CAPÍTULO 13: PERSEGUIÇÃO

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         Erick colocou a touca vermelha na mochila e seguiu para fora do apartamento. Regina apareceu na soleira da porta, fazendo-o olhar por cima do ombro.

– Tem certeza que não precisa de mim? – Regina perguntou.

– Eu sei onde Victor está, é melhor eu ir sozinho.

Regina assentiu, insegura. Erick pegou o ônibus alguns minutos depois, quando a lua surgia timidamente entre algumas nuvens. Duas ou três vezes ele passou por postos onde grandes cartazes diziam com urgência "Centro de Vacinação Obrigatória".

Viu-se tomado por questionamentos enquanto observava o mar sob a ponte que passava.

Leo, amigo militar de Regina, entrara em contato algumas horas atrás dizendo que Victor havia sumido, e que ele precisava ser encontrado o quanto antes. O que havia acontecido? Por que seu melhor amigo estava sendo procurado?

Erick desceu do ônibus, encontrando um lugar movimentado e barulhento. O bairro da Lapa era conhecido como um ponto de encontro para jovens que queriam beber e se divertir.

À beira das ruas, dezenas de bares boêmios ofereciam diversão e bebidas com diferentes preços e sabores. Não demorou muito até o rapaz encontrar, ao longe, um jovem moreno e magro fumando um cigarro em um boteco na esquina. Erick se aproximou em silêncio, e Victor lhe observou de esguelha após beber um pouco de sua cerveja.

– Sabia que iria lhe encontrar por aqui – Erick sorriu.

– Devo me surpreender? – respondeu Victor.

Erick se sentou em uma cadeira, pedindo logo depois uma caneca de cerveja. Victor não disse nada, apenas jogou um pouco de fumaça para o ar e voltou-se para a bebida alcóolica.

– Que aconteceu? – Erick indagou.

– Não te disseram? – Victor olhou o amigo, amargurado.

O irmão de Regina, perplexo, negou com a cabeça.

– Eles queriam me matar.

– Matar? – Erick se assustou enquanto o garçom colocava sua cerveja na mesa.

Victor deu de ombros, fumando o resto do cigarro e jogando-o no chão, ao lado de um bueiro.

– Você não entenderia...

– Como pode me dizer isso se nem me explicou o que está acontecendo?

Um pouco aborrecido, Victor levantou a calça jeans e expos um arranhão no tornozelo, que aparentemente estava se recuperando de uma inflamação e se cicatrizando.

– Espere... você foi...

Victor assentiu.

– Você foi infectado?

– Sim – respondeu Victor. – E eles descobriram.

– Quando isso aconteceu? – Erick perguntou, ainda surpreso.

– Umas duas ou três semanas antes de você sair do coma – respondeu o amigo enquanto acendia outro cigarro. – Eu e Samuel fomos buscar suprimentos em uma cabana. Uns cinco ou seis selvagens filhos da puta nos cercaram, e...

– Espere – interrompeu o irmão de Regina. – Isso tem meses!

Victor assentiu.

– Como isso é possível?

– Eu também não sei.

– Você é imune! – exclamou Erick, tentando sussurrar para não chamar a atenção, embora fosse pouco possível com a altura da música do boteco. – Cara, você não se transformou!

– Eles não se importam com isso – Victor retrucou. – Quando souberam da minha condição, disseram que eu precisava ser levado para o Santuário. Porém, alguém disse que o certo a se fazer era... me eliminar.

– Santuário?

Victor deu de ombros novamente.

– Você está sendo um idiota! – Erick xingou repentinamente, e pela primeira vez Victor parecia interessado na conversa. – Olhe quanta irresponsabilidade!

– Caralho, eles iam me matar!

– E por isso você decide fugir e correr o risco de infectar a cidade inteira?

– Erick, eu não vou infectar ninguém! Se fosse para eu me transformar em uma daquelas merdas, já teria acontecido, não acha?

Erick suspirou, calou-se por alguns segundos quando o garçom se aproximou. Mais duas cervejas foram postas sobre a mesa.

– Quem disse que você deveria ser eliminado?

Victor negou com a cabeça, não havia visto o rosto da pessoa. Entrementes, um carro completamente preto virou a esquina e parou suavemente, desligando o motor em seguida. Dois homens saíram do veículo. Desconfiado, Erick olhou-os em silêncio. Victor fez o mesmo.

Um dos homens se aproximou, um sujeito careca, de feições brutas e ombros largos.

– Preciso que você me acompanhe – disse o indivíduo, olhando para Victor.

Antes que pudesse reagir, Erick tomou a iniciativa. Jogou a cerveja no rosto do sujeito, levantando-se em seguida e correndo junto do amigo. A dupla virou outra esquina, enfiando-se em uma ruela escura e fétida. Erick foi tomado pelo desespero quando percebeu um dos indivíduos sacando uma arma da cintura e disparando dois tiros, um deles atingiu um poste, explodindo-o. Victor esbarrou em um lixão e quase caiu, três ratos correram para um bueiro, Erick se encolheu quando outro tiro ecoou pelo ar.

– O QUE ESSES CARAS QUEREM, AFINAL, PORRA? – Victor gritou quando outro tiro passou raspando ao seu lado.

Erick e Victor passaram por um grupo de prostitutas e ainda tiveram tempo de ouvir "ei, gostosões" antes de escaparem de mais um tiro. A rua principal iluminava o beco e dava esperanças para os amigos quando o carro preto ressurgiu à frente, encurralando-os.

– Não tentem fugir, fiquem aonde estão – sussurrou o homem careca, empunhando a arma e olhando-os com satisfação.

– Deixe-o em paz, não é ele que vocês querem – Victor falou, referindo-se ao amigo.

– Não, ele vai conosco – o outro sujeito disse ao deixar o veículo. – Ele viu mais do que devia. Ele vem, ou morre. Que você prefere?

Erick e Victor se entreolharam, apreensivos. 

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