CAPÍTULO 6: O SEGREDO DE VICTOR

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         À medida que os dias se passaram, o estado de saúde de Regina melhorou consideravelmente, apesar de ainda necessitar de cuidados que somente aquele hospital podia lhe oferecer. Erick não deixava a poltrona ao lado da cama, observando a irmã durante as noites chuvosas. Gustavo imediatamente tomou à frente da situação no mesmo dia em que chegou. Em uma tarde especialmente agitada, o militar arrumou uma briga feia com Jonas, irmão de Tina. Na verdade, o clima não era um dos melhores, e, embora muitos agradecessem a Deus por ter um homem daquele tamanho ali para proteger, outros questionavam sobre o exército. Onde estariam? Que diabos estavam fazendo para ajudar? Gustavo não sabia o que responder.

Dra. Sarah, uma médica muito prestigiada que aparentemente liderava o grupo do hospital, cuidava de Regina quando Erick e Victor entraram no quarto.

– Como ela está? – Erick perguntou.

– Melhor – respondeu Sarah enquanto ajeitava seus óculos.

Sarah Rodrigues era uma linda mulher negra, seus cabelos cacheados e castanhos emolduravam harmoniosamente seu rosto. Ainda no quarto, a médica examinou a menina miúda na cama ao lado, sentindo sua pulsação atenciosamente.

– O que ela tem? – Victor perguntou ao se aproximar.

– Ela vai ficar bem – respondeu Sarah.

Em seguida, a mulher deixou o quarto em silêncio. Erick e Victor se entreolharam. Logo depois, os amigos se aproximaram da janela e observaram o anoitecer.

À frente do enorme hospital, um edifício aparentemente abandonado jazia erguido, perfurando as nuvens tempestuosas. Victor suspirou, admirando a esmo um cão cutucando um amontoado de lixos. Ele cruzou os braços e se perdeu por um momento em tempos atrás, quando toda sua família estava feliz. Pegou seu celular, entrou no Whatsapp e leu a última conversa com a mãe...

– Ainda deve doer muito, não é? – Erick lamentou, o amigo assentiu.

Sua mãe lhe pediu para lavar a louça na mensagem, e Victor nem sequer respondeu. Se ele soubesse que aquela mensagem era a última, teria lavado até as panelas... navegando pelo aparelho, encontrou uma foto do irmãozinho; um menino moreno, de olhos expressivos e com o mesmo sorriso que o seu.

– E se eles ainda estiverem vivos?

Erick, que observava o cão mastigando um saco plástico com restos de carne, se virou para o melhor amigo.

– Você quer dizer...

– E se eles estiverem vivos? Se estiverem sem controle do próprio corpo?

– Bom questionamento, Victor – uma voz disse logo atrás. – Não devemos descartar essa possibilidade, é claro.

Sarah havia retornado ao quarto, trazia em uma mão uma caixa de algodão e alguns remédios para infecção.

– Mas...

Erick e Victor se entreolharam.

– Sei mais ou menos o que está acontecendo, expliquei para o noivo da sua irmã.

– Bom, agora nos explique! – Erick exigiu.

Sarah se aproximou da menina e começou a limpar alguma ferida em seu ombro.

– Isso que estamos presenciando é uma epidemia de raiva.

– É, eu já imaginava – respondeu Erick. – Mas o que aconteceu com a vacinação? Não há campanhas e coisas do tipo?

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