Quase que em um transe provocado por sua insistente vontade de não pensar em absolutamente nada, e a grande quantidade de cafeína ingerida, ela dirigia sob as desguarnecidas rodovias de volta para casa. Se arrependeu de sua brilhante ideia nas primeiras sete horas contínuas, quando cruzava os limites entre Idaho e Oregon e se dava conta de que o trecho ainda consistia em menos da metade de seu itinerário.
O silencio fastidioso de sua jornada a enlouquecia, mas a única maneira de evitar pegar o primeiro desvio e regressar à maldita Bozeman, era fraudar seus pensamentos focando-se em qualquer outra coisa que não se relacionasse as quarenta e oito horas anteriores.
Não se permitiu ligar o rádio, pois algo no fundo de suas vísceras a alertava de que se uma das músicas dele casualmente fosse emitida nos falantes, ela muito provavelmente teria uma nada divertida excursão intestinal de suas últimas três refeições diretamente para o assoalho de seu carro.
A única coisa que ouvia nas intermináveis horas de viagem, era a própria respiração entrecortada e exausta, e casualmente o barulho dos carros que cruzavam seu caminho no asfalto cinzento.
As bolsas escuras que se formavam em suas pálpebras inferiores, ocultavam o brilho vívido de seus olhos azuis, e lhe davam um aspecto funesto e melancólico, quando combinados com sua maquiagem borrada.
A cada cinquenta milhas ultrapassadas e contadas mentalmente, seu desespero para chegar a seu destino aumentava, especialmente quando sentia o ardor em seus dedos aumentar e observava a vermelhidão de suas articulações perante a penosa forma com que segurava o volante.
Decidiu não parar para dormir em lugar algum, apenas se aquilo fosse extremamente necessário. Sabia que era uma missão suicida, mas considerava qualquer parada perigosa o suficiente para que cometesse algum deslize. E se orgulhava mentalmente de suas míseras seis horas de sono em meio a tudo.
Ela vagou, vagou, e vagou por horas com parte de seu sistema nervoso involuntariamente aéreo, até finalmente ter um relance de euforia quando avistou as placas dos limites entre Nevada e a ensolarada Califórnia.
E como lhe fez bem ler aquelas dez letras...
Sua última e praticamente forçada parada em um pequeno café que beirava a estrada se resumiu em um relampejo, quando comparada a sua insuportavelmente longa viagem.
Ninguém a reconheceu ou sequer notou sua presença quando seu corpo fustigou contra a porta do local e fez o pequeno sino oscilar de forma irritante.
O café forte e amargo irrompia sob sua garganta como uma flecha calorosa, a fazendo estremecer.
– Por favor... – ela chamou a garçonete sob o balcão, que prontamente se aproximou. – Há quantas milhas estamos de Los Angeles?
– Setenta e uma. – a moça rechonchuda respondeu, mascando um chiclete de menta insistente.
O número soou como uma doce melodia em seus ouvidos.
Setenta e uma milhas de distância da realidade e da paz que finalmente alcançaria.
Ou pelo menos era o que achava...
E em seu primeiro sorriso depois de dias, ela entregou a maior gorjeta que qualquer funcionário do estabelecimento jamais sonhara em receber, disparando para seu carro em seus raybans.
Por mais que o sol não estivesse a pico, e nem ao menos ousara se revelar naquele dia, o mormaço caloroso ainda assim permanecia insistente, afinal, não seria a Califórnia se no ponto alto do verão a temperatura não estivesse elevada.
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Montana
FanfictionKaty realmente é o tipo de mulher que confia em seus instintos, e quase sempre tenta seguir o que eles lhe dizem para fazer. Mas nem sempre eles estão certos... Ou será que estão? Seria John Mayer algo que seus instintos enxotariam ou acolheriam?