One

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- Luna? Luna, minha querida, acorda! Hoje é o grande dia! Anda!!!

Acordei com a minha avó me chamando e quase me derrubando no chão de tanto me sacudir. Pelo tom de sua voz, ela parecia está bem alegre e animada com o dia de hoje, como se o aniversário fosse dela e não meu. Eu estava completando 18 anos naquele dia e, ao contrário de muitas pessoas que estariam felizes e comemorando que nem a minha avó, eu não achava que esse dia merecesse tanta alegria e festejo. Eu sabia o que significava.

- Pra quê? Por que é o meu último dia aqui com a senhora? Você sabe o que eu penso disso tudo.

- Luna, minha linda, não fica assim, não é o fim do mundo, não tente focar só nas partes ruins. E também, como você mesma disse, é o nosso último dia juntas, quero aproveitá-lo ao máximo com você. Não pense que é só para você que está sendo difícil.

- Eu sei vó - digo me sentando na cama e ficando de frente para ela. - É que...tudo vai mudar agora...e eu gostava de como as coisas eram antes.

- Eu também minha pequena, acredite, se dependesse de mim, nada disso seria assim, mas desde sempre você soube que esse dia chegaria.

Por mais injusto que eu achasse, ela estava certa. Desde quando eu ainda era muito nova minha avó já me contava que um dia eu teria que ir para uma escola especial para poder controlar e saber usar corretamente os meus dons. Essa escola, chamada Supernatural Beings High School, ou simplesmente S. B., como os estudantes de lá chamam, era um internato para todos os tipo de seres sobrenaturais, que servia para ajudá-los a controlar os seus poderes, entenderem como surgiram e o que fazem, testarem até onde os poderes vão e, acima de tudo, guiar os alunos para o lado do bem. Todos os seres sobrenaturais do mundo sabiam da existência desse internato pois, além de ser o único do planeta, era uma lei que quando o indivíduo completasse a maior idade, ele teria que ir para lá para aprimorar seus dons e talentos durante três anos, para depois voltarem as suas vidas. Essa lei existia para que pessoas como nós, digamos, peculiares, não deixássemos que os humanos descobrissem da nossa existência. Se isso acontecesse, todo o mundo sobrenatural poderia ser caçado e vários seres virariam experimentos e morreriam. Não gosto nem de pensar nisso, por isso sei que o melhor é eu ir. Já aconteceu de eu ser descuidada e alguém ver, tipo, uma caneta sobrevoando durante a prova, ou eu adivinhando estranhamente o que uma pessoa estava pensando... Eu sou muito desastrada e quase nunca tomo cuidado. Eu tenho o dom de fazer qualquer coisa se mexer com a força da minha mente, além de poder ler o pensamento de humanos, e apenas deles. Esses três anos serão os mais longos da minha vida, ainda mais porque não poderei ver minha avó durante todo esse tempo, e isso me faz odiar ainda mais o fato de hoje ser o meu aniversário.

- Eu sei vó...eu sei, só...vou sentir sua falta sabe - digo com lágrimas nos olhos e soluçando. Que ótima forma de começar o dia.

- Querida, vem cá - ela diz abrindo os braços e me dando um abraço, do qual eu me aconchego e começo a chorar - esses três anos vão passar rapidinho e quando você voltar, vai estar mais forte e segura de si, e não precisará mais ficar se escondendo aqui comigo. Poderá explorar o mundo lá fora e viver sua própria vida.

- Mas quem vai cuidar da senhora?

- Minha querida, eu posso ter quase sessenta anos mas ainda sei me cuidar. Só peço que não se esqueça da velha aqui. Ela te ama muito.

- Eu também te amo muito vovó e eu nunca deixaria a senhora, nunca! - digo olhando para ela. - Quando esse tempo passar eu vou voltar à morar com você e tudo voltará a ser como era antes.

- Que Deus te ouça minha filha, agora enxugue essas lágrimas e bota um sorriso nesse rosto, quando for a hora exata do seu aniversário você vai até a ponte e vai atravessar o portal, então até lá vai ser só alegria nessa casa, ok?

- Ok.

- Eu vou lá na cozinha fazer um café da manhã enorme que você merece enquanto você toma um banho, está bem? - ela diz me dando um beijo na testa e indo até a porta.

- Está bem vó, já estou indo - digo dando o meu melhor sorriso.

Ao fechar a porta, esse sorriso some e começo a olhar pro meu quarto. Vou sentir falta dele. Ele não é enorme, nem tem muita coisa, mas foi o meu quarto desde quando nasci e é estranho dar adeus à ele. Vou até o banheiro e me olho no espelho. Há olheiras em baixo dos meus olhos por causa das noites mal dormidas, mas nada que uma maquiagem não resolva. Meu cabelo estava mais ondulado que o normal e eu gostei disso, deu mais volume à ele. Meus olhos são de um castanho quase preto, assim como o meu cabelo. Minha pele é branca, quase pálida e eu sou muito magra, não tenho um corpão nem algo que chame atenção logo de cara. Pareço até ser uma pessoa normal, o que eu estou muito, mas muito longe de ser.

Quem me olha nem imagina do que eu sou capaz.

***

Já eram 18:10, faltavam oito minutos para eu completar oficialmente dezoito anos e ter que atravessar o portal. O dia com a minha avó não poderia ter sido melhor. Fizemos tudo o que eu gostava de fazer: primeiro o café maravilhoso, depois fizemos brigadeiro e pipoca e fomos assistir séries, ela cuidou de mim, me arrumou para eu chegar linda, arrumou os meus cabelos com uma de suas tranças que eu nunca aprendi a fazer e arrumou a minha mala botando apenas alguns pertences meus, tudo que eu precisasse já estaria no S. B.

Nesse momento eu já estava perto do portal, que era uma pequena ponte que atravessava um lago. Para atravessar o portal e chegar no outro lado, eu teria que pular no lago. Por eu não ser humana, eu seria imediatamente levada para o internato no momento que eu tocasse na água. Olhei no meu celular. Faltavam cinco minutos para às 18:18, o que me fez perceber que eu faria 18 anos às 18:18 de 2018. Ri com o pensamento. Que coincidência o dia da minha maior mudança estar cercado com o número da minha idade.

Olhei para trás e vi ela, Abigail McCall, minha avó, a pessoa que mais cuidou de mim em toda a minha vida... a pessoa da qual eu mais sentiria falta nessa nova vida...

Fui até ela e lhe dei um último abraço. Um abraço cheio de amor, carinho e saudade. Ela chorava, sentiria o vazio também. Ela era como uma mãe pra mim... uma mãe que eu nunca tive e que é a minha avó.

- Vá logo minha querida... faltam só mais dois minutos e depois o portal não vai mais se abrir, então ande rápido.

- Eu já vou, só quero dizer mais uma vez que te amo, e que você é a pessoa mais importante da minha vida. - eu disse chorando e me afastando.

- Eu também a amo, só me prometa uma coisa Luna.

- O quê?

- Não importa o que aconteça, não importa o que venha, nunca deixe de seguir o lado do bem. Não deixe se levar pelas as trevas. - ela disse séria.

- Claro vó, isso nunca aconteceria - eu disse me apoiando no pequeno muro que separava a pequena ponte do lago. Faltava apenas alguns segundos. - Adeus vovó.

- Adeus Luna. Até daqui três anos.

A olhei pela última vez, depois me joguei no lago.

Moon Witch (NÃO CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora