dei-lhe tanta porrada que ele chegou a ficar inconsciente, depois disso só chamamos a ambulância e fiz queixa na polícia, contei tudo o que se tinha passado durante estes anos, e felizmente ele foi preso, e pagou pelos seus atos. Mas agora está de volta, após 4 anos, ele voltou, mas eu não vou deixar que ele destrua a nossa vida uma segunda vez.

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⏰ Última atualização: Nov 05, 2017 ⏰

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