DIÁRIO DE UM URSO || PARTE 1

344 35 2
                                    

Olioti estava inquieto. Desde que deixara o rapaz no hospital ele não tinha tido notícias de como ele estava. Como era um desconhecido que não possuía nenhum grau de parentesco com a vítima, ele não podia simplesmente acompanhá-lo quando a equipe médica o levou. Além de tudo, ele não podia se expôr por muito tempo... a última coisa que precisava era ser questionado pela polícia.

Quando lhe perguntaram o que tinha acontecido, ele apenas disse que ouviu gritos perto de onde caminhava e que decidiu ir verificar, encontrando o rapaz que trazera desacordado e seu companheiro assassinado. Foi rápido ao dizer que já tinha acionado as autoridades, e antes que alguém pudesse perguntar mais alguma coisa, ele apenas pediu para que tomassem conta do rapaz e rapidamente deixou o hospital.

Horas depois de uma longa viagem, ele estava de volta ao QG de São Paulo de banho tomado e vestimentas trocadas. Ao sair de seu quarto se deparou com Christian e Mauro, que não perderam tempo em perguntar o que tinha acontecido. Olioti não estava com o humor muito bom para um interrogatório então apenas disse "Tive que levar o sobrevivente pro hospital." e seguiu seu caminho. Christian e Mauro trocaram olhares incertos e então o seguiram, decidindo que talvez não fosse o momento mais oportuno para encher o amigo de perguntas.

O trio andou em um silêncio desconfortável pelos corredores do QG — Bem, Christian e Mauro estavam desconfortáveis. Olioti nem parecia lembrar que eles estavam por perto, seu olhar distante e pensativo deixava isso bem claro. Mauro até abriu a boca uma vez para tentar começar algum assunto, mas Christian apenas balançou a cabeça antes que ele pudesse dizer alguma coisa. Ele entendia que Mauro sentia falta do velho Lucas, mas estava claro de depois do que aconteceu não teria como saber se eles teriam aquela pessoa de volta algum dia.

Lucas Olioti costumava ser um homem cabeça fria e brincalhão, a vida e a graça do QG. Mas desde aquele fatídico dia dois anos atrás ele nunca mais fora o mesmo. Não sorria mais, não brincava mais. Se fechou por completo e virou uma pessoa completamente diferente do que costumava ser... e ninguém conseguia trazê-lo de volta. Comandante Neto os aconselhou a lhe darem um tempo e não tentarem forçar nenhuma situação, já que estava claro que Olioti não queria deixar ninguém entrar, mas isso não mudava o fato que todos os seus colegas e amigos se preocupavam.

Mauro e Christian principalmente.

Mas não tinha o que se fazer por agora, então eles apenas o seguiram em silêncio. Poucos minutos depois eles finalmente chegaram no salão principal do QG, onde os caçadores se juntavam para conversar ou fazer suas refeições. Olioti seguiu em direção ao balcão onde as refeições eram solicitadas e pediu o que queria, logo depois sentando na primeira mesa vaga que avistou. Christian e Mauro logo se juntaram á ele e começaram a sua refeição. Olioti no entanto, continuava com seu olhar vago.

As coisas prosseguiram assim até Leon, o chefe de TI da base, correr na direção do trio e se sentar ao lado de Olioti — Fala galera, tudo certo?

— Na medida do possível. — Christian respondeu

— Tudo na paz — Disse Mauro

Olioti apenas assentiu. Leon já estava acostumado com o comportamento atípico do colega, mas era de partir o coração os olhares perdidos e desapotados que seus amigos mandavam em sua direção. Vendo o silêncio que brevemente se instalou como sua deixa, Leon prosseguiu — Então, eu estava fazendo uns updates no sistema enquanto a Nilce tentava descobrir quem nosso querido Olioti aqui fez o favor de transformar em pó antes de fazer pelo menos uma pergunta.

— Tinha uma vítima precisando de socorro, eu não tinha tempo à perder. — Olioti rapidamente se defendeu sem desviar o olhar do prato.

— Eu entendo cara, mas estamos em águas desconhecidas aqui. Faz anos que um vampiro não nos trás tantos problemas por tanto tempo. Precisávamos ao menos saber de quem se tratava.

Guardião por DestinoWhere stories live. Discover now