Prólogo

58 13 0
                                    

Ele estava ali, ensanguentado no chão, murmurando coisas das quais eu não entendia e lutava para compreender. Seus olhos, antes de um verde tão intenso, os mesmos que me olhavam com tanto amor e carinho há um ano atrás, agora estavam agoniados e olhavam para o terror que havia se tornado o campo de guerra. Eu estava apavorada, não contávamos com isso, ele era um dos melhores atiradores do nosso exército e todo mundo acreditava que ele conseguiria fazer com que fôssemos o lado vencedor. Olho para os lados em busca de alguém que me ajude e percebo que ele não foi o único atingido; vários guerreiros nossos haviam sidos atingidos enquanto apenas uma pequena minoria ainda lutava contra o lado inimigo. Estava mais do que claro de que não conseguiríamos virar o jogo e que em breve todos estaríamos ou mortos ou a mercê de Irena.

Irena. Minha mãe. Uma pessoa que eu amava mais que tudo, mesmo achando que estivesse morta, uma pessoa que provou ser exatamente o contrário que sempre imaginei e que já matou mais pessoas do que eu seria capaz de contar. E ainda mata e matará, pois vejo que a pequena minoria acaba de se desfazer e poucos são os sobreviventes, que agora fogem para longe ao invés de continuarem atacando.

Volto a olhar para ele, que agora não falava nem olhava alarmado para tudo. Suas forças estavam se esgotando rapidamente e a cada segundo parecia haver ainda mais sangue no chão. Eu estava com medo de o perder e nunca mais olhar para o seu rosto. Eu estava chorando por tudo o que estava acontecendo: chorando pela a guerra que eu nunca quis que acontecesse, chorando pela as pessoas que eu estava perdendo naquele dia, chorando porque agora Irena iria finalmente conseguir virar a Moon Witch Guardiã que tanto ansiava ser e poder governar os dois lados, e chorava, acima de tudo, por ter desobedecido minha avó e deixado tudo isso acontecer, quando na época eu podia impedir.

Ele me olhava do mesmo jeito que olhava quando tinha medo de algo (o que não acontecia muito), me perguntando com olhar o que aconteceria agora, se iríamos de fato morrer e, mesmo eu achando que não conseguisse, ele perguntou:

- Aca-bou, não e-é?

- Sshiiuu, por favor não fala nada, você está muito fraco e-e... - não consegui terminar a frase, os soluços não deixavam e eu também estava um pouco ferida (comparada a ele).

- Lu-na, olha pra mim - fiz o que ele pediu, o que não adiantou muito pois minha vista estava toda embaçada por causa do choro. - não im-porta o que aconte-ça, não deixa e-la te enganar, nã-o acredita ne-la.

- Eu nunca acreditaria em uma palavra do que aquela mulher dissesse nem se fosse o fim do mundo.

- É qua-se isso ne-é? - ele diz dando aquele sorriso torto que eu tanto amava.

- Mesmo quase morrendo você nunca perde uma oportunidade de tirar graça com a situação - sorri lembrando dos momentos que já passamos juntos, nunca me cansaria deles.

- E-é isso que me dife-rencia de todos né? -- nesse momento ele para de sorrir e acaba vomitando sangue, fazendo depois careta de angústia com a dor e fechando os olhos - Luna, não im-porta o que acon-teça comigo, me pro-meta que irá con-tinuar lutando mes-mo com essa guerra quase aca-bada. Nós dois sabemos que vo-cê é a única que po-de parar ela.

- Mas eu não sei se consigo.

- Vo-cê consegue -- ele abre os olhos e olha atentamente para mim - só não se esqueça que e-eu amo você, e isso nun-ca vai mudar, ago-ra vai lá e a-caba com aque-la vadia.

Ao terminar de falar ele volta a fechar os olhos e se entrega a dor. Solto ele relutante e fico de pé, olhando-o pela última vez antes de desviar o olhar. Não há mais ninguém na floresta além de mim, ela e os corpos dos guerreiros de ambos os lados. Ela me lança um olhar de pura raiva e vingança, antes de começar a vir lentamente até mim.

- Bem, parece que o jogo vai ficar interessante agora, querida filha -- ela fala com puro deboche e começa a rir, como se tivesse feito uma piada.

- Isso é o que você pensa, mãe -- digo e, com uma raiva por tudo o que aconteceu e por tudo que perdi, deixei que as trevas me dominassem, e senti o chão sumir sob meus pés.

Depois disso não me lembro do que aconteceu, as trevas tomaram o controle...de tudo.

Moon Witch (NÃO CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora