HORA DE PARTIR

258 32 3
                                    

𝐿𝓊𝒸𝒶𝓈

Eu tentei ser o mais delicado possível enquanto conversava com meus pais. Eles se mantiveram quietos durante toda a explicação, e tirando algumas levantadas de sobrancelha do meu pai e uns arregalares de olhos da minha mãe, eles não tiveram outro tipo de reação.

Aquilo me deixou nervoso. Eu sabia o quão maluca aquela conversa era. Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos eu decerto não teria acreditado em Olioti, então por qual motivo meus pais acreditariam em mim? Eu estava literalmente pedindo que saíssem do conforto de casa, que meu pai deixasse seus pacientes, pra que fugíssemos de uma ameaça inacreditável... Aquilo era difícil de engolir.

Falando em pacientes... O que será dos meus? Eu não sei quanto tempo isso vai demorar, eles precisam de mim.

Acho que vou ligar pra Gabi, dizer que preciso me afastar um tempo. Ela não vai contestar depois de tudo o que aconteceu, e ela pode ligar para o Castanhari me substituir por enquanto. Talvez dizer que meus pais querem me levar em uma viagem de ultima hora pro exterior... Conhecendo ela, ela vai querer vir me visitar, e além de não me encontrar aqui, ela pode dar de caras com um vampiro, e a ultima coisa que quero é minha melhor amiga virando lanchinho.

― Então... É isso. — Finalizei, lhes lançando um olhar hesitante — Acreditam?

Eles se entreolharam e então se voltaram para mim com expressões pensativas. A tensão se estabeleceu até minha mãe ser a primeira a se pronunciar ― Lucas, você sabe que isso parece loucura, não sabe?

― Sei — passei a mão no cabelo — mas eu não tenho porquê mentir...

― E quem é o rapaz que você trouxe... Esse Lucas Olioti? ― Otto perguntou

― Ele diz ser de uma liga de caçadores que existe no mundo inteiro, e que foi designado a me proteger.

― Então é por isso que ele estava no seu prédio ― mami constatou ― e foi ele quem te salvou da vampira doida naquela noite.

Arregalei os olhos — Acreditam em mim?

― Não temos motivo pra não acreditar, você não é de mentir, filho ― meu pai disse logo em seguida, o que minha mãe concordou ao assentir ― além do mais, eu cuidei do ferimento daquele rapaz... As mordidas que ele sofreu não batem com a de nenhum animal que eu tenha estudado, estava em um estado terrível. É impressionante que ele tenha chegado aqui ainda vivo.

Sorri de leve ― Ele é durão...

Minha mãe me lançou um olhar que eu não consegui bem decifrar, mas antes que eu pudesse perguntar ela se levantou e brandiu um largo sorriso ― Bem, é melhor eu preparar algo para o nosso convidado comer. ― Ela disse se retirando na direção da cozinha. Levantei uma sobrancelha e olhei para meu pai, que só deu de ombros.

Minha mãe e suas loucuras.

𝒪𝓁𝒾𝑜𝓉𝒾

Abri os olhos e pisquei várias vezes. Ainda me sentia meio grogue, mas estava bem melhor do que mais cedo. Olhei em volta e me lembrei da onde estava, e a escuridão me alarmou. Já era de noite? A Liga não tinha chegado ainda?!

Fui tentar sentar e senti um peso extra em meu peito, o que me fez franzir e encarar a bola de pêlos que dormia encolhida em cima de mim. Era o gato branco que o doutor estava segurando mais cedo. Que ótimo, como vou levantar assim?

Como se ele tivesse lido meus pensamentos, o doutor entrou no quarto e ligou as luzes. Eu semicerrei os olhos por um segundo devido à súbita claridade e logo ele estava do meu lado, colocando uma bandeja cheia de comida no criado mudo. Meu estômago respondeu na hora ― Pelo visto ela gostou de você.

Guardião por DestinoWhere stories live. Discover now