Belief (II)

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John a avistou sentada em um dos corredores, destroçando distraidamente um copo plástico. Seu coração acelerou de forma estranha, era como se ele tentasse bombear muito mais sangue que o habitual, e por alguns segundos seus ouvidos pararam parcialmente de prestar atenção em todo barulho á sua volta. Seu corpo reagia como se estivesse com os sintomas de uma doença degenerativa, todos de uma vez.

Mas aquilo não tinha nada a ver com ciência.

Este era um grande sinal, para ambos. Para ele, um aviso de que seu coração torturado estava passando por uma grande recuperação, e ao mesmo tempo uma decaída por se deixar entregar. Ela estava ali, como havia prometido, assim como esteve constantemente nas últimas semanas.

Os lábios de John se entreabriram para tentar sibilar qualquer tipo de palavra, mas era como se algo impedisse suas cordas vocais de emitir som.

Então ele apenas a observou... Seus longos cabelos negros constantemente caindo sob seu rosto, criando uma cortina entre ela e o mundo de fora; o olhar apreensivo que Katy lançava para o inanimado objeto de plástico; o franzido engraçado que suas maçãs do rosto sustentavam quando seus pensamentos se enchiam de preocupação; e o tamborilar impaciente de seus pés contra o chão níveo.

Katy se assustou ao reparar o semblante de John a observando. Nenhum dos dois tinha a mínima ideia de quanto tempo a cena anterior havia durado.

Agora ele enchia seus pulmões com uma lufada de ar fresco, enquanto nutria o pouco de coragem que ainda sobrava para dizer algo a ela. Mas era óbvio que não seria adequado para ambos, enunciar qualquer palavra percorrida por seus pensamentos nos últimos minutos...

– Ei! – ele a chamou enquanto estendeu uma de suas mãos para ajudá-la.

– Olá...
– Bem, aqui está você! Estou aliviado de já ter passado pelo chuveiro.
– Desculpe-me pelo atraso, não foi justo te deixar esperando e...
– Não se preocupe. – ele a interrompeu – Você está aqui agora. Este é o importante.

Ela sorriu involuntariamente, ao encarar sua expressão de conforto. O fato de ter cogitado ir embora agora a fazia sentir-se levemente culpada.

– Tenho certeza que os corredores não são exatamente os melhores aposentos... – John disse, apontando para o copo massacrado nas mãos dela – Que tal irmos para um lugar melhor?

– Eu adoraria. – ela assentiu, e o acompanhou dentre os desconexos corredores até finalmente adentrar seu camarim.

O local não era exatamente um palacete de rockstar, repleto de luxo e exigências e isto a surpreendeu.

– É aqui onde a magia acontece. – falou ele, e se jogou em um espaçoso sofá de couro branco.
– Sem hidromassagem? Sem groupies? Wow, estou legitimamente surpresa.
– E quem disse que eu não tenho groupies? – ele riu.
– Rárá. – retrucou lhe mostrando o dedo do meio.

John se dirigiu para a penteadeira de mogno do cômodo, e conectou seu celular em uma pequena doc station. A música Adorn de Miguel começou a ressoar em altura ambiente, e ele logo serviu dois copos de whiskey com algumas pedras de gelo.

– Você gosta? – perguntou ele, referindo-se tanto ao copo de bebida quanto á música.

– Não conheço bem ambos.
– Se depender de mim, você certamente vai conhecê-los.
– Isto não é burlar as suas recomendações médicas?
– Talvez. – John deu de ombros e bebericou em seu copo – Mas você não vai contar, vai?
– Talvez. – Katy disse, provando um pouco da bebida.

MontanaWhere stories live. Discover now