CAPÍTULO 2: REGINA

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         Regina levou um copo de água até o quarto da mãe, onde a mesma estava deitada, coberta até os ombros por um grosso edredom. Na poltrona ao lado, jazia Erick em silêncio.

A filha mais velha pousou a mão sobre a cabeça da mãe, sentindo sua temperatura. Elizabeth suava furiosamente, e seus lábios nunca estiveram tão pálidos como naquele momento. Ela bebeu um pouco de água e mergulhou novamente a cabeça no travesseiro. Seu ombro estava com um curativo manchado, e sua respiração permanecia ofegante.

– Como aconteceu? – Regina perguntou, quebrando o silêncio. – A sra. Bernadete lhe atacou? O que ela fez, exatamente?

Elizabeth engoliu em seco, aparentemente com dificuldade em falar, abriu os olhos e mirou-os nos dois filhos.

– Quando cheguei ao apartamento, a encontrei irreconhecível – disse Elizabeth. – Estava tremendo, suava muito e murmurava umas coisas incoerentes... então foi quando tudo aconteceu... nunca a vi tão agressiva. Ela simplesmente avançou contra mim e me mordeu...

– Conseguiu ligar para o Dr. Armando, Erick? – indagou Regina enquanto ajeitava o edredom sobre a mãe. – Precisamos que ele venha logo.

– O telefone continua ocupado – respondeu o caçula. – Quer que eu vá até o consultório?

– Claro que não – vociferou a irmã. – Deixa que eu mesma faço isso. Pode cuidar da mamãe, não é mesmo?

Erick assentiu.

Regina acessou seu Facebook através do celular ao deixar o apartamento e horrorizou-se com o que viu: dezenas de postagens alertavam sobre ataques repentinos e ferozes de animais. Uma amiga de infância adicionou uma foto onde seu cão enlouquecido tentava lhe atacar, lutando para escapar da corrente que lhe prendia pelo pescoço. Outra postagem um homem filmara meia dúzia de morcegos sobrevoando um grupo de comerciantes em um centro comercial da Bahia.

– Puta que pariu... – sussurrou Regina, assustada.

Andando pela rua, ela imediatamente percebeu que o caos aos poucos se generalizava. Prédios de janelas trancadas, comércios fechavam suas portas à luz do dia, avenidas se esvaziavam rapidamente. Quando chegou ao consultório do Dr. Armando, uma clínica ao fim da rua, ao lado de uma lanchonete, deu de cara com as portas fechadas.

– Ele não está aqui, deu no pé. Foi o que me disseram... – oscilou uma voz.

Regina, assustada, se virou. Um homem de capuz, encostado em um poste, tremia e suava desvairadamente.

– Onde ele foi? – Regina quis saber.

O homem deu de ombros, aparentemente se controlando para não tombar ao chão. Regina se aproximou, segurando-o pelo braço antes que ele caísse de vez.

– Ei, cara, você está horrível. Por que não vai para casa?

– Minha família... – sibilou o indivíduo. – Estão todos malucos. Meu cunhado, aquele filho da puta, me atacou.

O homem ergueu a manga do casaco, expondo uma mordida monstruosa no pulso. Regina treinava pesado no exército, mas não aguentou o peso do homem quando ele tombou.

Uma ambulância passou em alta velocidade, contornando a esquina e ignorando o homem caído. Regina tentou levantá-lo novamente, mas em vão. Quando estava quase desistindo, ele começou a se contorcer, seu maxilar travou, e os dentes ficaram expostos, rangendo uns nos outros. Regina recuou ao vê-lo se levantar. As mãos deles tremiam, seu casaco estava molhado de tanta saliva ensanguentada que manava pelo seu queixo.

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