Percebi quando aconteceu. Vi em seus olhos que ele voltou a si de repente. Pelo menos torci para que tivesse voltado a si. Não fazia ideia de quanto poder ele havia usado para controlar um demônio de outra dimensão, mas sabia o que quantidades gigantescas de espírito podiam fazer.
— Sydney — ele exclamou, apoiando-se em mim.
Quase chorei de alívio.
— Sim. Vem, vamos embora.
A porta que tinha acertado sem querer estava pegando fogo e não sabia como os andares subterrâneos se ligavam ao andar principal. Não queria correr o risco de que tudo desmoronasse à nossa volta. Adrian parecia um pouco aturdido e precisei guiá-lo até a escada. Parte de mim, em pânico, não parava de pensar no que ele havia me contado
sobre Charlotte, sobre como o espírito a deixara incoerente. Ele me reconheceu, disse a mim mesma. Ele me reconheceu. Enquanto tivéssemos isso, precisava acreditar que tudo
ficaria bem.
Chegamos ao andar de cima, onde vários guardiões esperavam preocupados na entrada da escadaria. Havia ordens rigorosas para não interferirem, mas isso ia contra a
natureza deles.
— Tirem todos daqui — eu disse para o guardião mais perto. — Tem um
incêndio lá embaixo e não sei se vai se espalhar. E vê se não tem nenhuma arma aqui. —
Afinal, aquele lugar era dos guerreiros. Não queria que um novo desastre com explosivos
fosse causado por acidente.
Adrian e eu saímos e o guiei até passar pelos guardiões e alquimistas atarefados, e
também pelos guerreiros prisioneiros. Lá fora, perto de onde tínhamos estacionado,
avistei alguns rostos conhecidos e caminhei até eles. Rose, Dimitri e Eddie rodeavam Jill, que estava sentada numa cadeira dobrável. O ocupante da cadeira ao lado levantou e foi
levado embora por um guardião. Reconheci a expressão zonza de um fornecedor.
— Espera — gritei. — Adrian também precisa de sangue.
Jill levantou em um salto, ainda cansada e suja, mas com muito mais vida e cor no
rosto do que quando a vira no porão. Apesar de tudo que tinha acabado de passar, se
apressou para ajudar Adrian a sentar. Não sabia se ele realmente precisava de sangue, mas
ele havia passado por um grande martírio, e o sangue costumava ter um efeito curativo
nos Moroi. Adrian não falara mais nada desde que dissera meu nome, e eu não conseguia
deixar de lado o pânico de que o espírito poderia ter finalmente o dominado para
sempre. O fornecedor ofereceu o pescoço e Adrian se debruçou automaticamente para
mordê-lo. Desviei o olhar, me perguntando se algum dia ficaria completamente à vontade
com essa parte da vida dos vampiros.
— Ele está aí — Jill disse, segurando minha mão, os olhos verdes ainda maiores
do que o normal em seu rosto magro. — Vai ficar bem.
Agradeci com a cabeça e contive as lágrimas.
— Você devia estar descansando — falei para ela. Meu coração estava com Adrian,
mas naquele momento me toquei o quanto ela havia sofrido. O fato de que estava ali,
preocupada com outra pessoa, era prova de sua força. — Ai, meu Deus, Jill. Mal posso
imaginar o que você passou. Desculpa não termos conseguido resgatar você antes. Te
machucaram?
Ela fez que não e abriu um leve sorriso, embora pudesse ver o sofrimento em seus
olhos.
— A maioria tinha medo demais para ficar perto de mim. Alicia havia colocado
certas condições temporais naquele feitiço… naquela criatura. Num curto período do dia,
perto do nascer do sol, alguém poderia vir à minha cela, me drogar, deixar comida e
sangue, e sair. Nunca ficavam muito… Acho que tinham medo de ficar presos lá comigo.
— Sinto muito — disse de novo. — Queria que pudéssemos ter salvado você
antes.
Jill me abraçou.
— Sei que tentaram. Conseguia ver muita coisa pelo laço e…
— Chave de Cadeia?
O fornecedor estava indo embora e Adrian se virou em nossa direção, com o rosto
alerta e sagaz. Jill soltou um grito e correu para os braços dele, com lágrimas no rosto.
Também comecei a chorar diante do reencontro.
— Você está bem! — ele exclamou, com as mãos no rosto dela. — Você está bem.
Estava tão preocupado. Você não faz ideia. Achei que tivesse falhado com você…
Jill começou a chorar mais.
— Você nunca falhou comigo. Nunca.
Queria me jogar nos braços de Adrian também, mas dei a eles aquele momento. O
amor que eu e Adrian tínhamos era forte, e sabia que se manteria pelo resto de nossas
vidas, não importava o que acontecesse. Mas o amor que ele e Jill tinham, aquele afeto de
irmão graças ao espírito, também era forte. Sabia como ele tinha sofrido por ficar longe
dela.
O som da porta de um carro chamou minha atenção. Me virei para o outro lado do
estacionamento improvisado a tempo de ver meu pai e Zoe saindo de um carro, junto
com Stanton. Depois de um olhar rápido para confirmar que Adrian e Jill estavam bem sem mim, fui encontrar os alquimistas.
— Sydney — disse Stanton, a título de cumprimento. — Parece que tudo deu certo
na sua operação. Suponho que vá me dar os outros dois nomes?
— Charlene Hampton e Eugene Li — respondi prontamente.
Stanton os repetiu para si mesma e pegou o celular na mesma hora.
— Muito bem. Vou mandar verificar.
— E o resto do nosso trato? — perguntei.
— Não se passou muito tempo — ela me lembrou —, mas consegui uma decisão
intermediária para você. Os outros líderes alquimistas concordaram em deixar você em
paz. Você e o seu, hum, marido podem sair mundo afora e fazer o que bem entenderem.
— Sua testa franziu ligeiramente durante a fala educada, o que foi a única indicação de
como achava a ideia repugnante.
— Sério? — perguntei. — Eu e Adrian estamos livres? Nenhum espião atrás de
nós? — Meu pai ficou boquiaberto.
— Tão livres quanto qualquer pessoa neste mundo — ela lamentou. — Para ser
sincera, acho que foi um alívio para alguns deles. Você causa muita encrenca, Sydney
Ivashkov.
Não consegui conter um sorriso.
— E os outros? Os outros detentos?
— Anistia para eles também… desde que você entregue as informações — ela
acrescentou. — Não posso dar nenhuma garantia sobre o futuro da reeducação. Essa é
uma questão mais complexa.
Para mim não parecia nada complexa, mas a minha liberdade e a dos outros que
sofreram na reeducação era uma bênção gigantesca, se os alquimistas mantivessem sua
palavra.
— Estava falando sério sobre meus receios com a reeducação — Stanton me disse.
— É uma questão a que planejo me dedicar. Precisamos de sistemas disciplinares, como
no caso da emergência das tatuagens, mas, claro, existem limites que podemos redefinir
melhor.
— Obrigada — eu disse. Mais uma vez, torci para estar certa em relação à
sinceridade que via nela. — Vou pedir para enviarem o conteúdo do laptop para a
senhora.
— Excelente. Agora me deem licença por um momento enquanto lido com a sra.
Hampton e o sr. Li. — Ela ligou para alguém e saiu andando, me deixando numa situação
ligeiramente constrangedora com meu pai e Zoe.
— Não sei o que você fez — meu pai resmungou —, mas duvido que os
alquimistas vão deixá-la sair impune. Alguns podem aceitar sua vida abominável, mas
outros não.
— É verdade — eu disse. — Mas Stanton claramente não vê problema. E acredito
firmemente que pessoas como ela vão ter força suficiente para pegar leve comigo e com os
que não querem mais fazer parte dos alquimistas. Na verdade, você vai ajudá-la.
A fúria se acendeu em seus olhos.
— Jamais.
— Porque a questão é a seguinte, pai — eu continuei como se ele não tivesse falado
nada —, fiz Stanton ajudar no resgate dando a ela o nome de quatro pessoas que estavam
trabalhando com os guerreiros a fim de produzir mais daquelas tatuagens ilícitas. Revelei quatro, mas tinha cinco. E nós dois sabemos quem era o quinto.
— Não faço ideia — ele disse imediatamente.
Zoe lançou um olhar assustado para ele.
— Quê? Você não… você não pode ter…
— A prova está lá — eu disse. — O laptop que pegamos tem registros de reuniões
e encomendas que você fez com alguns dos guerreiros. Agora, se tiver sorte, os
alquimistas que já foram pegos não vão denunciá-lo para tentar se salvar. E, se colaborar,
eu não vou te denunciar também.
— Colaborar? — ele zombou. — O que isso significa para alguém como você?
Alguém que jogou no lixo todas as lições morais com que foi criada…
— Significa — o interrompi — que você vai apoiar Stanton para rever a reeducação
e manter o acordo que fez comigo. E também significa que vai mudar o acordo de
custódia para que Zoe veja nossa mãe.
Meu pai cerrou os punhos.
— Você não tem o direito de impor nada disso! Não vou entrar nessa chantagem.
— Sem problemas — respondi. — Então vou contar para Stanton que tem mais
uma pessoa que precisa ser interrogada. E não se esqueça que, mesmo se acabarem com a
reeducação, ela disse que ainda precisam de medidas disciplinares instauradas para casos
como esse.
— Pai, como você pôde? — Zoe exclamou. — Você sabe quantas pessoas
sofreram com aquelas tatuagens!
— Você não entende — ele disse. — Seriam os guerreiros que fariam. Não importa
o que vai acontecer com eles.
Assenti com uma seriedade irônica.
— Aposto que Stanton vai concordar com esse argumento hipócrita. Os
alquimistas adoram questões duvidosas. Definitivamente preferem isso do que tudo bem
esclarecido.
— Sydney? — ouvi Adrian chamar. Virei e fiz um aceno para ele antes de me voltar
para meu pai e Zoe.
— Esses são os meus termos. Se obedecer, vou garantir que não haja menção do
seu nome quando entregar as informações para Stanton. Senão… — Deixei meu pai no
escuro, para que a imaginação dele terminasse a frase. Enquanto ficava ali parado, em
choque, dei um abraço rápido em Zoe. — É bom ver você. Me manda uma mensagem se
ele não deixar você ver a mamãe, ainda que seja provável que eu descubra sozinha antes.
Deixando os dois, voltei para onde meus amigos estavam. Só faltavam Dimitri e
Neil. Adrian me parou, dando-me um abraço.
— Sydney — ele murmurou no meu ouvido. — Desculpa por ter perdido o
controle lá embaixo.
— Você não perdeu nada — eu disse firme, colocando os braços em volta do
pescoço dele. — Você se controlou. Conseguiu voltar e fazer a coisa certa.
— Não parecia que estava me controlando — ele disse baixinho, fitando meus
olhos. — Teve um minuto lá que não reconheci você, não reconheci nada além do poder
que sentia. E tia Tatiana estava lá, gritando na minha cabeça. Ela ainda está aqui, mesmo
enquanto falo com você. Acho… — Ele respirou fundo. — Acho que estou
definitivamente pronto para voltar a tomar os remédios. Não sei o que vai acontecer se
chegar uma hora em que precise de espírito e não consiga usar, mas não posso correr o risco de me perder como quase aconteceu hoje. Não posso ficar como Charlotte. Como
Avery.
Afundei o rosto no seu peito.
— Você não vai ficar. Já provou que não. Voltou a si no momento em que elas não
conseguiram. E, aconteça o que acontecer, você não vai enfrentar nada sozinho. Vou
ajudá-lo. — Lágrimas voltaram a surgir em meus olhos, dessa vez de felicidade. — Acho
que a gente conseguiu. Acho que a gente está livre dos alquimistas. Depois de muitos
esquemas e… Enfim, não sei se vai dar certo, mas parece que sim. E… — Comecei a rir
ao perceber que estava tagarelando. — Não sei o que vai vir agora, mas sei que vamos
estar juntos.
Adrian segurou minha mão esquerda na dele, fazendo nossos anéis de casamento
cintilarem num brilho de rubis e diamantes.
— É tudo que importa, Sage-Ivashkov. Quer dizer, isso e a briga que vou ter com
Castile se não resolver a situação dele com Jill de uma vez por todas.
Virei para onde Eddie estava sentado com Jill, segurando a mão dela e abrindo seu
coração. Ri mais uma vez.
— Acho que perderia essa briga com ele, sem ofensa. Mas felizmente acho que
estão se resolvendo.
Fiquei observando Eddie e Jill por mais um momento, sem conseguir ouvir o que
estavam falando. Pela expressão radiante dela, era uma boa notícia. Jill tocou o rosto não
barbeado dele e sorriu, aparentemente aprovando a barba de que Adrian sempre tirava
sarro. Recostei em Adrian e suspirei feliz, sentindo-me em paz com o mundo pela
primeira vez em muito tempo. Ficamos ali sentados, abraçando um ao outro por vários
minutos tranquilos, até vermos Dimitri se aproximar.
— Alguma novidade? — perguntei, erguendo a cabeça.
— Busque aquele fornecedor — Dimitri falou para outro guardião atrás dele. O
homem saiu correndo para obedecer. — Encontramos outros Moroi.
— Os outros presos — Jill murmurou. Ela olhou para Rose e Dimitri. — Falei
para vocês sobre eles. Estão bem?
— Sim — Dimitri disse. — Malnutridos como você, mas vão ficar bem. Neil foi
importantíssimo para resgatar todos. Estavam numa prisão muito difícil de chegar,
parecia mais uma caverna, e ele precisou escalar muito.
— É o jeitinho do Neil — Adrian comentou. — Cadê ele?
Dimitri pareceu perplexo.
— Na verdade, pensei que ele tivesse voltado pra cá. — Ele tocou o fone. —
Alguém tem informações sobre Neil Raymond? — Ficamos encarando Dimitri em
silêncio enquanto esperávamos uma resposta. No fim, ele balançou a cabeça. — Ninguém
o viu.
Eu e Adrian trocamos olhares, pensando a mesma coisa.
— Mande todo mundo procurar por ele — Adrian disse. — Agora. Se não o
encontrarem já, tenho a impressão de que nunca mais vamos achá-lo.
Dimitri pareceu assustado pela frase, mas mesmo assim ordenou uma busca em
todo o campo por Neil. Eddie pareceu ao mesmo tempo preocupado e confuso.
— Vocês acham que ele se machucou? Ou foi capturado?
— Não — respondi. — Acho que viu uma oportunidade. E precisamos impedir
que faça isso.
Mas era tarde demais. Depois de uma hora, as buscas da equipe de Dimitri não
deram nenhum resultado. Neil tinha realizado seus atos heroicos e depois sumido.
— Ele sabia — Adrian disse. — Sabia que, assim que isso acabasse, eu voltaria a
insistir na questão do Declan. A culpa é minha.
— Do que está falando? — Rose perguntou. Ela percebera que tinha alguma coisa
errada e esperou impacientemente durante a busca. — Declan está bem?
— Sim — Adrian respondeu, mas voltamos a nos entreolhar. Nenhum de nós
conseguia dar voz a nossos medos. Se tínhamos perdido Neil, o que aconteceria com
Declan? Adrian balançou a cabeça. — Vou procurar Neil em um sonho.
— Adrian — avisei. — Você acabou de dizer…
— Eu sei, eu sei — ele resmungou. — Mas a gente precisa encontrar Neil. Você
sabe por quê.
Lá estava o espírito nos ameaçando de novo.
— Mesmo se encontrarmos Neil no mundo dos sonhos, não existe garantia de que
ele vá voltar pra cá — lembrei Adrian.
— Alguém por favor pode me dizer o que está acontecendo? — Eddie perguntou.
— Por que Neil não voltaria?
Entrelacei os dedos nos de Adrian.
— Vamos voltar para perto de Declan. Depois a gente pensa no que fazer em
relação a Neil.
Mesmo sem saber a história toda, Rose, Dimitri e Eddie quiseram voltar com a
gente para a casa de Clarence na esperança de rastrear Neil. Jill também queria, mas foi
levada para a Corte, para ficar sob a proteção de Lissa e receber outros tratamentos
médicos. Deu para ver que foi angustiante para Eddie se separar dela, mas Neil era amigo
dele e tinham salvado a vida um do outro mais de uma vez. Fingi que não vi quando
Eddie deu um beijo de despedida em Jill e prometeu voltar a vê-la em breve.
De volta à casa de Clarence, encontramos tudo como tínhamos deixado. O anfitrião
estava descansando no quarto e Daniella estava na sala, falando sem parar que Declan
precisava de pijamas de algodão orgânico em vez daquele algodão tosco. Ela contou, para
nossa total surpresa, que Neil tinha passado lá.
— Como assim? — Adrian exclamou.
— Hoje de manhã — ela disse. — Passou e segurou o bebê no colo por um
tempo. Não falou muita coisa. Depois foi embora. Pensei que soubessem.
Eu tinha pegado Declan e o embalava nos braços, surpresa com a saudade que
sentira do seu calor e, digamos, do seu cheiro de bebê. Adrian estava ao meu lado,
também surpreso pela saudade.
— A gente não fazia ideia — ele respondeu.
— Ele deixou isso — Daniella acrescentou e entregou um envelope que Adrian
abriu imediatamente. Dentro estava uma carta manuscrita que Adrian posicionou para
nós dois podermos ler.
Adrian e Sydney,
Sei que vocês dois têm seus meios para descobrir onde estou. Se for isso que decidirem
fazer, não tenho como detê-los. Mas imploro que não façam isso. Por favor, me deixem ficar
longe. Deixem que os guardiões pensem que desertei da organização. Deixem que eu ande pelo
mundo, ajudando quem puder.
Sei que acham que eu deveria ficar com Declan. Acreditem em mim, queria poder. Queria
mais do que qualquer coisa ficar e cuidar do filho de Olive, do meu filho, e dar a ele tudo que
precisa. Mas não posso deixar de lado a sensação de que nunca estaríamos seguros. Algum dia,
alguém poderia começar a fazer perguntas sobre Olive e o filho dela, e então os medos dela se
concretizariam. A notícia de sua concepção mudaria nosso mundo. Animaria alguns e assustaria
outros. Acima de tudo, faria com que as previsões de Olive se tornassem realidade: as pessoas
iriam querer estudá-lo como um rato de laboratório.
E é por isso que estou propondo que ninguém descubra que ele é meu filho ou de Olive.
De agora em diante, que ele seja de vocês.
Ninguém vai questionar se criarem um dampiro. Afinal, os filhos de vocês vão ser
dampiros e, pelo que vi, são inteligentes o bastante para convencer todo mundo de que Declan é
seu filho biológico. Também vi como vocês se amam, como apoiam um ao outro. Mesmo com as
dificuldades que a relação de vocês sofreu, se mantiveram fiéis a si mesmos e um ao outro. É
disso que Declan precisa. É esse tipo de lar que Olive iria querer para ele, o tipo que eu quero
para ele.
Sei que não vai ser fácil e partir é uma das atitudes mais difíceis que já precisei tomar. Se
chegar um dia em que eu possa me sentir seguro estando presente na vida dele, eu volto. Podem
usar seus métodos mágicos para me encontrar e juro que estarei ao lado dele num piscar de olhos.
Mas, até lá, enquanto a sombra do medo e do olhar curioso dos outros pairar sobre Declan,
imploro que o levem e lhe deem a vida linda que sei que podem dar.
Com carinho,
Neil
As mãos de Adrian estavam tremendo enquanto terminava de ler a carta. Lágrimas
se formaram em meus olhos e me obriguei a piscar para contê-las.
— Ele tem razão — eu disse finalmente. — Podemos encontrá-lo com a minha
magia. Você nem precisa usar o espírito.
Adrian dobrou a carta.
— Mas ele também tem razão em relação aos riscos.
— O que ele está pedindo é muita coisa… — comecei. Neil tinha razão no sentido
de que ninguém nos questionaria por ter um filho dampiro, mas mesmo assim as
complicações eram infinitas. Nossas vidas já eram muito indefinidas. Me afundei no sofá
ainda com Declan no colo, a cabeça a mil.
Quando Adrian me pedira em casamento, senti medo, não por falta de amor, mas
porque ser noiva aos dezenove anos nunca tinha feito parte dos meus planos. E ser mãe
aos dezenove? Isso esteve menos ainda nos planos. Mas, bem, alguma coisa saía como eu
planejava? Examinei o rosto de Declan, adorando todos os detalhes perfeitos dele, mas
sabendo muito bem que, se assumisse a responsabilidade por ele, qualquer tentativa de
garantir o futuro que eu queria — uma casa com Adrian, a faculdade, uma vida normal
— seria seriamente comprometida. No entanto, como poderia abandonar Declan?
Encarei Adrian.
— Não sei o que fazer. Não tenho a resposta. — Essas não eram palavras que
proferia com frequência.
Adrian respirou fundo e encarou as pessoas ao nosso redor.
— Acho… acho que talvez a gente precise pedir alguma ajuda para isso.
Entendi a sugestão e a considerei. Quanto menos gente soubesse a verdade sobre Declan, melhor. Mas o que estava sendo pedido de nós era grande demais para
assumirmos sozinhos. Precisávamos de aliados em quem pudéssemos confiar para
decidir o futuro de Declan. Ao encarar aqueles reunidos à nossa volta — Rose, Dimitri,
Eddie e Daniella —, percebi que eram as pessoas com quem poderíamos contar.
— Certo — eu disse a Adrian.
— Alguém pode finalmente contar pra gente o que está acontecendo? — Rose
interrompeu, impaciente.
Adrian respirou fundo, preparando-se para a história imensa que estava prestes a
contar. Todos ficaram muito quietos, como se sentissem a gravidade do que estava por
vir.
— O que estou prestes a falar vai mudar tudo o que vocês pensam — Adrian disse.
Ele se focou em Rose e Dimitri. — O mundo de vocês dois em particular está prestes a
mudar.
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Bloodlines - O Circulo Rubi
VampiriDepois que Sydney Sage escapou das garras dos alquimistas, que a torturaram por viver um romance proibido com Adrian Ivashkov, o casal passou a viver exilado na Corte Moroi. Hostilizada por todos ao seu redor por ser uma humana casada com um vampiro...