Saudade.

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Cheguei em casa e fui direto procurar a mamãe, não a vi o dia inteiro, começou a chover, achei a Dona Flora na cama de seu quarto com uma caixa de sorvete inteira em suas mãos e brigadeiro em cima da cama em um potinho, ela estava de pijama, com o rosto vermelho e os olhos mais ainda:
- Mamãe! Tá tudo bem?
- Sim Mel, pode ir dormir.- Ela diz limpando as lágrimas.
- Nem vem, pode falar!
Ela me fez sentar na cama:
- É o seguinte, hoje eu quase morri de saudades do seu pai, fui ao hospital e fiquei a tarde toda por mal estar, às vezes eu sinto a sua presença e me lembro que nunca poderei mais ver, tocar, sentir. - Ela deixa escapar mais uma lágrima.
- Eu me sinto assim várias vezes, mas tento lembrar das coisas felizes que nós fazíamos, passeios, clubes, viagens... Quer tentar?
- Tentar ficar até altas horas chorando como à 4 meses atrás?, rs, era ótimo! Vamos!
Dizendo isso começamos a nos lembrar dos bons momentos, e tomamos sorvete, comemos brigadeiro até dar 4 da manhã, minha mãe caiu no sono, e eu resolvi dormir ali mesmo.

Amanheceu, eram onze e quarenta!!! Eu havia perdido a escola!
- Mamãe! Ei! Flora! Como ousa não me acordar- Digo isso acordando ela.
- Ahn, o que? Que horas são? - Ela diz sonolenta.
- 11:40!!
- O que??? - Ela se levanta rápida - Não acredito! Mil perdões!
- Tudo bem, tudo bem, vamos levantando...
Nós duas levantamos e fomos nos trocar, depois descemos em direção a cozinha
- Filha, hoje a noite tenho um encontro com um carinha que eu conheci no hospital.
- O que? Dona Flora! Paquerando no hospital! - eu disse rindo com os braços cruzados, ela riu.
- Perdoe-me é boa pinta, juro.
- Mais uma noite sozinha...
- Até ia te falar sobre isso... Não quero que fique sozinha aqui em casa, a sequências de roubos e assassinatos na cidade está crescendo muito no bairro. Por isso vou chamar a tia Jess.
- Mãe, eu já tenho 17 anos, fiquei muito tempo da minha vida sozinha enquanto você se divertia, não preciso de babá.
- Ou é a tia Jess ou arrume um encontro também - Ela diz com um sorrisinho de canto de rosto - Vai estudar com o Lucca hoje?
- Com quem eu arrumaria um encontro? Você tá pirada... Vou estudar sim.
- Ótimo! Ele pode passar a noite aqui, ou você lá na casa dele, rs.
- Mamãe!
- O que?
- Não vou pedir para ele passar a noite aqui por conta do seu medo de ser assaltada! - Digo novamente com os braços cruzados e me sentando à mesa.
- Vai sim! Ou prefere a tia Jess?
- Vou ver o que faço - revirei os olhos.
- Boa garota, agora vou trabalhar, não me espere então para jantar e nem contar historinhas para você dormir - Ela diz em tom irônico sorrindo.
- hahahahahahaha, engraçadinha.
Ela foi e já eram meio dia, peguei meu celular e vi que havia 3 chamadas perdidas, 2 de Lucca, 1 de Clara.
Por que o Lucca me ligaria antes das duas horas? Pensando na possibilidade de ele cancelar os estudos hoje liguei de volta:

Em chamada:

- Lucca, oi, tudo bem?
- Oi Mel! Você retornou!
- Sim! Desculpe, estava dormindo na hora que você ligou.
- Tudo certo, não foi a escola hoje?
- Acordei tarde, rs.
- Isso quer dizer que não pegou matéria nova de física e química hoje mocinha?
- Não, vou ligar para a Clara pedindo que ela me passe o que teve hoje.
- Boa ideia! O estudo de pé?
- Por mim sim!
- Ótimo, vou desligar agora, beijos.

Ele diz isso e desliga. Vou me arrumar como qualquer outra tarde para me encontrar com o Lucca, virou rotina eu estar com ele. Fiquei mesmo pensando na possibilidade de ele dormir aqui, ou eu lá, estava com vergonha de pedir, e ele achar meio invasivo e idiota da minha parte achar mesmo que ele dormiria em casa ou eu na casa dele, enquanto pensava, reconheci a buzina do carro e peguei meus materiais, e fui novamente em direção ao carro de Lucca, já havia ligado para a Clara e peguei a matéria de hoje.
Entrando no carro, ele me cumprimentou com um beijinho no rosto:
- E aí Mel? Ligou para a Clara?
- Liguei sim.
- Ótimo, e na sua casa, como está?
- Está tudo bem, e como você vai?
- Vou bem Mel, meio enrolado com alguns trabalhos da faculdade, mas nada que eu não resolva essa noite, rs.

Essa noite! Ótimo! Não poderia convidar ele para passar a noite comigo! Ele estava ocupado.
- Garoto ocupado, rs - Brinquei - tem certeza que não estou realmente atrapalhando?
- Você atrapalhando? Claro que não.

Chegamos em sua casa e subimos ao quarto.
- Você parece incomodada com algo, quer dizer algo? - Ele perguntou como se soubesse o que eu queria lhe perguntar.
- Não, está tudo bem. Vamos começar?
- Vamos.
Estudamos, estudamos, estudamos e estudamos mais, eu realmente estava adorando a física ou ao professor?
Já era quinta, a prova era na sexta. Paramos um pouco de estudar e fomos comer algo na padaria à um quarteirão da casa dele, fomos a pé, no meio do caminho...
- Não quero me intrometer - falei - mas do que é o trabalho?
- É anatomia - Ele diz olhando diretamente para mim - Você é boa em humanas não é?
- Eu simplesmente amo anatomia! Eu me dou muito bem!
- E por que você não me ajuda no trabalho? Se você quiser... Mas duraria a noite inteira, rs.
- Se não fosse te atrapalhar... Eu te ajudo e você me ajuda...
Eu disse isso numa seriedade quando na verdade estava pulando freneticamente por dentro...
- Seria ótimo! Mas, te ajudar no que?
- Minha mãe vai sair essa noite, e volta só de manhã, ela não queria que eu ficasse essa noite sozinha em casa por conta dos roubos, e tal.
- Entendo, não vejo problema algum você passar essa noite em casa, vai ser um prazer - Ele parece se conter por dentro também - na minha, ou na sua?
- Pode ser na minha?
- Claro!
Chegamos na padaria, comemos, dessa vez eu paguei, e voltamos para sua casa.
- Tenho que ir agora, arrumar a casa, e tal - digo, pegando meus materiais.
- Tudo bem, eu te levo.
Ele me levou e comecei a arrumar a casa, para a sua chegada, marcamos as oito.
Quando eram sete e meia fui me arrumar, e coloquei meu short escuro e uma blusa florida, eu só tenho blusa florida...
Deram oito e cinco, ouvi a campainha, e fui recebe lo, ele me deu um beijo demorado e quente na bochecha...


DissaperingOnde histórias criam vida. Descubra agora