Two

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Foi uma sensação estranha ter que passar pelo o portal. Era como se meu corpo todo estivesse sendo queimado, mas eu não sentia dor. Era quase bom. Quase. Porém não conseguia abrir os olhos e ver o que estava acontecendo. Foi muito estranho.

Isso durou apenas alguns segundos, e depois o fogo parou e pude enfim abrir os olhos. Eu não estava molhada, como achei que estaria. Era um lugar totalmente preto e vazio. Não havia nem nada, nem ninguém, nem nenhum som. Eu estava sozinha.

Comecei a caminhar e, conforme me distanciava do lugar onde entrei, percebi que havia uma porta um pouco longe. Corri até ela. Ela estava parada no meio daquele nada. Não tinha nada atrás dela, e ela parecia estar presa apenas no chão. Ela aparentava ser uma porta comum apesar da situação, até eu me aproximar mais e ver que na maçaneta estava escrito, com uma caligrafia bastante pequena e caprichosa, S. B. H. S.

Supernatural Beings High School.

Logo percebi que era pra mim abrir a porta. Coloquei a mão na maçaneta mas parei. Ainda não havia caído a ficha que, a partir do momento que eu abrisse aquela porta, tudo seria diferente. Eu não estava preparada para isso, mas tinha que arriscar. Eu precisava arriscar.

Reunindo forças das quais eu não sabia que tinha, abri a porta e entrei, e fui atingida por uma claridade fora do normal, me obrigando a fechar os olhos. Depois de um tempo, a claridade foi se amenizando e pude enfim abrir os olhos, e fiquei embasbacada com o que estava à minha frente.

Era um lugar grande e coberto por uma grama de um verde bastante chamativo. Haviam árvores perfeitamente comportadas em todo o lugar, assim como várias pessoas, algumas com malas também, saindo de portas que pareciam com a que eu tinha entrado, portas presas ao nada. Outras usavam o uniforme do campos e pareciam tentar fazer amizade com os novos alunos. A maioria das pessoas pareciam ter a minha idade e os calouros estavam igual a mim, apreciando aquele lugar. Pude perceber também que haviam alguns homens vestidos com algo que parecia ser um uniforme, que apareciam e pareciam guiar os novos alunos para dentro do campos, levando suas malas e conversando com eles enquanto mostravam o local. Não demorou muito para que aparecesse um para me ajudar também, porém esse parecia ser apenas uns dois anos mais velho que eu. Ele devia ser uns bons 15 centímetros mais alto que eu, tinha os cabelos quase completamente bagunçados e eram de um castanho quase ruivo, além de ter os olhos mais verdes que eu já vi na vida. Percebi também que o seu uniforme era diferente dos outros homens. Era menos formal e ele não parecia ligar com a gravata frouxa ou com uma parte da blusa fora de dentro da calça, e ao invés de sapatos sociais, ele usava um all star com os cadarços quase desamarrados. Na verdade, a única coisa que não me fez achar que ele fosse só mais um aluno da escola, foi um broche de prata no qual estava escrito:

Isaac Argent
Aprendiz S. B. H. S.

- Bom dia senhorita McCall, seja bem vinda a S. B., por favor, me siga até o seu dormitório e durante o caminho eu lhe mostro como o campos é e... ah, quer saber, você tem algum problema com falta de formalidade?

- Hum... eu acho que não.

- Ótimo, porque eu não aguento mais ter que falar a mesma coisa toda hora. "Bem vindo a aqui", "olá senhorita, olá senhor", "siga-me por favor". Você já é a quarta novata que eu estou recebendo hoje, então espero poder não ter que ser tão formal, e espero também que não se incomode.

- Não, por mim tudo bem. Eu até acho melhor assim. Eu ficaria sem graça também - eu disse e vi ele pegando minha mala com o intuito de levar ela durante o caminho. - Hum, pode deixar que eu levo, não precisa se incomodar.

- Eu faço questão, senhorita McCall - ele diz me dirigindo um sorriso que me fez corar na hora. Tenho que admitir que esse tal de Isaac Argent é bem bonito, mas isso não vem ao caso.

- Como você mesmo disse, sem formalidades - eu disse enquanto seguiamos um caminho cercado de árvores que dava para a entrada do campos. - Não precisa me chamar de senhorita, nem pelo meu sobrenome.

- Foi mal, mas acontece que eu não sei o seu nome. Na sua ficha só tinha o seu sobrenome e de onde você veio. Como se chama?

- Luna.

- Luna... É lua em espanhol né? - olhei para ele com uma cara de óbvio, e ele novamente sorriu. - Estou brincando, por favor não ache que eu sou um idiota. Não quero que tenha essa primeira impressão sobre mim. Aliás é nome muito bonito.

- Obrigada Isaac.

- Como você sabe o... - ele olha pro broche preso na sua camisa - ah é, esse broche...esse ridículo broche...

- Você não gosta dele? Não gosta de ser um aprendiz de... seja lá o que for?

- É uma longa história, querida Luna, mas basicamente não estou fazendo nada disso porque quero, é meio que um castigo temporário - ele disse dando um sorriso fofo enquanto entravamos no campos. Era ainda maior do que eu pensava: era todo branco com alguns detalhes em azul escuro e preto. Por todo lado havia gente, seja estudante ou não. Isaac me guiou até uma escada em espiral. Ele disse que meu dormitório era no segundo andar, o andar das garotas como ele falou. Ele explicou que o segundo andar era onde ficavam os dormitórios das garotas, e cada uma teria uma colega de quarto. O mesmo servia para os garotos, só que o deles era no terceiro andar, e o primeiro andar e parte do térreo era onde ficavam as salas de aulas.

- Quer dizer então que você é um aluno problemático, senhor Argent?

- Hum... não gosto do termo "garoto problemático", querida Luna. Prefiro dizer que apenas sou rebelde. Essa escola pode ser bem chata se você não souber se divertir do jeito certo - ele disse enquanto paravamos em frente à última porta do lado direito do corredor. Nela estava escrito com letras pratiadas: Quarto 37 F.

- Bem, está entregue senhorita McCall, ou melhor, querida Luna - ele diz botando a minha mala no chão e me dando uma chave. - essa é chave do seu quarto e da sua colega, ela também vai receber uma cópia quando chegar. Mais tarde vai vim alguém para ajudar vocês duas na decoração, e até lá, você pode explorar o campos, ou ficar aí mesmo...

- Ok, então... - eu disse olhando diretamente para ele. Eu não sabia o que fazer agora. - Hum... obrigada Isaac, a gente... hum... se vê por aí?

- Sim, claro. Eu estudo no último ano, então não teremos aulas juntos, mas eu vou dar um jeito da gente se encontrar alguma hora... - ele estava sem jeito, acho que, assim como eu, não queria ter que ir embora. - Tchau Luna.

- Tchau Isaac.

Ele me olhou bem no fundo dos olhos, e eu pude reparar que os seus olhos não tinham interferência de mais nenhuma cor que não fosse verde, o que o faziam ser ainda mais lindos. Ele então deu aquele sorriso fofo que fazia aparecer suas covinhas, e foi embora até onde a minha visão era capaz de ver.

Depois que ele sumiu, peguei a chave e destranquei a porta, me contemplando com o imenso quarto que no momento estava tão vazio.

Moon Witch (NÃO CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora