Digimon - The Dark Side (1ª Temporada)

Episódio II - Esperança

Yukine

Se voltando mais uma vez para o espelho, ela viu algo que não era comum, sob a luz de emergência do elevador que havia sido ligada ao apertar o botão, iluminando de forma fraca e pouco eficiente o local, ela olhou seu rosto, um brilho anormal vinha do próprio espelho se projetando para ela. Ela encostou novamente a testa no espelho, a superfície estava fria, ela pode enxergar algo sobre o vidro, como o reflexos de outro par de olhos além do dela, o brilho voltou a ser emitido, e então ela deslizou para dentro do espelho, como se mergulhasse a cabeça num lago de águas cristalinas, se sentiu sufocando, parecia que sua alma estava sendo separada de seu corpo, ela não conseguia respirar, o medo a paralisava.

Era como se estivesse se afogando, mas se afogando em que? No espelho? A sensação de sufocamento, de agonia, de estar fora de si, ela conhecia muito bem, se encontrava muitas vezes com aquele misto de sensações, era familiar, extremamente familiar, era como se ela se visse novamente usando tóxicos, abusando de analgésicos, de antidepressivos ou até mesmo se automutilando. Ela deslizava na direção da escuridão muito lentamente, não ia conseguir chegar ao outro lado antes de sufocar completamente e morer, morer atravessada num espelho sobrenatural, era patético, a morte mais patética possível.

Quando seus ombros já haviam atravessado o espelho algo a empurrou e agora ela estava totalmente do outro lado. O sufocamento desaparecera, mas ela respirava um ar pesado e empoeirado, como o ar de um sótão abafado e cheio de mofo. O espelho ainda estava atrás dela, ela forçava atravessar novamente para o outro lado, mais nada acontecia, tentava voltar mais se machucava se espremendo contra o vidro.

Se voltando para a escuridão passou a ver pequenas luzes, olhos, olhos vermelhos e brilhantes, eles a observavam com intimidade, como se olhassem através dela, como se enxergassem o que ela havia tentado encobrir com suas muitas camadas de mentiras e atuação. Ela soltou um grito, que morreu mudo e fino na sua garganta, como se ela mesmo o engolisse. Os olhos vermelhos na escuridão se multiplicavam como baratas, aprecendo mais e mais, ela caiu de joelhos sobre o chão escuro, cada par de olhos maléfico e de olhar penetrante sugava parte de sua alma.

— PAREM DE ME OLHAR!! - gritou, com os olhos cheios de lágrimas - por favor! Parem de me olhar, eu imploro!

Ela caiu num choro silencioso e doloroso, as lágrimas escorriam pelo rosto e pingavam de uma fina cascata apartir do queixo fino de Yukine, ela sentia os olhos aumentando, se multiplicando, a olhando com certo deboche, com olhar desdenhoso, julgando a fraca e real Yukine.
Ela nunca provara de tal dor, nunca provara de tal sofrimento, era como estar num reality show, o show de erros e fraqueza de Yukine, lixo! Se sentia um lixo, estava sendo ferrozmente julgada pelo olhar infinitamente destrutivo dos demônios de olhos vermelhos

Risadas sonoras, pesadas, debochavam dela, enquanto ela se contorcia e se dobrava sobre o próprio corpo, eles riam, riam fartamente dela, com suas muitas vozes grossas e outras esganiçadas, quem eram eles? Porque faziam aquilo, de onde tinham saído? Quando iriam sumir?

— PAREM!! PAREM!! PAREM!! - Yukine gritava enquanto batia seus punhos contra o espelho que a trouxera até alí — PAREM!! Eu IMPLORO!! Parem...

O espelho foi trincando até finalmente explodir em pequenos cristais brilhantes, sumindo no ar. Yukine caiu novamente de joelhos, se calou, mas as risadas só aumentavam, se tornando mais sonoras, pareciam ressoar dentro de Yukine. Uma dor a invadiu, uma dor intensamente forte, a possuindo a fazendo flutuar, literalmente flutuar, a puxando pelos estômago e a fazendo vomitar um líquido preto e grosso. Ela se ergueu do chão, ou melhor, foi erguida, dois metros, três, seriam cinco? Talvez seis? Ela não sabia.