A vida tem seus baixos

8 0 0
                                    

A ambulância chegou e colocou Lucca na maca, eu fiquei um tempo ainda ali no chão e enquanto estava sendo levado me lançou um olhar como quem dissesse:
  " Vai ficar tudo bem"
E eu sabia que não ficaria tudo bem, com o ferimento no diafragma ele não poderia respirar.
Eu fui de carro com a minha mãe ao hospital, Lucca estava no quarto respirando por equipamentos, ele me entendia, mas não falava. Quando entrei no quarto de visitas vi muitos parentes na qual eu não conhecia e ele nunca tinha tocado no assunto, inclusive Mark, a mãe dele me recebeu com um abraço e uma médica adentrou ao quarto dizendo que ele havia de passar por uma cirurgia daqui 10 minutos. Os parentes saíram me deixando a sós com o amor da minha vida estirado naquela maca:
- Lucc...a - eu digo chorando - eu te amo muito. Eu vou estar aqui para você depois da cirurgia.
Vi uma lágrima escorrendo pelo rosto dele. Me fazendo chorar mais.
Me encostei no peito dele e ali fiquei dizendo coisas que eu saberia que deixariam-o mais feliz. Passaram-se os dez minutos e um cirurgião adentrou na sala me cumprimentando e levando Lucca para a sala de cirurgia, me despedi com um selinho em seus lábios frios.
Passaram-se semanas após o acontecido e a situação de Lucca era crítica, ele havia acordado da cirurgia porém respirava com aparelhos, ele trocava poucas palavras por causa do oxigênio que faltava. Era um milagre ele estar acordado. Não saí do hospital um só dia enquanto ele estava lá, um grande amigo de Lucca também, o Chaz. Nós éramos grandes amigos também. Das poucas palavras que trocávamos eram:
" Vai ficar tudo bem"
" Eu te amo"
Até que ele me disse algo com a voz rouca e dando um sorriso:
- Melissa...Amo...r...Da...Minha vida- ele falava com dificuldade - eu lhe... deixei... uma...
Ele não conseguiu terminar a frase pois teve um ataque cardíaco, os médicos pediram para que eu me retirasse e eu fiquei na sala de espera com Chaz, aflita. A mãe dele veio até nós e disse que ele estava estável, suspirei aliviada.
Semanas se passaram e Lucca no mesmo estado, eu indo todos os dias lá, conversávamos (ele com dificuldade) como se fosse a primeira vez.
Lucca resistiu bastante, mas não o suficiente.
Ele morreu após 24 dias de sua cirurgia no dia 12 de setembro, eu estava em casa na hora, foi em uma madrugada aproximadamente de duas para três horas da manhã. Eu recebi uma ligação de seu irmão Mark, eu já esperava o pior, ele conseguia apenas soluçar e chorar do outro lado da linha quando revelou a tragédia. Eu desliguei a ligação e comecei a chorar e xingar o mundo e tentar entender o porque das coisas terem sido assim para ele, ele morreu por amor, ele morreu por paixão, ele gastou o sangue de suas veias para me salvar enquanto nenhuma pessoa conseguia fazer isso. Eu imediatamente liguei para Chaz que também estava em casa dormindo contando o ocorrido, nós choramos juntos por meio da ligação e começamos a novamente xingar o universo e outras coisas mais, ambos o amavam, ambos dariam sua vida por ele. Eu nem avisei a mamãe que dormia, levantei e peguei o carro com meu pijama de frio, cheguei ao hospital e dei de cara com a mãe dele lá fora tendo um ataque de choro e soluços e ruídos.
Eu subi ao quarto dele e vi apenas seu corpo coberto por um lençol, o que faziam quando uma pessoa morria, eu retirei o lençol e olhei para aquele rosto lindo que não era o que eu havia conhecido, mas mesmo assim era o meu Lucca.
Eu me afastei de seu corpo chorando muito e vi o amor da minha vida estirado na maca e me recordei de tudo que havíamos vivido e o que nunca mais viveríamos, o desespero bateu forte de pensar que nunca mais aconteceriam nossos passeios a restaurantes estranhos e nossas brigas para ver quem pagava a tal conta, nossas idas a "Praia do primeiro beijo", como assim denominamos ela. Não ocorreria mais aquelas ligações de madrugadas e as dormidas de conchinchas juntos. O meu mundo ali havia despedaçado e eu estava no chão me lembrando de tudo. Até que uma enfermeira viu que eu estava no quarto e me retirou de lá me consolando. Eu cheguei a entrada do hospital onde fui consolada por um abraço da mãe de Lucca me fazendo chorar ainda mais.
No dia de amanhã, eu não sabia mais o que fazer, não era como antes, eu acordava decidida a ir ver Lucca e a ficar com ele pelo resto do meu dia. O enterro seria hoje e eu estava escrevendo meu discurso.
A hora do enterro chegou e não deu a mesma quantidade de gente do que nos posts da rede social. Assim estava melhor.
Eu subi ao altar onde estava o meu mundo, meu amor, dentro daquele caixão, bem vestido como sempre, mas desta vez de terno.
Eu coloquei a mão em seu peito e não o senti batendo, aquilo me deu uma agonia tremenda.
Fui chamada para falar no altar e então eu disse:
- Nem todo mundo conhecia o Lucca, nem todo mundo estava com ele nos momentos mais difíceis, mas eu sei que fiz o meu papel como namorada e amiga dele, eu o amava, e não desconfio que todos aqui também, ele era a minha vida, o meu amor, o meu dia de amanhã, ele era a minha rotina - vi lágrimas caindo - Lucca Growley sofreu muito no hospital e só quem estava lá sabe, eu não me sinto culpada pela morte dele, não me sinto responsável, ele morreu dando o sangue dele por mim, acho que isso faria muitas ex namoradas se roerem de inveja - ouvi risadas - enfim, eu o amo, e eu nunca vou parar de ama-lo nenhum dia sequer da minha vida.
Deixei o altar e recebi uma salva de palmas.
Semanas passavam e a saudade não.
Todos estavam atingidos ainda com o ocorrido e para a minha sorte e o meu alívio, Denny foi preso e condenado, e adivinhem? Ele foi o responsável pela morte do meu pai também. Eu sentia nojo daquele homem, ele havia matado os dois homens da minha vida.
No começo desta história eu não prometi achar o assassino do papai? Considere-se homenageado papai.

DissaperingOnde histórias criam vida. Descubra agora