CAPÍTULO 15: O SANTUÁRIO

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         Erick estava em uma sala pequena, com uma porta de metal logo à frente e uma mesa ao lado de uma janela de vidro. Victor havia sido separado dele logo assim que chegaram naquele lugar, e desde então fora interrogado por um homem careca nem um pouco amistoso. O nariz sujo de sangue não deixava dúvidas: Victor e ele haviam se metido em uma enrascada. Mas as coisas não se encaixavam. Por que ele e Victor não foram levados para o governo? Por que tudo aquilo parecia perigoso e tão misterioso?

– Onde nós nos metemos...? – pensou Erick, sentado na cadeira.

Ele olhou por cima do ombro para seu lado direito, mirando uma câmera que o observava em silêncio.

– Vocês vão me deixar aqui até quando?

Como se fosse uma resposta, todas as luzes se apagaram repentinamente, e um bipe na porta o fez se virar. Tudo ficou escuro e mais silencioso.

– Mas que porra...?

Ele se aproximou da porta, e, para sua surpresa, a mesma estava destrancada. Mais à frente, Erick deteve-se em um longo corredor escuro. Antes de sair, voltou até a sala, pegou a cadeira e lançou contra a janela de vidro. Um som agudo ecoou até o corredor. A janela não se quebrou completamente, mas alguns cacos de vidro rolaram pelo chão.

– Talvez eu precise disso – pensou Erick enquanto rasgava uma lasca da blusa e enrolava em um caco de vidro. – Não há outro jeito, não é?

Em silêncio, o garoto foi andando pelo corredor, preocupando-se em não encontrar ninguém pelo caminho. Nos cantos das paredes, as câmeras jaziam cegas, inúteis como simples objetos de adorno.

– Que porra está acontecendo? – uma voz perguntou, e Erick parou antes de virar em outro corredor.

Um homem conversava com alguém através de um rádio, parecia apreensivo e preocupado. Empunhava uma arma com silenciador. De maneira mais furtiva possível, Erick se aproximou, puxou o homem e lhe cortou o pescoço com o caco de vidro. Um grunhido molhado e agonizante saiu antes do indivíduo tombar ao chão, completamente ensanguentado.

– Desculpe, era eu ou você – Erick sussurrou, seguindo adiante.

Ele continuou andando, passando por corredores vazios e portas trancadas. Deteve-se à frente de uma porta que abria e fechava horizontalmente.

– Victor!

Na sala, seu amigo estava deitado em uma cama com diversos fios presos em sua cabeça. Erick se aproximou, sacudiu Victor por alguns segundos até o mesmo abrir os olhos.

– Que porra é essa que estou usando? – Victor perguntou, observando o teto sem entender o que acontecia.

– Vamos, levanta!

– Ei, moleque!

Uma voz fez os garotos pularem para trás de um balcão antes dos tiros lhe acertarem. Um homem não hesitou em atacar. Victor, ainda completamente atordoado, encolheu-se ao lado do amigo, tentando se lembrar de tudo.

– Venha, por aqui, acho que sei como escapar!

Agachados, a dupla engatinhou até o outro lado da sala, usando tudo que encontravam pelo caminho como escudo contra as balas.

– Apareça, eu te desafio! – provocou o indivíduo.

Ainda se protegendo, Erick localizou uma saída de emergência, porém, antes que pudesse agir, um vulto irrompeu repentinamente para cima do homem que continuava atirando, agarrando-o pelo pescoço.

– AAAAAAAH!

Erick e Victor observaram abismados: três assombrosos cães devoravam o inimigo com uma violência terrível, arrancando grandes lascas de carne, lavando o chão de sangue.

– Da onde surgiram essas coisas...? – Erick se perguntou.

Um dos cães percebeu os garotos e avançou.

– Vamos!

Erick puxou Victor pela mão e correu para as escadas de emergência, tendo no encalço a matilha furiosa. Entraram no terceiro andar enquanto ouviam gritos e tiros por todos os lados. Ali, mais um longo corredor escuro exibia-se para os rapazes, mas não tiveram tempo de pensar para onde ir, o grupo de cães surgiu e voltou a persegui-los.

– Que vamos fazer? Eles nunca cansam! – arquejou Victor.

O irmão de Regina se virou com a arma que roubara e atirou, mas foi um fracasso. Não tinha o mesmo treinamento que a irmã, só havia usado perfeitamente uma arma de fogo no game Counter Striker. De repente, um homem surgiu à frente e atirou com sua arma, tiros certeiros que derrubaram os cachorros no mesmo instante.

O homem de cabelos curtos e castanhos arquejava, Erick e Victor, surpresos, pararam abruptamente.

– Leo!

– Vocês estão bem?

– Como chegou aqui? – Erick perguntou.

– Sua irmã localizou seu celular através do GPS.

– Então deu certo... – sorriu o garoto, vitorioso. – Onde ela está?

Erick olhou para os lados, não encontrando a irmã.

– Assim que ela conseguiu desabilitar a energia do lugar, nos separamos para procurá-los.

Erick, Victor e Leo seguiram pelo corredor. Não encontraram ninguém pelo caminho, mas isso não era um bom sinal. Ouviram tiros e gritos alguns minutos atrás, e aqueles cães infectados soltos pareciam ser um perigo prestes a voltar. Leo acendeu uma lanterna quando a escuridão tornou-se mais densa e impenetrável. À medida que se aproximavam do local combinado com Regina, um som arrastado e grunhidos ecoaram até o grupo. Leo empunhou a arma enquanto Erick iluminava com a lanterna o caminho.

E foi quando uma massa disforme largada ao chão se mexeu, tentando se aproximar entre gemidos agonizantes. Leo e os outros se aproximaram: um homem com o pescoço completamente dilacerado e sem um olho gemia sinistramente, mexendo a boca e tentando abocanhar o ar. 

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