Marina
Aquele silêncio estava acabando comigo. Lorenzo não desviava seus olhos do exame de sangue.
— Tem certeza disso? — pergunta.
— Sim — respondo — esse é o segundo exame que realizo — digo — além dos testes de farmácia.
— Sempre usei camisinha — olha na minha direção.
— Camisinha fura — digo — também fui pega de surpresa — levanto e ajoelho na sua frente — mas daremos um jeito.
— Daremos? — levanta bruscamente — não posso acreditar que é meu.
— Como assim? — levanto do chão — dormi apenas com você. Foi meu primeiro — falo.
— Engraçado que nem sangrou naquela noite — cruza os braços.
— Nem todas sangram — bufo — preciso contar aos meus pais, Lorenzo.
— Estou fora — diz — não vou assumir essa criança. Tenho certeza que não é minha — solta.
— Como? — indago furiosa — vai fugir da sua responsabilidade? Maldita hora que conheci você — pego minha bolsa.
— Posso procurar uma clínica que realiza aborto e...
Imediatamente minha mão voa no seu rosto. Lorenzo alisa sua bochecha e percebo que ficará vermelho naquele local.
— NUNCA MAIS FALA ISSO — grito — EU IREI CUIDAR DO MEU FILHO. TENHO FORÇAS SUFICIENTES PARA ISSO. ENFIA ESSE DINHEIRO NO SEU RABO.
Caminho em direção a porta, abro e bato com força. Aperto o botão do elevador e agradeço quando ele chega no andar.
Saio o mais rápido possível daquele condomínio. Nunca mais colocaria meus pés ali dentro. Lorenzo morreu pra mim.
Estava começando uma chuva fraca. Percebi que algumas pessoas corriam e tentavam se proteger dela. Mas não importei. Quem sabe aquela chuva tirava essa dor do meu coração.
À chuva apertou e continuei caminhando devagar. Não estava com pressa para chegar em casa. Fui caminhando tranquilamente até a parada de ônibus. Ele não demorou muito para chegar.
Ele queria que fizesse um aborto.
Não podia acreditar no que havia escutado. Balancei minha cabeça e fiz sinal para descer. Caminhei alguns metros e logo cheguei em casa. Abri a porta e entrei.
— Marina — ouço a voz do meu pai.
— Pai, podemos conversar amanhã? — pergunta — estou cansada demais. Quero banho e cama — falo.
Apoio minha mão na parede e retiro meus tênis. Levei um susto quando fui puxada com violência. Meu pai esfregou um papel no meu resto e meu coração parou. Era um dos exames de sangue que havia feito.
— GRÁVIDA? — grita.
— Pai, por favor, vamos conversar — peço assustada.
— RESPONDE!
— Sim, estou grávida — confirmo.
— Sua vadia — sou jogada no chão — quem é o pai? — pergunta irritado.
Meu filho não teria pai.
— Ele só tem mãe — digo.
— Sabia que essa história de trabalho não daria sério — fala — eu trabalho, coloco comida todos os dias nessa casa e você resolve ficar grávida? - puxa meu cabelo.
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Recomeço
RomanceMarina abdicou de todos seus sonhos. Ela não estava esperando por aquela gravidez. Teve que mudar o rumo da sua vida, pois criaria o filho sozinha. Ela precisou recomeçar! Eduardo passou alguns anos fora. Resolveu voltar ao Brasil, abrir seu escrit...