Capítulo 27

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20 de Março - Terça - feira

- Papai, mamãe, vocês não vão acordar? - Abro os olhos devagar até dar de cara com um par de olhos profundamente azuis me olhando.

- Vamos, Malik. - Olho para o lado e Emilly continua dormindo, coloco o dedo sobre os lábios pedindo silêncio ao Malik e falo baixinho. - O papai vai, deixa a mamãe dormir, ela dormiu bem pouco essa noite.

Me levanto e caminho para fora do quarto levando Malik comigo.

- Papai é hoje que meu irmão vai nascer? - Desde que ele chegou à mesma pergunta se repete todas as manhãs. E, consequentemente, a mesma resposta também.

- Não sei, guri. Não temos como saber, mas já está bem perto. - Afago sua cabeça, dou-lhe um beijo na testa e o sento no banquinho alto da cozinha.

- Tá com fome? - Pergunto rindo, ele vive com fome, igual à Emilly.

- To. Muita fome. - Diz sorrindo.

A chegada de Malik foi uma revolução para todos nós, o guri logo fez com que todo se apaixonassem. Meus pais babam nele, Volnei, Dada e Mayla também. Tem sempre alguém aqui querendo levá-lo para passear, cinema, sorvete, a vida social dele está mais agitada que a minha, alias, vida social não temos no momento, o máximo que fazemos é ir à casa dos meus pais ou na do Volnei. A Emilly tá enorme e muito ansiosa, não que eu não esteja, mas tenho controlado a minha ansiedade para não piorar a dela.

Ontem, segunda-feira, Malik começou na escola, na mesma escola do Derick, achamos que seria bom ele ter o primo junto, mesmo sendo mais velho, ele gostou do seu primeiro dia, não teve dificuldades. Eu o levei até lá e fiquei esperando, orientação da coordenação da escola, como ele chegou e as aulas já haviam começado, pediram para que aguardasse ao menos uma hora, eu fiquei lá, sentado, até a hora do intervalo, quando fui delicadamente dispensado por ele.

- Papai, você tá aqui ainda? - Ele veio correndo na direção e me abraçou. - Por quê?

- To aqui conversando com as pessoas, vendo se tá tudo bem, se você fica bem... - Malik balançou a cabeça e riu.

- Papai, eu sei me cuidar, tá tudo bem, a Tia Dada vai levar eu e o Derick pra casa depois da aula, vai pra casa cuidar da mamãe, ela não gosta de ficar sozinha. - Eu sorri, lhe beijei a bochecha e fui embora pensando o quanto é independente e esperto o meu guri.

A grande discussão desses dez dias aconteceu dois dias depois da chegada de Malik e girou em torno exatamente da escola, se o colocávamos aqui ou se só quando fossemos pro Rio. A decisão foi dele, numa conversa franca, com todos os adultos envolvidos, foi ele quem resolveu a questão.

- Meu filho, colocar ele na escola agora e daqui a três meses mudar ele, não sei. - Minha mãe argumentava.

- Já já o Marcos Felipe chega, o guri estando na escola simplifica as coisas, ao menos de tarde. - Meu pai ponderou.

- Ele já está atrasado mesmo, tem um mês e meio que as aulas já começaram, não seria melhor um tutor para mantê-lo atualizado e só voltar quando já estiverem estabilizados no Rio. - Volnei também opinou.

As propostas variavam e Emilly e eu só ouviamos, a decisão seria nossa, só nossa, mas é sempre bom ouvir pontos de vista diferentes, assim teríamos base para decidirmos. Malik já havia me cutucado algumas vezes e eu pedido que ele aguardasse, ele aguardou, o quanto aguentou, é claro.

- Papaiiiiii! - Sua voz infantil tomou a mesa e todos olharam pra ele.

- Que é, guri? - Ele me puxou e falou baixo em meu ouvido.

Enquanto não volto pra vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora