Capítulo 8 - Guilda Smalter (Parte 1)

640 99 2
                                    


O sol do final do outono iluminava o gramado dos jardins internos do castelo de Drugstrein, onde Kayan permanecia em pé e concentrado. Apesar da proximidade do inverno, o dia estava quente e o jovem mago permanecia apenas com as calças e sem a túnica. Tentou novamente o feitiço enquanto movimentava sua mão esquerda sobre o antebraço direito. A lâmina negra do giudecca alongou-se a partir de seu punho e tomou forma. Esforçou-se em enviar a energia necessária para que ela permanecesse ali, mas a espada explodiu em um relâmpago escuro. O choque arremessou o jovem para trás e ele desequilibrou-se e caiu na grama. Deitou-se e ali permaneceu alguns minutos entretido em seus próprios pensamentos.

Não deu certo... por que será que é tão difícil mantê-la ativa? Fechou os olhos enquanto raciocinava e sentia a breve brisa refrescando-lhe.

– Você está bem?

Reconheceu a voz e abriu os olhos no mesmo instante para observar os cabelos castanhos quase chegarem até o seu rosto. Sarah inclinava-se para fita-lo e Kayan observou por um instante os belos traços de seu rosto. Por fim, a garota sentou-se na grama ao seu lado. Ele imitou-a e eles permaneceram daquela maneira.

– Faz muito tempo que não ficamos aqui conversando, não é?

– É mesmo, Kayan. Principalmente esta última lua em que combatemos goblins e orcs no norte.

– Na época em que éramos aprendizes ficávamos aqui todos os dias de folga, você o Mathen e eu.

– Eu me lembro disso como se fosse ontem. Num dos primeiros dias de folga aquele Viktor Smalter atacou você, que quis enfrentá-lo sozinho para nos proteger.

Kayan pensou um pouco antes de responder.

– Ele acabou levando a melhor daquela vez. Se ainda estivesse aqui daria o troco nele. Talvez até você e o Mathen poderiam enfrentá-lo. Nossa equipe tem se tornado forte e estamos sendo bem reconhecidos aqui na ordem.

– Sim. Kayan, me ajude em uma coisa?

Sarah virou-se para olhá-lo diretamente nos olhos. O Atreius apenas virou sua cabeça para lado da garota.

– E como eu poderia recusar quando me olha desta maneira?

Ela deu uma risada sem graça antes de prosseguir.

– Me ajude a treinar os feitiços de fogo?

– Claro. Mas por que esse interesse repentino?

– Quero me tornar mais ofensiva. A minha magia branca e as de água ajudam bastante, mas convenhamos que eu não seja muito boa em combate.

– Você é fundamental para a equipe, Sarah, nos dá suporte e já nos salvou diversas vezes.

– Sei disso e ainda desempenharei esta função na equipe. Mesmo assim gostaria de ajudar mais em combate.

– Se está tão determina a aprender, será um prazer ensiná-la.

Ele sorriu para ela, que sorriu de volta.

– Kayan.

Ao ouvir seu nome o rapaz virou-se para ver quem o chamara e deparou-se com um rapaz franzino e de cabelos loiros. Lembrava-se dele na época em que eram aprendizes, mas não se recordava de seu nome. No entanto, sabia que ele não havia passado nos testes da primeira vez e fazia pouco tempo que ele engrossava as fileiras de Drugstrein.

– Pode falar.

O mestre de elite Ashtar Asford mandou chamá-lo. Ele está na sala de planejamento quatorze.

– O que será que ele quer comigo?

– Não sei, apenas pediu para que te chamasse.

– Então é melhor eu ir logo, ele não é o mais paciente entre os mestres de elite.

Levantou-se e ajudou a garota a se levantar.

– Te vejo mais tarde.

– Certo.

Em seguida, pegou a túnica que estava pendurada no galho de uma árvore próxima e caminhou em direção ao castelo enquanto se vestia.

* * *

Kayan caminhava pelo longo corredor enquanto imaginava o que o mestre poderia querer com ele. Suas respostas viriam em breve, pois ele acabara de chegar em frente a sala de reuniões quatorze e já virava a maçaneta para entrar.

Assim que entrou na sala viu o mestre de elite que estava sentado em uma cadeira atrás de sua mesa e observava o lado de fora por uma grande janela aberta. Uma suave brisa entrava na sala, agitando os cabelos negros e longos de Ashtar. À direita da entrada, sentada em uma confortável cadeira, estava uma conhecida de Kayan que possuía belos cabelos azuis na altura de seus ombros. Surpreso, ele se dirigiu primeiramente à Cyren.

– Thays. Você também foi chamada?

– Você logo entenderá, jovem Kayan – o mestre dirigiu-se a ele ainda de costas. – Demorou para chegar, foi difícil encontrá-lo?

Enquanto o rapaz respondia, o Asford virava sua cadeira para fitar ambos os presentes.

– Peço-lhe desculpas pela demora, mestre Ashtar – respondeu com polidez. – Mas estava treinando e resolvi tomar um banho e trocar-me para estar apresentável.

– Acho que esqueceu-se dos cabelos.

– Na verdade gosto deles assim mesmo, bagunçados – como que para demonstrar a veracidade do que dizia, levou a mão direita até a cabeça e bagunçou ainda mais seus cabelos.

– Tudo bem, então – respondeu com um meio sorriso. – E como está sua equipe? Soube que passaram cerca de trinta dias ajudando a combater as invasões dos bárbaros no norte.

Mesmo sabendo que não estava ali apenas porque o mestre preocupava-se com sua equipe, Kayan segurou sua curiosidade e respondeu-lhe.

– Todos estão bem. Estive com Sarah Harppon há pouco e Mathen Muscort visita seu pai na enfermaria, porque ele se feriu em sua última missão.

– Ah! sim, Alfonse Muscort e Marie Dier. Excelentes magos liderados pelo mestre Thomas Durgan. Geralmente fazem missões de classe B. Alias, aquele Afonso Dier que foi dominado por Dougan Kirel tem parentesco com Marie, não é mesmo?

Kayan pensou um pouco sobre o que sabia sobre a família do amigo. Os Muscort eram numerosos, mas os Dier, família da mãe de Mathen, eram ainda mais.

– Acho que um primo distante de Marie, mas o próprio Mathen mal o conhecia.

Após aquela breve e amistosa conversa, Ashtar adotou um tom um pouco mais sério.

– Enfim, vamos ao que importa. Podem se aproximar?

Thays levantou-se e se aproximou de Kayan e, juntos, ficaram logo a frente da ampla mesa do mestre de elite.

– Agora vou lhes dizer o porquê de ter chamado vocês até aqui. Escolhi as suas equipes devido ao mérito de missões anteriores, para executarem uma importante missão de classe A em conjunto.

– Uma classe A para duas equipes sem um mestre? – perguntou-lhe o Atreius, meio confuso.

– Ah sim, isso parece assustar vocês, mas haverá um mestre, e a missão será realizada com quatro equipes, na verdade. Vocês se unirão a duas equipes da guilda Smalter, que, como vocês sabem, é aliada de Drugstrein. Esta guilda está em guerra contra outra guilda chamada Garforden. Normalmente as ordens não tomam partidos, mas existem regras em uma guerra entre guildas e a Garforden quebrou essas regras. Terão mais detalhes quando chegarem lá.

– Entendo – afirmou Thays enquanto enrolava uma mecha de seus cabelos no indicador da mão direita. – Antes de aceitar esta missão terei que conversar com minha equipe.

– O mesmo para mim.

– Certo. Estarei nesta sala, mas apressem-se, pois o tempo é curto. Dou-lhes uma hora.

Ao dizer aquilo, Ashtar retirou uma ampulheta de uma das gavetas e virou-a sobre a mesa enquanto sorria para o casal.

A Ordem de Drugstrein - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora