Capítulo 19

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Katniss segura firmemente minhas costas, enquanto gargalha com a minha dificuldade de apenas boiar na água. Hesitante, eu vou avançando sentindo que ela me segura. Minhas braçadas se tornam mais rápidas, e eu mal percebo quando Katniss me solta, e eu estou nadando sozinho. Prim se juta a mim, e por ela ser uma exímia nadadora, consegue chegar até a outra extremidade do lago, enquanto eu ainda estou na metade do percurso. Katniss continua nadando ao meu lado, e de repente ela dá a volta por meu corpo, se colocando de frente a mim.

- E então, como me saí sendo sua professora? – ela pergunta, sorrindo.

- Melhor do que eu esperava. Estou conseguindo até nadar sem bóias. Mais algumas aulas, e eu consigo vencer Prim – eu respondo, sentindo a gostosa sensação da água em meu corpo. Avanço, e envolvo Katniss em meus braços. Olho para os lados, me certificando que Prim está bem distraída, e então começo a roçar meus lábios pelo pescoço de Katniss. Suas mãos percorrem minhas costas nuas por debaixo da água, eu passo do seu pescoço para seus lábios, beijando-a devagar. Nosso beijo se torna mais intenso, mas logo temos que nos afastar, pois Prim se aproxima. Katniss fica extremamente corada, e eu tenho que sufocar uma risada. Prim chega até nós, e nos fita curiosa. Mas ela não faz pergunta alguma, e com um olhar muito travesso, inicia uma guerra de água. Ficamos um bom tempo jogando água um nos outros, nadando, apostando corridas, e ao final da tarde, eu já estava nadando quase melhor que Katniss.

E é com essa lembrança, aflorando tão forte em minha mente que eu me acalmo, e começo a correr. Eu não devo ter percorrido nem a metade da extensão do submarino, quando andar já se faz impossível, e eu me vejo obrigado a nadar. É possível senti-lo afundando, e manter a calma começa a ficar tão difícil quanto o ato de prender a respiração. Porém, enquanto eu nado, com essa recente lembrança tão forte dentro de mim, inúmeras memórias começam a voltar. Isso faz com que eu ganhe fôlego. Vou me lembrando de quem eu realmente sou. Um padeiro, um pintor, um pai de dois filhos maravilhosos que lutaram para sobreviver desde bebês, e por fim um homem extremamente apaixonado por Katniss. Nado ainda mais rápido, escancarando todas as portas. Encontro uma trancada. Com pouco esforço eu consigo arrombar a porta. O quarto ainda não foi totalmente tomado pela água, mas assim que abro a porta, a água adentra com toda a pressão. Antes mesmo que eu a veja, Prim nada até mim e juntos, rumamos em busca da saída. Precisamos alcançar a superfície o mais rápido que conseguirmos. Sem me lembrar direito por onde entramos e sem saber se haverá uma saída, visto que o navio submergiu, decido nadar contra a correnteza pra uma saída certeira. Segurando firme a mão de Prim, refaço o caminho do quarto em que tive minha conversa com Gale. Chegamos rápido até lá, e eu não vejo Sunny em lugar algum. Pela janela estilhaçada, eu empurro Prim, tentando ajudá-la a passar pelo buraco. A pressão é imensa, e ela já está vermelha de tanto nadar. E quando eu penso que tudo está perdido e que eu não conseguirei salvá-la, ela consegue. Aliviado, e quase totalmente sem ar, é a minha vez de tentar. A pressão é muito forte, e passar por ali, sem nenhuma ajuda será algo muito difícil. Mas pensar em Prim, em Finnick, em Katniss e em meus amigos, me da um ultimo resquício de força. Meus olhos já estão completamente irritados, até doendo, por ficarem tanto tempo abertos embaixo d'água. E quando estou quase conseguindo, e até vejo os pezinhos de Prim se debatendo em seu esforço pra chegar a superfície, eu sinto algo agarrando meu pé. Me viro, e vejo Sunny, segurando meu tornozelo com as duas mãos. Eu continuo tentando sair. E com um enorme desespero, vejo a silhueta de Prim imóvel, na imensidão do mar. Preciso sair daqui. Preciso tirar Prim daqui antes que seja tarde. Antes que ela morra. Vejo o corpo de Prim começando a afundar, e por fim consigo me livrar de Sunny e sair de dentro do submarino. Mas é tarde demais. Meus pulmões pegando fogo não resistem. Eu respiro, e então começo a me afogar. A silhueta de Prim parece cada vez mais distante. Minha visão escurece totalmente. Eu me forço a continuar nadando. Em vão. E talvez Prim já esteja morta. Pensar nisso faz com que tudo se torne insuportável demais. Já não consigo manter meus olhos abertos e tudo o que eu posso fazer é torcer para que Prim tenha parado de afundar. Para que alguém tenha salvado ela. Resignado, abro meus olhos mais uma vez, porém tudo que consigo ver é o borrão de uma silhueta sobre mim. Deve ser Sunny ou Gale vindo me aniquilar de uma vez por todas. Não consigo ver Prim. Eu começo a oscilar. Tenho a impressão de estar sendo puxado. Não sei se para cima ou para baixo. Meus pulmões pegando fogo não resistem mais. Sucumbo á inconsciência, sentindo meu corpo todo arder por dentro, enquanto busco ar desesperadamente, só encontrando água... E mais nada além de água.


Depois da esperança - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora