Ao voltarmos pra casa, tomamos um banho, devoramos mais um pedaço de pizza e nos deitamos. Ela se ajeita de lado, a cabeça em meu peito.
- Meu bem... - Diz de forma arrastada, claramente com sono.
- O que, nenê? - A olho sorrindo.
- Porque essa rusga na testa desde que voltamos da rua? - Sua mão alcança meu rosto e ela passa a mão na minha testa, onde a rusga se encontra. - Tu mudou de ideia quanto a nós? - O tom preocupado me faz responder rápido.
- Não, picinho, tá maluca, claro que não.
- Então o que tá te preocupando? - Eu abro a boca pra responder, mas ela completa antes que eu fale algo. - De verdade, é importante falarmos tudo, a gente guardou tanto por tanto tempo.
- Eu sei, eu vou falar. - Respiro fundo e digo. - É o Malik. - Ela me olha curiosa.
- O que tem o Malik? Tá tudo bem com ele?
- Hum hum. Tá sim. É só que eu... - Como dizer isso, como dizer que, mesmo ela estando grávida do meu filho, ele não será o meu primeiro filho, afinal, antes de saber que ela estava grávida eu já tinha por Malik um amor paternal, já me sentia pai dele.
- Diz, meu bem, você pode me dizer qualquer coisa, e aí a gente conversa sobre. - A voz compreensiva e tranquila me acalma.
- Você sabe do meu amor por aquele guri. Você sabe o quanto foi difícil deixá-lo lá. - Ela movimenta a cabeça concordando com minha fala. - Eu não queria deixá-lo, essa nunca foi uma opção. - Seu olhar é de dúvida, ela não está entendendo o que estou falando. - Eu consegui que ele se mudasse pra casa de Chuma, por enquanto, pra ter uma educação melhor e uma vida melhor enquanto... - Droga, meu coração está acelerado, o medo de estragar o que acabamos de consertar é imenso, mas não posso esconder isso dela.
- Enquanto... - Ela está atenta a mim. Sua mão repousada em meu peito com certeza sente a aceleração do meu coração. - Você tá nervoso, meu bem, o que é? Me fala, por favor.
- Eu vou falar, é só que, eu to com um pouco de medo da sua reação. - Digo sincero.
- Meu Deus, Marcos, o que pode ser tão sério assim pra você estar com medo da minha reação, fala logo. - O tom agora é impaciente.
- Eu... Agora quando estive lá, dei entrada no processo de adoção de Malik. - Pronto, tá dito. A olho ansioso.
Ela me olha séria por alguns instantes, se afasta do meu peito e se senta, braços cruzados no peito. Eu to apavorado, ridiculamente apavorado. Ameaço falar, mas ela movimenta a cabeça indicando que não, então me calo. De repente seus olhos umedecem e as lágrimas começam a correr, me sento e a abraço, mas ela não corresponde.
- Porra, Emilly, não me diz que tu não concorda com a ideia, pelo amor de Deus. Eu... - O olhar de Demy tá ali, ela tá brava, muito brava. Me empurra o peito e começa a falar baixinho, quase num sussurro.
- Eu não esperava outra coisa de você, não depois de ler suas cartas, depois do pouco contato que tive com ele, de ouvir em vocês o amor que tem um pelo outro. - Ela diz ainda brava.
- Então porque tu tá brava? - Eu to confuso, se ela não esperava outra coisa, o que tá incomodando ela.
- Eu to brava por passar por essa sua cabeça oca que eu poderia reagir de forma diferente a concordar. Porra, Marcos, eu achei que a fase do me ter em tão baixa conta tinha passado. - Um bico gigante se forma e alguns soluços também.
- Não, picinho, não é isso, não foi por isso que eu fiquei com medo, não foi o concordar ou não, foi o fato de você estar grávida do meu filho e eu desejar adotar o Malik antes mesmo do nascimento dele.... Antes inclusive de saber que você estava grávida. - Passo a mão pelos cabelos, nervoso. - Eu não sabia como você ia se sentir com isso, eu...
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Enquanto não volto pra você
FanfikceEles tentaram de todas as formas, tentaram se perdoar, tentaram ser felizes juntos, tentaram viver o amor, mas, por alguma razão que ambos não compreendiam, não foram capazes. Quanto maior a distância mais fácil esquecer. Será?