O dia está muito lindo lá fora. Não combina em nada com o que eu estou sentindo dentro do meu peito. Ando de um lado para o outro. Paro por um instante e olho para minhas mãos trêmulas, e quase sem cor. A única cor existente é a sujeira acumulada debaixo de minhas unhas. Meu cabelo cai sobre minha testa. Pego o emaranhado e prendo num coque mal feito. "O que eu deveria fazer?" é a frase que povoa meus pensamentos o tempo todo.
Haymitch adentra o quarto sem bater na porta como sempre. Me olha com pesar, e em seguida olha para a cama onde o corpo de Peeta jaz mantido praticamente por aparelhos.
- Vá embora, descanse um pouco. As crianças precisam de você - ele diz, e eu sei que é uma ordem isso. Pela primeira vez não reluto. Estou exausta, e ficar aqui não está mudando nada. Mas só de pensar em deixar Peeta sozinho, lagrimas se formam em meus olhos.
- Hey, eu ficarei com ele - Haymitch diz quando penso em protestar.
- Qualquer coisa você promete que me liga? - eu pergunto.
Haymitch assente.
Olho para Peeta, quase irreconhecível, beijo sua bochecha pois seus lábios estão inacessíveis devido ao balão de oxigênio. Caminho lentamente até a porta, e dou uma ultima olhada para ele. E então finalmente fecho a porta atrás de mim.
Faço o caminho até a casa de Annie o mais rápido que consigo. As pessoas até tentam falar comigo, mas logo desistem. Devo estar com uma aparência horrível, ou minha expressão me denuncia que eu não quero falar com nenhum deles. Sinto falta da minha casa, mas Annie faz o melhor que pode para nos deixar a vontade nos meses em que estamos aqui. O estado de Peeta é tão delicado que os médicos não quiseram nem arriscar removê-lo do hospital daqui. Por conta disso há uma equipe médica inteira da capital e de outros distritos instalada aqui afim de salvar a vida de Peeta. Mas nem toda tecnologia, todo o avanço são suficientes para tirá-lo deste estado. Quando eu chego até a casa de Annie logo percebo que não há ninguém. Como o dia está bonito ela deve ter saído com as crianças para distraí-las um pouco desta situação. Eu me dou ao luxo de tomar um longo banho e tirar aquele cheiro de hospital, junto com a sujeira das minhas unhas. Desembaraço meu cabelo e coloco um conjunto de algodão, azul. Já deitada rolo de um lado para o outro. Não consigo deixar de pensar se o que estou fazendo é o certo. Com esse pensamento em mente finalmente adormeço. E diferente das outras vezes, não há pesadelos povoando meu sono conturbado. Em meu sonho há apenas uma janela, que irradia uma luz muito forte. Vou me aproximando até conseguir distinguir que é Peeta parado ali, em pé em frente a janela. Tenho consciência que é um sonho mas não consigo deixar de sentir a alegria me invadindo. Eu o abraço, o beijo, o aperto contra meu corpo o maximo possível como se assim pudesse fazer isto se tornar real. Peeta está maravilhoso, radiante, e parece tão feliz ao me ver quanto eu ao ver ele. Ficamos assim por não sei quanto tempo. Apenas se sentindo, sem dizer uma só palavra. Quando por fim alguém decide falar, é ele que quebra o silencio.
- Katniss, eu vi Prim - ele diz, enquanto acaricia meu cabelo. Eu não sou capaz de dizer nada pois falar em Prim ainda me deixa sem reação as vezes. E definitivamente não é algo que eu esperava. Como eu permaneço em silencio, ele continua.
- Era uma espécie de paraíso. Um lugar maravilhoso. É como nos dizem, Katniss. Sem dor, sem fome. Finnick estava lá. Meu pai. Todos estavam lá.
- C...como Prim estava? - consigo perguntar com minha voz falhando devido a emoção.
- Ah, ela estava radiante. Seus cabelos eram da cor do sol - ele sussurra.
Eu fico de frente para ele, e fito seus olhos azuis. Ele acaricia meu rosto. Sinto as lagrimas quentes escorrendo. Escorrem pelo rosto dele também.
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Depois da esperança - Peeta Mellark
FanfictionApós a terrível revolução de Panem, onde Katniss e Peeta lutaram pelos distritos, por suas próprias vidas, por suas famílias, e sofreram perdas irreparáveis, eles parecem finalmente ter encontrado um final feliz. De volta ao distrito 12, eles tentam...