Breaking The Rules

4: Clara.

Só tenho uma coisa para dizer dessa casa: uau! Ela é simplesmente enorme e linda. Muito linda! Tem um quintal enorme na frente e uma piscina atrás. Já me mostraram os cômodos que vou ser responsável por limpar e eles são... todos os cômodos. Mas eu não vi problemas. Pelo menos estou empregada e vou receber meu dinheiro mensalmente. E minha equipe de trabalho não é tão ruim assim, não de primeira vista. Temos a Sra Jordan, que é responsável por preparar a alimentação. Ela é uma senhora de idade e foi a única que me recebeu de braços abertos. Também temos a Milla Crewe, aquela que também estava na entrevista comigo, e ela realmente é muito metida. Mal chegamos e ela já começou a escolher trabalho. Já reparei que vou ter que trabalhar em dobro, já que ela não quis fazer nada até agora. O Jonny é o motorista que foi me buscar hoje mais cedo. Ele é bem gente boa e também é responsável por limpar o jardim. E por último, e não menos importante, temos a Srta Menna, que é a babá do Cash.

Também me falaram um pouco da família. O Sr e a Sra Clarke tem três filhos: o mais novo tem um aninho e se chama Cash. Vi ele já hoje com a babá, ele é super fofo. O do meio é o William e tem 10 anos. A Sra Jordan disse que tenho que cuidar muito dele, porque todo dia ele vai jogar bola no jardim e volta todo cheio de terra, sujando assim a casa inteira. E o mais velho se chama Dylan, e eu ainda não vi ele por aqui hoje. Mas foi só tocarem no nome dele que a Milla ficou toda assanhadinha. Me explicaram que ele é um deus grego, mas eu nem liguei. Vim aqui para trabalhar e ponto final.

A pior parte de tudo isso são as regras que temos que seguir. Li um pouco delas naqueles relatos que estavam na internet, mas não achei que fossem reais. Na teoria elas são até que simples, mas eu sei que vou acabar me  lascando na prática. Na cidade onde morava todos eram muito simpáticos, e essas regras vão contra os meus costumes. São elas:

1. Nunca chamar o Sr e a Sra Clarke pelo primeiro nome.

2. Nunca falar nada se não for solicitada. Deve responder as perguntas com educação e nunca negar o que eles pedirem.

3. Não devemos manter contato visual, nem qualquer outro tipo de contato na verdade.

4. Não ouvir as conversas atrás da porta.

5. Não parar de trabalhar até acabar seu turno de trabalho.

6. Atrasos não são tolerados.

E assim por diante. Imagino que seja comum ter essas regras no trabalho. Mas mesmo assim elas são estranhas.

Os empregados tem uma casa só para eles nos fundos da casa. Vou dividir meu quarto com a Sra Jordan, e eu agradeci mentalmente a Deus por não ser obrigada a ficar no mesmo cômodo que a Milla. Sei que você deve estar pensando que eu sou uma pessoa que adora julgar as outras. Muito pelo contrário, detesto. Não acho que seja correto fazer isso, afinal cada um é cada um. Mas Milla Crewe é um caso a parte. Desde o início ela deixou bem claro que não irá fazer o que mandarmos ela fazer. Sem falar que ela me odeia. E não, ela não precisou dizer isso para que eu chegasse nessa conclusão. Além de tudo, ela só deve ter se interessado por esse emprego por causa do tal Dylan, que aposto que não vai dar a mínima para ela.

Nesse momento estou ajudando a Sra Jordan a preparar o jantar. Ela disse que eu não precisava fazer isso, que sempre preparou as refeições sozinha e não precisava de ajuda. Mas quando eu disse que estava fazendo aquilo por que queria, porque me lembra muito as noites que eu ficava na cozinha ajudando minha mãe a cozinhar nosso jantar, ela concordou que eu poderia até ajudá-la, mas só se não "pilotasse " o fogão dela. Eu ri e agora estou cortando os legumes para a sopa.

— Então, srta Froy... — ela começa a dizer mas eu a interrompi.

— Pode me chamar só de Clara.

— Só faço isso se me prometer parar de me chamar de Sra Jordan pra cá e Sra Jordan para lá, me chame pelo meu nome: Mariah — ela pede. Sorrio e concordo com a cabeça, afinal, embora seja uma forma de demonstrar respeito, é um tanto chato de dizer para lá e para cá. — Então, Clara... Me fale um pouco de você.

— Não tenho muito a dizer — digo pegando uma cenoura para cortar — Bom, eu vim para cá fazer uma prova para tentar entrar em uma faculdade. É só isso.

— Só isso? — ela pergunta trocando as panelas de bocas no fogão. Ela parece até uma mulher polvo mexendo todas essas panelas ao mesmo tempo — Não pode me dizer nada sobre a sua família?

— Bom... — começo a dizer, mas acabo cortando o meu dedo com a faca. — Ai! — digo chupando meu dedo numa tentativa de estancar o sangue.

— Venha aqui, deixe-me ver isso — Mariah se aproxima e pega meu dedo delicadamente — Viu só teimosinha? Se você não tivesse me implorado para ajudar isso não teria acontecido — solto uma risada fofa — Vai lá na lavanderia. Na primeira gaveta do armário você irá encontrar uma caixa de primeiros socorros. Faça um curativo nesse dedo.

Sigo para a lavanderia e procuro onde ela me indicou. Faço um curativo no meu dedo e volto para a cozinha. Mariah já serviu a janta e a família Clarke está sentada em sua mesa jantando.

— Pode ir deitar — Dona Mariah (resolvi chamá-la assim em forma de respeito) diz para mim quando me vê entrando na cozinha. — Amanhã o dia começa cedo.

— Não senhora, eu vou ajudá-la a arrumar a cozinha — digo colocando as mãos na cintura para dar ênfase às minhas palavras.

— Mas é teimosa mesmo — Mariah diz rindo. Depois de terminarmos de arrumar a cozinha seguimos para a casa dos fundos, onde já estão todos deitados. Se você pensa que está muito cedo para ir deitar está enganado. Amanhã o dia começa cedinho. Levantamos as cinco da manhã para deixar tudo preparado para o dia começar.

Me deito na cama e começo a pensar sobre o dia de hoje. Tudo correu bem, na medida do possível. O segredo é seguir as regras e fazer tudo direitinho. Fecho meus olhos e solto um curto suspiro. Amanhã será outro dia e eu espero estar preparada para o que me espera.