CAPÍTULO 10: SOBREVIVENTES

16 3 0
                                    

         Erick abriu os olhos, e sua cabeça doeu. Uma luz branca perfurava a escuridão veludosa do quarto silencioso por uma porta entreaberta. Ele olhou para o lado, encontrando um pequeno aparelho que checava seus batimentos cardíacos. O quarto era pequeno, e somente sua cama jazia por ali além de alguns aparelhos complexos a sua volta. Ele piscou os olhos, coçou a cabeça e sentiu uma cicatriz próximo a sua orelha. Que aconteceu? Erick não conseguia se lembrar.

Em sua cabeça, somente cenas de um passado confuso entre borrões e estouros faziam-se presente. Ainda levemente atordoado, levantou-se da cama, sentindo o chão de azulejo gelado. Esteve sonhando durante todo o tempo? Onde estava Regina? E seu melhor amigo, Victor?

Seguiu para fora do quarto após retirar do peito nu alguns fios colados, encontrando um longo e estreito corredor. O silêncio ecoava pelo caminho, e não havia sinal de alguém por perto. Ao passar por uma janela, observou o que havia ao lado de fora. Aparentemente, o anoitecer havia acabado de chegar, e chovia um pouco no lugar ladeado por dezenas de árvores em que se encontrava.

Percebeu que não estava sozinho quando se deparou com um homem sentado à frente de uma mesa analisando alguns papéis. O indivíduo de cabelos pretos e lisos levantou os olhos.

– Meu Deus – exclamou o homem de óculos. – Isso que é uma surpresa agradável!

Erick olhou-o, confuso. O homem se aproximou.

– Obviamente que não me conhece – ele disse. – Sou Augusto, auxiliei Dra. Sarah na cirurgia.

– Cirurgia...? – Erick indagou, ainda mais confuso.

– É, bom... – o homem ajeitou seus óculos de hastes grossas e pensou. – Vem, vou leva-lo até sua irmã, talvez seja melhor assim.

Regina estava em uma sala ampla e mal iluminada, com algumas mesas e cadeiras, sozinha, bebendo distraidamente saquê em um copo de vidro. Ela usava um boné verde, e parecia completamente absorta em seus pensamentos. Quando virou-se, seus olhos, que antes jaziam longínquos e deprimidos, encheram-se de entusiasmo.

– Erick!

Ela se levantou e correu para o irmão, segurando-o pelos ombros e sorrindo. Regina parecia mais magra e pálida, mas continuava linda como sempre, conservando a semelhança com a falecida mãe. Erick retribuiu o sorriso, mas continuava sem entender.

– Que aconteceu?

– Você não se lembra de nada? – Regina indagou, trocando olhares com Augusto.

Erick negou com a cabeça.

– Lhe acertaram um tiro na cabeça.

Um som de tiro ecoou nos ouvidos de Erick, e vagamente as lembranças lhe traziam novas cenas do passado. Jonas tentou matar sua irmã, e ele entrou na frente...

– Você entrou na frente de um tiro que era pra ter me atingido – prosseguiu a irmã. – Nos vimos cercados por selvagens, e tudo parecia perdido...

– Selvagens? – Erick questionou, Regina assentiu.

– Assim são chamados os infectados pelo vírus.

– Mas... como?

Regina suspirou, lembrando-se aos poucos da noite em que seu irmão havia sido baleado.

– Conseguimos escapar para o segundo andar, mas continuávamos cercados. Insisti para Sarah lhe operar, mas não havia instrumentos que pudessem auxiliá-la na cirurgia que iria tirar a bala da sua cabeça. Foi então que o grupo do Augusto apareceu... – Regina sorriu para o rapaz de cabelos pretos e óculos ao lado de Erick.

SelvagensOnde histórias criam vida. Descubra agora