6: Dylan.

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Meu trabalho de ficar responsável por analisar o trabalho da Srta Froy se mostrou uma tarefa difícil. Não porque ela não trabalha bem, muito pelo contrário, ela é a melhor empregada que temos em anos. Mas porque ela superou todas as minhas ideias de como ela seria. Imaginei que, por ser uma adolescente, seria desobediente e desleixada, igual a todas as outras garotas da escola e faculdade. Mas ela é... Perfeita. Embora não tenhamos trocado nenhuma palavra, culpa dessas malditas regras impostas por meu pai, ela me pareceu bastante gentil. Bom, deve ser mesmo, já que virou super amiga da dona Mariah. Aliás, devo muito a dona Mariah, que me falou um pouco sobre a Srta Froy. Descobri que ela veio morar para cá por causa de uma prova, e que só veio desesperada atrás desse emprego porque precisa se sustentar até lá. Admiro muito sua coragem de vir trabalhar aqui em casa, onde tudo é muito complexo.

Nessas duas semanas que ela está trabalhando aqui eu já devo ter passado umas duas horas por dia a observando sem que ela percebesse. Seus cabelos longos e castanhos estão sempre presos em um coque alto. O uniforme que deram a ela e que todas as empregadas usam, que é um avental azul marinho com uma fita branca que marca a cintura, lhe caiu muito bem.

Na realidade ela me pareceu muito cansada, já que faz o trabalho de duas empregadas e dorme duas horas a menos para poder estudar. E isso me fez admirá-la ainda mais.

Hoje a tarde Amália veio aqui em casa. Ela se acha super bonita e tem uma voz insuportavelmente aguda, daquelas que dói o ouvido. O que ela veio fazer aqui? Bom, eu não sei exatamente, mas deve ser porque faz um tempo que ela quer namorar comigo. Como não sou mal educado aceitei o fato de que ela veio aqui e ofereci um copo de suco de uva. Foi aí que aconteceu tudo aquilo com a Srta Froy. Eu sabia que ela não estava ali para escutar a nossa conversa, afinal eu estudei seus horários e sabia que muito provavelmente ela estaria limpando a parte de baixo da casa, já que ela sempre fazia isso nesse dia. E eu vi muito bem que Amália jogou o copo no chão para que ela tivesse que limpar o chão novamente, já que ele estava brilhando.

Quando eu vi o corte na mão dela eu entrei em pânico. Mas pior que isso foi ela nem ter olhado para mim quando me abaixei para ajudá-la. Eu sei que uma das regras é não manter contato visual, mas mesmo assim isso me partiu o coração.

Depois de todo esse ocorrido eu discuti com a Amália. Ela não tinha o direito de humilhar a Srta Froy, principalmente porque ela nunca fez nada. Amália é uma filhinha de papai. Nunca trabalhou e estuda em uma faculdade só porque seus pais estão pagando.

Hoje estou em casa porque tive aula vaga na faculdade, o que é praticamente um milagre. Estou jogando videogame e comendo pipoca. Na realidade estou tentando me distrair, já que minha vontade realmente era ir falar com a Srta Froy. Na verdade estou tentando me distrair desde ontem quando Amália foi embora. Me sinto culpado pelo que aconteceu, e sei que não vou conseguir ficar com a consciência leve enquanto não lhe pedir desculpas. Fecho meus olhos e solto um gemido de frustração. Como posso estar me sentindo culpado por algo que não fiz? E como posso estar tão preocupado em pedir desculpas para uma mera empregada? Mas eu sei o porquê, claro. Amália já fez muitas coisas com várias pessoas, tudo para se sentir superior, coisa que nunca vai ser. Na verdade eu não sei se ela está comigo por interesse, porque sou bonito (como todas dizem) ou porque minha mãe trabalha numa empresa de moda. Isso mesmo, Amália está cursando moda na faculdade e está louca para trabalhar como modelo.

Me levanto e resolvi dar uma volta por aí. Willi está na escola tento aula de espanhol, já que nosso pai insiste em nos fazer falar duas línguas fluentemente, o que por uma parte é bom. Sei que é muita maldade da minha parte não querer jogar bola com ele, mas isso não é mais a minha praia. Não que eu negue todas as vezes, aliás eu nem consigo, já que Willi consegue fazer uma cara que me faz me sentir culpada toda vez que lhe respondo com um "não".

Sigo em direção ao quarto do Cash, onde eu já posso até adivinhar o que está acontecendo: Cash deitado dentro do berço brincando com alguma coisa enquanto a babá está mechendo no celular. Abro a porta e o que vejo? Exatamente o que imaginei. Sarah dá um pulo ao perceber que estou aqui e balbucia alguma coisa sobre precisar ir ao banheiro. Ela então sai do quarto, deixando Cash comigo.

Não sei porque meus pais resolveram ter três filhos. Eu sei que eles cuidavam de mim quando eu era bebê, afinal eu sempre fui esperado. Mas por que ter outros dois filhos para serem criados por babás que não dão a mínima para eles? Solto um longo suspiro. Meus pais são uma incógnita. Me aproximo do berço e pego Cash no colo, fazendo assim com que é durma. Como Sarah pode ser tão insensível? Cash não consegue dormir sozinho, e eu ainda não sei o porquê, afinal ele não fala. Não alguma coisa que eu entenda.

Deixo Cash deitado no berço e vou para o meu quarto, onde vou tentar ver se tiro um cochilo. Chegando lá percebo que não vou conseguir. Afinal, srta Froy está aqui, me lembrando que ainda não lhe pedi desculpas. Penso em dar meia volta, mas quando vou ter uma oportunidade de fazer isso? Respiro fundo e entro no quarto, fechando a porta atrás de mim. Srta Froy se assusta com o barulho, se virando para me olhar. É agora.

Breaking The RulesOnde histórias criam vida. Descubra agora