Algumas horas se passaram, e elas seriam perfeitas horas de sono se não fossem interrompidas por um estranho e estrídulo barulho vindo dos portões da frente. John despertou, e alguns instantes prestando atenção bastaram para que ele chegasse à conclusão de que algo não estava certo.
Katy repousava serena sustentando uma respiração profunda e despreocupada, aparentemente em um dos estágios mais altos do sono.
Cuidadosamente ele se esgueirou para fora da cama e se dirigiu até a sacada do quarto. As luzes baixas deixavam sua visão turva e era difícil avistar qualquer coisa em meio ao seu ridiculamente grande quintal. Cinco minutos se passaram e o barulho de pés se chocando contra o cascalho era cada vez mais evidente, ainda sonolento e estreitando os olhos, ele pode avistar uma figura masculina com uma câmera razoavelmente grande marchando confusa em direção a casa. Rápida e silenciosamente ele alcançou o primeiro telefone que avistou, mas o objeto tornou-se extremamente inútil quando depois de longas tentativas falhas de ligações para a policia local, ele percebia que a casa sofrera um súbito corte de energia. Era difícil vê-lo perdendo a cabeça por algo, e por mais aterrorizante que fosse imaginar um desconhecido rondando a propriedade, tentou ponderar a situação com calma.
Em meio á sua bagunça organizada mais conhecida como closet, ele o revirou e removeu alguns pertences até finalmente achar algo que supostamente iria ajudá-lo.
Um taco de baseball.
Estava claro que esta era uma ideia estúpida vinda de sua mente ainda afetada pelo sono, mas ele não havia se tocado disto até avistar Katy o encarando confusa e três vezes mais sonolenta.
– O que é isto? – indagou, sem saber ao certo o que precisamente deveria perguntar para obter uma resposta no mínimo coerente.
– Um taco de baseball. – John respondeu naturalmente e logo após analisando o quão estranho aquilo soava naquele momento.
– E o que você pretende fazer com ele?
– Bem... Não é nada demais, você deveria voltar a dormir.
– Você revirou o seu armário no meio da noite á procura de um taco de baseball, eu não classificaria isto exatamente como nada demais. – disse e abraçando os próprios joelhos como se esperasse por uma explicação.
– Você tem que me prometer que não vai se levantar se eu disser.
– Tudo bem.
Era óbvio que ela não obedeceria.
– Ouvi algum barulho na parte de fora da casa há poucos minutos e avistei um homem vagando com uma câmera por lá. Houve um corte de energia e eu não consegui ligar para a policia ou algo do tipo. – falou em um tom calmo e centrado.
– Huh... E você considerou atacar o paparazzi com um taco de baseball? – questionou Katy erguendo o cenho.
– Não, mas foi a primeira coisa intimidadora o suficiente que achei.
– Ok super-homem acho melhor você largar isto, claramente metade de seu cérebro ficou em New York quando sua mudança veio para cá.
– Mas...
– Escute – ela o interrompeu e levantou-se – tranque a porta do quarto, e venha para cá. – rapidamente Katy empilhou alguns travesseiros e cobertas, e marchou até o closet.
John a obedeceu e logo se juntou a ela fechando a porta do closet atrás de si. Ela estava escorada em uma das paredes e encarava curiosamente alguma das fotos espalhadas pelo chão, em meio à pouca luz e a bagunça provocada por ele.
– Ok, por que exatamente nós estamos aqui? – perguntou enquanto se acomodava ao lado dela.
– Bem... Eu presumi que nenhum de nós dois, está preparado pra lidar com toda e qualquer consequência do que aconteceria se este cara nos fotografasse juntos. Estou errada?
– Não. – respondeu prontamente, analisando as mínimas consequências que envolveriam a situação, e nenhuma delas acabava bem.
– Eu gosto de você, mas apenas acho que...
– Não é a hora disto se espalhar, eu sei exatamente do que você está falando. – John completou. – E concordo.
Ambos se entreolharam e um silêncio estranhamente reconfortante se estabeleceu.
– Eu ainda não acredito que você teve a brilhante ideia de pegar um taco de baseball. – disse Katy se lembrando da cena estranha que presenciara. – Caipirão. – ela sussurrou.
Ele riu vislumbrando a bagunça no chão do lugar e em seguida beijou o topo da cabeça dela como ultimamente havia se habituado a fazer. No fundo, estava feliz por não ter que passar sozinho pela primeira invasão de paparazzis em sua casa após três longos anos.
– Quem é ela? – a morena perguntou, recolhendo uma das fotos em meio á algumas que haviam ficado espalhadas pelo chão e a admirou.
– Minha mãe. Em 1968.
– Ela era maravilhosa!
– Ela continua maravilhosa, um dia você vai vê-la pessoalmente e comprovar...
– Eu vou?
John corou involuntariamente, ao perceber que acabara de fazer planos para apresentar sua garota de uma relação indefinida para sua família.
– Este sou eu em meu baile de formatura, claramente tentando assassinar alguém com o poder do olhar. – ele disse recolhendo uma das fotos espalhadas, enquanto tentava quase que desesperadamente mudar de assunto.
– Wow, a fábrica de gel provavelmente faturou bastante neste dia. – zombou ela apontando para seu cabelo drasticamente penteado na foto.
– Provavelmente. – ele riu.
– Uhh, e estas? São de garotas? – agora ela apontava para uma pilha de cartas envoltas em um pequeno bolo.
– Algumas delas... Eu gosto de guardá-las, para mim elas são mais especiais e sinceras que a maioria dos meios de comunicação.
– Gosto de cartas. – ela afirmou – Admiro quando alguém separa tempo, e faz certo esforço para pensar no que dirá ao escrevê-las. Sem contar, que você pode descobrir muito de uma pessoa apenas analisando sua caligrafia.
– Devo te escrever uma?
– Sim! Provavelmente ela chegará mais rápido em Los Angeles que um e-mail enviado com a velocidade da internet daqui.
Los Angeles.
John havia se esquecido da pequena distância de mil duzentos e trinta milhas e dezenove horas entre eles. E era óbvio que eventualmente ela iria embora, esta fora a primeira vez que ele refletiu sobre o que fazer, dizer ou definir.
– Uma moeda pelos seus pensamentos? – Katy perguntou encarando a expressão absorta dele.
– Eu te perguntaria isto em um outro momento, mas já que aparentemente nós vamos passar algum tempo aqui... Acho que você sabe o que aconteceu comigo, e que isto interferiu em toda e qualquer atividade que envolvesse minha voz por um tempo. Mas eu estou praticamente livre disto, e pela primeira vez eu vou voltar aos palcos para um evento beneficente em prol da cidade. Não posso afirmar que será algo extremamente glamoroso, mas eu ficaria honrado se você aparecesse por lá.
Katy imediatamente sorriu, e sentiu-se extremamente feliz ao perceber que ele havia desenvolvido certa confiança e credibilidade em relação á ela. E aquele pedido se tornara duplamente especial, por ser algo vindo de um músico excepcional e alguém que ela estimava cada dia mais.
– Óbvio que sim. – respondeu ela, colando os lábios rápida e delicadamente nos dele.
John a puxou para mais perto de si e iniciou outro beijo, desta vez mais calmo e puramente cheio de ternura. Era como se os lábios dela fossem seu porto seguro, a cada milésimo que eles se afastavam ele tinha a certeza de que a maciez deles iria atingi-lo de novo. E de novo. E até que um dos dois perdesse o ar. Pela primeira vez em um bom tempo, ele não estava preocupado com a repercussão que seus sentimentos teriam, ele não precisava provar nada nem para ele mesmo e nem para ela. E aquilo era apenas o começo.
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Montana
FanfictionKaty realmente é o tipo de mulher que confia em seus instintos, e quase sempre tenta seguir o que eles lhe dizem para fazer. Mas nem sempre eles estão certos... Ou será que estão? Seria John Mayer algo que seus instintos enxotariam ou acolheriam?