26: Dylan

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Sigo em direção ao escrito do meu pai tentando manter presente em minha mente o sorriso encorajador de Pétala. Eu já sabia que meu pai iria me chamar para conversar, mas eu estava torcendo para que essa conversa demorasse um pouquinho mais de tempo, e que não tivesse que ser agora.

A verdade é que eu sabia que estava testando a paciência do Sr Clarke, e é claro que eu teria que pagar pelas minhas consequências. Por isso que não dei um chilique na frente de todos lá na sala quando Laura disse que ele estava me esperando. Isso e o fato de que tenho que manter minha pose de corajoso na frente da Pétala.

Respiro fundo antes de dar três batidinhas na porta seguida logo depois de duas mais espaçadas. Quando eu era mais novo vários clientes do meu pai vinham resolver seus negócios em seu escritório. E bem, Sr Clarke nunca foi do estilo sociável com todos. Por isso, todas as vezes em que eu batia em sua porta para lhe fazer companhia quando era pequeno, era atendido de uma maneira um tanto ríspida. Isso quando eu era atendido, já que meu pai tinha a péssima mania de não atender as pessoas por preguiça ou porque "não estava em um dia muito bom". Uma vez, quando eu deveria ter uns cinco anos, eu queria fugir da minha babá, por isso fui buscar abrigo no escritório do meu pai. Eu pensava que, por ser um lugar de acesso proibido para qualquer pessoa sem a permissão de meu pai, eu nunca seria encontrado. O problema é que eu bati em um dia ruim para o meu pai, por isso ele me deixou para fora, pois não abriu a porta. Foi por isso que criamos essa batida na porta, para que soubéssemos quem nos procurava. E é claro que usamos esse "código" em outros lugares, como meu quarto e o banheiro. E é por isso que eu detesto usar esse toque. Mas foi tão automático que não pude evitar.

Respiro fundo mais uma vez ao ouvir um "entre" e abro a porta, entrando no local completamente nervoso. Meu pai está sentado em sua cadeira enquanto observa algo em cima de sua mesa. Seu semblante está fechado e, como sempre, a expressão indecifrável. Sr Clarke é uma pessoa muito difícil de se interpretar, e eu me agarro a essa desculpa ao pensar que talvez ele tenha me chamado para algo bom, e não para uma bronca. E esse pensamento pequeno e inocente vai logo embora quando meu pai levanta o olhar para mim e seus olhos raivosos me observam de cima a baixo. Tá bom, eu realmente vou levar uma bronca.

— Mandou me chamar? — pergunto, mas tudo o que recebo de resposta é um sinal para me sentar. Me dirijo até a cadeira em frente a sua mesa e observo tudo em minha volta, como se nunca tivesse entrado nesse lugar, quando na verdade era meu local de brincadeiras preferido na minha infância. A estante lotada de livros se localiza logo a direita, e as paredes brancas dão um ótimo contraste com os móveis de cores escuras. Na mesinha de centro há uma bandeja com chá e frutas, que devem ter sido trazidos hoje de manhã por Pétala, já que ela faz isso todos os dias.

— Quem diria que eu estaria aqui hoje para dizer o quanto estou decepcionado com você Dylan — ele começa o que eu sei que será um discurso, e as poucas palavras duras até agora já me fazem arrepiar de medo. — Lembro-me que, quando sua mãe deu aquele chilique desnecessário porque contratei uma adolescente para trabalhar aqui, eu lhe pedi um favor. Qual era o favor mesmo?

— Observar a srta Froy — o respondo baixo, odiando o fato de que minha boca perdeu o costume de assim chamá-la, de maneira que quase a chamei pelo primeiro nome, o que seria muito errado.

— Pois é — ele joga algumas fotos em cima da mesa e se reclina na cadeira, fazendo um sinal para que eu olhe o que acabou de jogar. Me aproximo das fotos ali jogadas com cautela, o medo e o espanto me atingindo em cheio quando percebo que sou eu nelas. Eu e a Pétala.

— Onde conseguiu isso? — pergunto e as pego em minha mão. Foto do dia em que fomos a festa, onde estou abrindo a porta de passageiro para que ela entre no carro; foto do dia que jogamos bola com o William, nós três sujos de barro enquanto rimos muito; fotos e mais fotos de todos os momentos em que eu e ela passamos no jardim, conversando, no balanço, rindo e até mesmo abraçados; e, por fim, uma foto minha correndo com Pétalas desmaiada em meus braços. Todos os momentos em que eu achei que estávamos sozinhos fotografados. E agora meu pai tem conhecimento de tudo isso. Uma raiva insana de quem invadiu nossa privacidade e lhe mostrou para meu pai me invade, e eu sinto que poderia acabar com que tirou essa fotos — Quem foi que as tirou?

— Ninguém muito interessante — meu pai diz, e eu sei que jamais descubrirei quem as mandou através do meu pai — Eu realmente estou desapontado Dylan. Nem para negar e dizer que poderia explicar você serviu. Não tem vergonha? — abaixo a cabeça e encaro minhas mãos que estão repousadas em meu colo. Do que adiantaria negar, dizer que não sou eu, ou até mesmo tentar me explicar? Ele não me pediu para saber sobre a vida dela, mas sim como ela trabalha. — Não tem nada a dizer?

Levanto minha cabeça para encará-lo. Sua expressão indecifrável e corpo relaxado me irritam, e a facilidade com que ele consegue dizer palavras que machucam fazem com que uma certa coragem me invada. Coragem essa que eu teria jogado fora se soubesse suas consequências.

— O que eu tenho a dizer? — pergunto com uma sombrancelha arqueada, o medo sendo substituído por raiva em meu semblante — Srta Froy é uma das garotas mais incríveis que eu já conheci. Seu temperamento doce e sua simpatia me encantaram deste o princípio. E o que eu posso dizer sobre como ela cuida do Cash e dá atenção para William? Bom, ela é melhor do que qualquer um aqui nesse caso. E já que você me perguntou o que eu tenho a dizer, talvez queira saber como as suas regras são ridículas, como sua ausência afeta seus filhos e como sua frieza afasta as pessoas das quais você mais ama de si mesmo. Ah é mesmo, você nem liga.

Não posso dizer que não fiquei nem um pouco orgulhoso de finalmente ter dito umas poucas e boas para ele, mas toda a coragem se esvai quando olho sua expressão raivosa. E eu me encolho todo na cadeira quando Sr Clarke se levanta e segue em minha diração, só parando quando seu corpo está inclinado sobre o meu e seu nariz está a cinco centímetros de encostar no meu.

— Você está dizendo que eu não sou um bom pai e que minhas regras são ridículas? — ele pergunta em tom raivoso — Ótimo, porque eu mudarei as regras e serei um pai diferente para vocês — uma pequena chama de esperança se acende em mim ao ouvir suas palavras, mas se apaga assim que seus olhos encontram os meus. Se toda vez que eu falar alguma coisa para o meu pai ele me olhar com a raiva com que está olhando agora eu juro que eu preferia ser mudo — De hoje em diante sem mesada, quer comprar alguma coisa trabalhe e ganhe seu próprio dinheiro; você irá deitar às oito horas em ponto todos os, seja ele final de semana ou não; suas saídas serão controladas e eu voltatei a colocar um segurança para ficar te acompanhando aonde você for. Você não está proibido de se encontrar com aquela garotinha até que eu volte de viagem, mas se eu souber de algo que me desagrade ela será mandada para a rua imediatamente. Nada de festas, amigos, diversão ou qualquer outra coisa, seu único dever é estudar e obedecer minhas regras. Você queria um pai? Pois agora irá ter, mas não o pai que você sempre quis, mas o pai que eu tive. Entendido, filho?

***

Hum, que climão em!

Votem, divulguem, comentem e principalmente, não me abandonem.

Até uma próxima!

Ana 😘

Breaking The RulesOnde histórias criam vida. Descubra agora