Capítulo 2

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Chatsworth, 07 de Outubro de 2017

Piciiiiiinho,

Eu to com muiiiiitaaaaa saudade...  Que merda.... Que inferno... Que saudade de ti. 

Hoje foi foda, primeiro dia de folga, alguns médicos me chamaram para um bar na cidade... Cara eu precisava espairecer um pouco sabe... tu sabe... claro que saaabe. Daí a gente tava lá no bar e um casal que foi junto começou a discutir. Véio, eu já não tava no clima, fui mesmo para dar uma relaxada (é, to bebado, mas só um pouquinho) e os caras começara a bater boca na frente de todos. Eu levantei pra vir embora, eu tinha tomado um copo de cerveja, eu não queria ver briga, eu queria relaxar, mas daí o cara falou pra namorada pra ela sair da vida dele que ele faria o mesmo. Eu só conseguia olha pra a feição dela, o olhar triste, eu só conseguia lembrar de você, de mim, de nós. Foi duro ver aquela cena, foi quase como reviver a nossa briga. Eu bebi todas Nenê, os caras me trouxeram pro refeitório pra tomar um café, eu sinto tanto pelo que disse. 

Eu não escrevi a primeira carta pra ti achando que seria única, só não achei que a necessidade de escrever a segunda fosse chegar tão rápido. Cara, que loucura. Eu te escrevendo e olhando uma foto nossa, aquela no quarto do Maylão, nossa primeira foto juntos, foi a única que eu não tive coragem de apagar do celular. 

Porque que a gente brigou mesmo? Eu tenho certeza que foi algum motivo idiota, que eu fui idiota, que tu foi idiota, por que é assim que somos quando brigamos, dois idiotas. Ah, lembrei, tu não quis assumir a gente, tu não quis me assumir. Tu riu de mim, eu só queria gritar por mundo que tu é minha e que eu sou seu, ops, que tu era minha e que eu era teu. Caralho, como dói colocar a gente no passado. Ah, nenê, tu tá tão linda na foto, tu encaixa tão bem nos braços, seu tamanho é perfeito pro meu... tudo em ti é perfeito pra mim. Era, né? Que MERDA Emilly. Porque tu não gritou comigo quando eu disse pra tu sair da minha vida? Porque tu não me mandou calar a boca? Porque tu saiu pela porta sem ao menos olhar pra trás? EU TE AMAVA... eu te amo, Picinho.

"Eu preciso respirar, eu preciso beber, eu não quero ficar sóbrio, eu quero estar bêbado como nunca estive na vida, eu não quero lembrar da briga, não quero lembrar dela saindo do apartamento, do seu último olhar pra mim antes da porta fechar... Mas a cena vem, clara como água, toda ela. Não vou descrever, tenho certeza que ela lembra, tal como eu, de cada mínimo detalhe. De cada acusação, cada tom de voz alterado. Idiotas, somos dois idiotas. 

Apoio minha cabeça entre as mãos, cotovelos apoiados na mesa do refeitório, são onze horas da noite, calculo rapidamente a diferença de horário, são 6 da tarde no Brasil, corro minha mão pela foto imaginando o que ela está fazendo agora, provavelmente comendo, hora do lanche,  e hoje é sábado - MERDA - a voz escapa alta da minha garganta. Sábado... provavelmente ela vá sair, né? Viro o celular para não olhar mais a foto, não surte efeito, a imagino linda, num vestido justo ao corpo, sexy. O ciúme me toma de supetão e não consigo conter a raiva que me explode no peito. Me levanto, vou até a máquina de café e volto com a minha caneca cheia e fumegante. O café me acalma um pouco o espírito, sei que não tenho mais esse direito, eu sei, minha razão sabe, meu coração, meu coração ignora completamente tal fato. Sorvo mais um gole quente e me concentro de novo em escrever."

Eu ainda não consigo entender suas razões, não consigo, mas foda-se, você tinha elas e nós tínhamos combinado. Porque tu não tentou ao menos entender as minhas, eu não aguentava mais aquela situação, aquele jogo de esconde esconde, fotos vazadas, você acompanhada de outros caras. Ah! O processo. Que FODA-SE o processo, eu sei da verdade, tu sabe da verdade, era só isso que importava, não? Não, você disse que não. Tinha mais em jogo, talvez, inclusive, minha carreira, você tava tentando me proteger mais uma vez e eu não vi. Só vi que tu não queria me assumir. Me doeu, me doeu muito, quase tanto quanto quando me disseram que tu tinha pedido minha expulsão. - Ela não me quer na vida dela, não oficialmente. - Foi isso que eu entendi. Eu não queria mais daquela forma e joguei pesado, arrisquei tudo, como naquela fatídica carta e, mais uma vez, te perdi.

Tu é durona, orgulhosa, eu entendo, também sou. Aquela curtida no post da viagem... Ah! Eu ri que nem um garotinho, eu fiquei feliz, muito feliz, tão feliz que achei que podia arriscar mandar uma mensagem... não funcionou... tu não respondeu. Era a certeza que eu tinha que vir, mesmo assim tu sabe, arrisquei de novo, aí tu respondeu, e eu preferia que não tivesse respondido.

Eu... eu sei que tu tem direito de ser feliz sozinha, se assim desejar, mas eu não desejo isso, só vou ser feliz com você, de qualquer outra forma eu vou somente viver, mas, se tiver que ser assim, vou me esforçar.

Tu é unica, é TOP, é o meu nenê, meu chêlo, meu Picinho, meu Pinscher louco, tu és e sempre será o amor pra mim. 

Eu preciso parar, eu preciso dormir, eu preciso ficar sóbrio, mas eu não quero, eu não quero parar, essas linhas me levam pra perto de ti, diminuem esse oceano que nos distância, tornam meu amor por ti mais real.

Hoje, mais do que nunca, tu estará comigo em meus sonhos, sua voz rouca sussurando em meu ouvido, me pedindo pra te fazer gozar, pra te ter, porra, eu te quero tanto que só de imaginar meu corpo já está quente ...

O que eu mais queria agora era tua voz me chamando... Meu bem

Caralho, que saudade.

Queria estar aí com você,

Marrrcos.

"Me levanto e guardo no bolso a carta escrita nos guardanapos do refeitório. Caminho refletindo  o quanto essa noite vai ser difícil, talvez a mais difícil de todas até agora. Não é o ficar acordado que me incomoda, eu sei que não ficarei. É o dormir, dormir e ter a certeza que meus sonhos serão invadidos por uma morena pequenina com uma manchinha na têmpora esquerda.

Me sento na cama de campanha e pego de dentro da mochila uma pequena camiseta branca, a trago para junto do rosto e respiro fundo, seu cheiro invade minha mente, me acomodo da melhor forma possível e fecho meus olhos. - Vem, Picinho, to te esperando."


Enquanto não volto pra vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora