Thirteen

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Me endireitei na maca, voltando a ficar sentada, e encarei Isaac, que agora tinha uma expressão serena no rosto. Se eu já estava confusa por causa do comportamento dele antes de todos saírem, imagine agora.

- O que foi? Por que esperou todo mundo sair para falar comigo?

- Eu queria ter um pouco de privacidade com você. Conversar sozinhos sem que ninguém atrapalhe parece ser bem melhor do que se todo mundo prestasse atenção no que você fala, especialmente se você é tímido como eu.

- Então você é tímido? Eu não tinha percebido isso. Você não parecia tímido quando conversava comigo, ou com os outros.

- Os outros são meus amigos, já conheço eles tem um tempo, então não é como se fosse igual com eles, e você... bem, você também é um pouco tímida, então acho que isso ajuda nossa relação.

- Nossa... relação?

- Sim, relação de amizade. Você é minha amiga, eu sou seu amigo, tipo isso.

- Ah sim, claro, eu consegui perceber nossa relação de amizade quando você simplesmente esqueceu da minha existência e ficou olhando para fora daquela janela, foi muito reconfortante, obrigada.

- Eu sei, me desculpe, é que... sei lá, há um dia atrás estava tudo bem e de repente você está na enfermaria por ter quase morrido perdida na floresta, eu... eu ainda estou tentando lidar com tudo isso. - ele disse se levantando da maca e se sentando do meu lado.

- Eu entendo que pode ter sido um choque para todo mundo, mas eu estou bem, vai tudo voltar ao normal e, em alguns dias, todos vão começar a se esquecer disso e voltar para suas vidas. Nada mudou.

- Não fale como se nada tivesse acontecido, você quase morreu!

- Sim, mas já passou, está tudo bem! Por que você está tão paranóico com tudo isso?! - eu disse aumentando o meu tom de voz, o que fez Isaac recuar um pouco. - Desculpa, é só que você...

- Não, tudo bem, eu entendo. É só que... Luna, eu... me sinto culpado pelo o que aconteceu com você...

- Culpado? Mas pelo o quê? Você não teve nada haver com aquilo.

- Não tive diretamente, mas fui eu que insisti para que você fosse para o jogo, eu devia ter imaginado que você não saberia quais eram os limites da floresta, ou ter ficado no mesmo grupo que você para te ajudar, eu...

- Isaac, calma! - disse o interrompendo, fazendo com que ele finalmente parasse de falar e prestasse atenção em mim. - Você não tem culpa de nada! Isso que você está falando não faz o menor sentido e não é como se você fosse algum tipo de clarividente para saber o que aconteceria comigo. Ninguém tem culpa de nada, foi um acidente.

- Então por que eu sinto que tudo o que aconteceu com você foi culpa minha? - ele perguntou, até que enfim mais calmo, porém um pouco cabisbaixo.

- Porque você é um bom amigo e se preocupa comigo, mas tenha em mente que você não poderia ter evitado nada, e que eu estou bem. Isso é o que importa.

- Tudo bem, entendi. - ele disse finalmente deixando a expressão triste e voltando a sorrir, até que solta uma pequena risada. - Nossa, você chegou aqui há três dias e já fez tanta coisa, sinto com se a minha chegada estivesse perdendo para a sua de lavada.

- Ai é, e o que você aprontou para perder de mim assim tão fácil? - eu disse rindo também. Parecia que aquele clima tenso havia finalmente passado.

- Quando cheguei aqui eu estava trazendo um monte de malas, na época não haviam ainda contratado os mordomos para nos ajudar à se instalar e por isso apenas o conselho escolar estava na entrada nos recebendo, porém eu obviamente não sabia disso e pensei que eles fossem os empregados daqui, então eu fui até a mulher que parecia ser a líder do grupo, a senhora Cass, cheguei nela e a dei todas as minhas cinco malas para ela segurar e disse algo do tipo: Ande logo e leve-as para o meu quarto, eu estou muito cansado e tal, foi só bem depois que eu me toquei do que eu estava acontecendo, e isso só aconteceu porque ela me lançou um olhar que, por Deus, até hoje eu me lembro - ele disse e então arregalou os olhos e ficou me olhando com uma expressão de pura irritação fazendo um perfeito O com a boca, imitando a cara da diretora. Não aguentei e comecei a rir, muito mesmo. Isaac de alguma forma sempre conseguia me fazer rir quando estava por perto, e isso me fazia muito feliz. - Desde então ela não vai muito com a minha cara e sempre que pode me põe em algum tipo de castigo por algo que eu fiz. Azar o dela, ela não sabe o que está perdendo. - ele então fez uma cara maliciosa e piscou o olho, o que só me fez rir ainda mais. Parecia que desde que eu havia acordado aquela era a única coisa que eu andava fazendo.

***

Depois de um tempo começou a chover. No princípio era apenas um leve chuvisco, mas logo virou uma tempestade. A luz que os relâmpagos criavam toda vez que eu me virava para a janela da enfermaria eram atordoantes, e cada vez que acontecia um trovão eu me encolhia. Isaac havia ido embora fazia um tempo, pois tinha conseguido apenas alguns minutos extras de tempo com a enfermeira, então ele se despediu e foi para o seu quarto.

Eu havia passado grande parte do dia ali, e naquele momento estava deitada na maca tomando um soro e olhando para a chuva. Só fui ser liberada horas depois, quando já era de noite, por volta das 22:00. Estava fazendo o trajeto para o meu quarto quando percebi que eu não havia comido quase nada o dia inteiro, então dei meia volta e fui até o refeitório, que por sorte ainda estava aberto. Peguei uma Coca-Cola e um sanduíche natural e refiz o trajeto até o meu quarto. Entrei em silêncio, imaginando que Malu já estivesse dormindo, quando vi que ela estava deitada na cama lendo um livro. Quando me viu, ela abriu um sorriso e veio correndo na minha direção e me abraçou, quase me fazendo derrubar o meu lanche.

- Até que enfim te liberaram, já estava começando a achar que você só sairia amanhã. - ela disse quando finalmente me soltou. - E aí, como você está?

- Eu estou bem, apenas com fome e cansada. - eu disse me sentando na cama e abrindo meu refrigerante.

- Cansada? Mas você não fez nada o dia inteiro. - ela disse rindo e se sentando do meu lado. Ela então pegou o meu sanduíche e deu uma mordida.

- Ei! - eu disse pegando um travesseiro e atacando ela, o que só a fez rir mais.

Ela então saiu correndo com o meu sanduíche nas mãos.

- Volta aqui, sua doida! - eu disse correndo atrás dela. E assim começou uma corrida em busca do meu sanduíche, até que eu me cansei e voltei a sentar na cama. Malu logo voltou com a boca toda suja trazendo metade do meu sanduíche.

- Amanhã eu te dou o meu lanche. - ela disse dando um sorrisinho, meio que se desculpando.

- Tudo bem, só que se eu já estava cansada antes, imagina agora depois de ter corrido feito uma louca atrás de você. - eu disse comendo o resto do sanduíche.

- Você só deu quatro voltas pelo quarto, não foi uma maratona. - ela disse limpando a boca com a mão. A mão que tinha a fitinha azul.

- Mesmo assim, para pessoas sedentárias como eu, isso foi muita coisa... Malu?

- O quê? - ela perguntou enquanto dividia a Coca-Cola comigo.

- Por que você está usando essa fitinha no pulso? - eu perguntei, fazendo com que ela se engasgasse levemente com a bebida.

Ela então me lançou um olhar de dúvida, como se estivesse debatendo algo consigo mesma, me deixando ainda mais curiosa.

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⏰ Última atualização: Oct 02, 2020 ⏰

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Moon Witch (NÃO CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora