Charlie?

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Em menos da metade da última noite cem por cento não romântica e desastrosa entre os dois, ela já havia se dado conta do ridiculamente pueril jogo que John armara, mas decidiu não se zangar ou julgá-lo por sua atitude, afinal a grande causa de tudo aquilo era si própria. Estudou cuidadosamente o que deveria fazer em seguida, e por fim, chegou à conclusão de que pressioná-lo a tomar qualquer atitude estava fora da mesa de possibilidades.

Sentia-se terrivelmente culpada pela situação que os envolvera, e mentalmente desejou que não estivesse nas garras de um homem extremamente sagaz como ele, afim de que tudo se resolvesse com mais rapidez. Mas afinal, onde estaria a adrenalina na façanha de um novo relacionamento se as coisas fossem assim?

A opção restante era deixá-lo ter o tempo que quisesse para decidir qual seria o próximo passo, e o fato de não ter total (ou qualquer) controle sobre a situação a enlouquecia.

Continuava com sua mais recente rotina diária, que consistia em ignorar constantemente ligações e e-mails que envolvessem sua carreira, e passar horas assistindo programas que havia visto anteriormente milhares de vezes. Tinha de admitir, que por mais reconfortante que a ideia de ilimitadas horas de sono e silêncio soassem, sentia falta de movimento, ou de qualquer coisa que a tirasse do trajeto envolvendo seu quarto e a cozinha.

Já passava das dez da noite, e do décimo oitavo episódio de Ancient Aliens a ser exibido em sua televisão, quando o toque da campainha a fez se lembrar do convite feito horas atrás. Pouco depois de encarar o número dele em seu celular, na esperança de que sua incrível telepatia o fizesse ligar, Katy decidira que necessitava de alguém que estivesse a par de seu mais novo e confuso relacionamento. A duvida sobre quem seria o primeiro importunado constantemente com o assunto pairou sobre ela, afinal, nada era concreto o suficiente para um anúncio coletivo entre seu círculo de amizades. O primeiro nome que lhe veio à mente era o de sua melhor amiga de longa data, Shannon, mas pensou duas vezes ao lembrar-se do quão emocional e extremamente irritante se tornaria ao saber que ela guardava toda a situação em segredo por meses.

E então, o nome de Sophia pareceu imediatamente certo. Rivka era o tipo raro de pessoa que sabia o unir o útil ao agradável, simplesmente tendo o dom de ter o conselho certo para toda e qualquer situação, sem soar como um texto vindo diretamente vinda de um livro de autoajuda. E também, pelo fato de seu corpo grande e curvilíneo ser cem por cento adequado para abraços de conforto. Ela conhecia Katy com a palma de sua mão, e quando a morena a avistou adentrar o enorme quarto principal, com uma exageradamente grande sacola repleta de seus pratos favoritos, ela teve certeza de que fizera a escolha certa.

– Você já se olhou no espelho? – foi a primeira coisa que conseguiu proferir ao vê-la em uma camiseta xadrez, imersa em cobertas e pacotes sobre a cama.

– Você é quem deveria, babaca.

– É esta a minha recepção por ajudá-la a sustentar seus vícios? – respondeu, agora se sentando ao lado dela no emaranhado de embalagens – Isto aqui parece um chiqueiro.

– Cale a boca e me alimente! – riu, empurrando mais da metade do lixo sobre a cama para o chão, e agora se servindo com um de seus oleosos e preferidos burritos.

– E então... É aqui que você tem se escondido?

– Aparentemente. – disse de forma abafada, antes mesmo de engolir sua mordida anterior.

– E qual seria o motivo de seu chiqueiro particular?

– Nada demais... Uma mulher precisa de um chiqueiro ás vezes.

– Ninguém precisa de um chiqueiro ás vezes, a não ser claro que sejam porcas como você. – falou, consequentemente tomando um soco em seu braço – Mas sinto que você não me chamou aqui para ser sua entregadora particular de Taco Bell.

MontanaWhere stories live. Discover now