CAPÍTULO 19: A RESISTÊNCIA

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         Sarah corria desesperada entre as árvores, fugindo de três selvagens que vinham em seu encalço, como animais furiosos. Completamente desnorteada, a médica tropeçou em um galho, rolando entre folhas secas. Um homem de terno tentou lhe morder, mas um tiro certeiro lhe explodiu a cabeça. O rosto de Sarah sujou-se de sangue, e ela pôde sentir o peso do corpo morto sobre seu colo.

– Vem, eu te ajudo – Regina levou a mão até a médica, ajudando-a se levantar. Ao seu lado estava Leo, que terminava de derrubar os outros infectados.

O grupo havia se separado logo após o ataque de criminosos e um grande grupo de infectados surgir repentinamente. Regina e Leo estavam buscando o restante do grupo antes que anoitecesse, mas a situação só piorava. A noite chegou como um sinal de ameaça, e juntamente com a escuridão, um frio sombrio pesou sobre o tempo. Regina, Leo e Sarah encontraram uma cabana abandonada. Por sorte, estava vazia, tendo somente móveis revirados e poeira.

– Quem eram aqueles homens? – Sarah perguntou para Leo quando finalmente puderam se acalmar. O ex militar achava-se de sentinela, resguardando a cabana.

– Provavelmente bandidos, ou saqueadores.

– Você acha que os outros estão bem?

Regina parecia muito inquieta, olhava o céu inúmeras vezes, aguardando ansiosamente o dia chegar.

– Eles sabem se virar – Leo respondeu.

Regina e os outros seguiram adiante quando o sol deu as caras. Não haviam infectados pelo caminho, e tampouco sinal de Erick e os outros. Passaram por um rio quando perceberam alguém ao chão, lutando para escapar de um infectado.

– Victor!

Regina cravou o punhal na cabeça do homem gordo e de cabelos ensebados, e Victor se levantou, limpando a poeira da roupa.

– Valeu!

– Pensei que estivesse com meu irmão... – intuiu Regina, frustrada.

– Não. Nos separamos logo que fomos atacado e tivemos que correr. Não vi mais ninguém desde então.

– Precisamos encontra-los...

Enquanto procuravam o restante do grupo, detiveram-se à frente de um enorme muro com um portão de ferro e cercas. Admirada, Regina observou em silêncio até um homem aparecer em uma torre de vigilância, mirando sua arma para o grupo.

– Quem são vocês? – um barbudo de boné perguntou.

Todos levantaram as mãos, cautelosos. Sarah explicou, tomando à frente. Por fim, conseguiram entrar. Todos se surpreenderam ao encontrar dezenas de pessoas transitando em um terreno enorme. Mulheres carregando cestas com frutas e legumes, homens armados e outros cuidando de cavalos e bois.

– Eu sabia que você conseguiria, Sarah! – exclamou um homem robusto que se aproximava com um sorriso aberto.

– Wagner!

Eles dois se abraçaram, e alguns olhares alheios chegaram até os recém-chegados.

– Então você veio com amigos, né? – Wagner cumprimentou Regina e todos os outros, ainda mantendo toda simpatia. – É sempre bom termos novos sobreviventes, mas as coisas estão complicadas. Por isso coloquei Roberto de resguardo na torre, alguns dias atrás alguns saqueadores filhos da puta tentaram invadir!

– Há notícias do mundo lá fora? – Leo perguntou, e o sorriso de Wagner sumiu.

– Infelizmente não, ainda não conseguimos recuperar a internet – respondeu o amigo de Sarah. – Claro, temos energia elétrica. Os caras daqui são bons, devo admitir. Pelo menos agora temos água quente!

– Ainda há alguns dos nossos lá fora – interrompeu Regina. – Preciso voltar para procurá-los.

O lugar era realmente grande, localizado bem ao meio de uma reserva florestal, parecia ter sido uma antiga fábrica recentemente desativada. Assim como as duas torres de vigilância, as cercas pareciam também ter sido improvisadas com pedaços de madeira e telhas. Aos fundos, um lago jazia quieto, indiferente a todo o caos que se generalizava pela cidade.

Regina e Leo, após receberem mais munição, partiram em busca do restante do grupo. Mesmo contra a vontade, Victor ficou na antiga fábrica, tratando alguns ferimentos que arrumou enquanto fugia pelas florestas. Regina e Leo voltaram após o anoitecer, quando chegou a madrugada. Não traziam boas notícias: Erick e os outros não haviam sido encontrados.

         Regina e Victor observavam da torre de vigilância árvores farfalharem com a ventania. O garoto fumava um cigarro, e não sabia o que dizer para tentar tranquilizar a moça. Erick havia morrido? Teria sido atacado por infectados? Em seu íntimo, um pouco de culpa lhe consumia.

– Você não tem culpa de nada – sussurrou Regina, Victor se assustou. – Eu sei que ele está bem, ele sabe se virar. Logo irá nos encontrar.

– Chamam esse lugar de Resistência. Animador, não acha? – Victor falou após jogar o resto do cigarro para longe, além muro.

– Você contou pra mais alguém sobre sua condição? – Regina quis saber.

Victor levantou a calça, observou a ferida feita por um arranhão já cicatrizada no tornozelo. Suspirou e voltou a observar a paisagem da madrugada.

– Acha que eles vão acreditar?

– Pode ser que sim, que alternativa eles têm?

– Vamos primeiro nos preocupar em achar o Erick, e depois resolvemos o resto.

Regina não dormiu, e tampouco Victor. Ficaram na torre até o dia seguinte, aguardando o momento exato em que deixariam a Resistência atrás de Erick e os outros.

– Vocês não dormiram? – Leo perguntou. – Caramba, precisam descansar.

Antes que Regina pudesse retrucar, algo no portão principal chamou a atenção de Victor.

Todos olharam em sincronia, e Regina esboçou um sorriso satisfeito. Erick jazia defronte para o portão de ferro, havia um corte profundo próximo do olho esquerdo, e suas roupas estavam rasgadas e sujas.

– ABRAM OS PORTÕES! – gritou Regina.

– Não se aproxime, por favor – sussurrou Erick, aparentemente fraco e cansado    

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