V -Riley

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Riley acordou sorrindo. Acabou dormindo ao lado de Alícia, no meio da história sobre seu dia quase incrível em Érestha.

Ele já imaginava que sua irmã não iria querer participar da festa no dia do teste. Sabia que ela não ficaria feliz, fosse qual fosse o resultado. Era difícil vê-la satisfeita consigo mesma. Ele ficou contente. Faria parte de uma nova vida, teria a visão de um novo futuro, cresceria. Sua mãe quem lhe dissera todas essas coisas. Disse-lhe que em Érestha ele se encontraria, se redescobriria. Era o que ele esperava.

Se arrumou de qualquer jeito e bem rápido. Teve que esperar uma, talvez até duas horas para que as irmãs e a mãe ficassem prontas. Pelo menos pode jogar vidogames enquanto esperava. O irmão mais velho morava no reino, portanto havia ligado no dia anterior, explicando que ele e a namorada estariam esperando o resto da família lá. Alícia provavelmente estava na laje. Era para lá que a irmã sempre ia quando se sentia mal.

A passagem mais próxima para o reino, que conheciam, ficava na praia de Copacabana. O tempo não estava muito quente, ventava bastante, mas mesmo assim havia bastante gente no mar ou brincando na areia. Os outros olhavam estranho: quatro pessoas vestidas com roupas de gala, Ramona de salto alto, andando na areia em direção à uma árvore. Não é difícil entrar. O segredo é concentração. Pensar em algo que está no reino ou que veio de lá, próximo a uma passagem. Fechar os olhos ajuda. Riley se concentrou no irmão. Pensou nele e na namorada dele enquanto encostava-se a uma palmeira da praia, rodeado de olhares intrigados. Quando abriu os olhos não havia mais nenhum mar e nenhuma areia. Era uma estrada estreita de terra, grama verde e cheiro de mato. Simples assim. Estava em algum ponto de Érestha.

Ramona foi a última a chegar e a primeira a entrar na SW4 preta da tia que também morava no reino e os levava para a festa todos os anos. Essa tia se chamava Rosa. Tia Rosa Weis. Estava sempre vestida com um terninho cor-de-rosa. Sua pele era clara e velha, e seus cabelos brancos eram toscamente tingidos de rosa pálido, portanto era o pesadelo de Riley. Ele costumava pensar na tia como um marshmallow ambulante. O salário de editora chefe era bem alto, o que a permitia morar numa parte bastante rica de Érestha e pagar bilhetes de trem para todos. Ainda assim Riley não gostava dela.

Todos entraram no carro e foram explicando o por quê da ausência de Alícia em versões diferentes, umas mais cruéis e absurdas que as outras. Ramona falou que ela estava chorando rios em seu quarto, sentada em posição fetal. Romena disse que devia estar falando sozinha na laje ou correndo ela favela com a única amiga, como chamou. Ruby resumiu e disse que ela preferiu não vir. Rosa ficou decepcionada, pois tinha comprado o número exato de bilhetes de trêm para que a família Weis pudesse viajar até o Castelo de Vidro, onde a festa acontecia anualmente.

Aniversário da princesa. Esse era o motivo das milhares de mesas e cadeiras na grama, comidas deliciosas que chegavam cada vez em maior quantidade e em melhor sabor, risos por conta dos discursos dos irmãos da princesa e muitas vezes um maravilhoso show de fogos de artifício. O melhor de tudo é que era de graça. Riley não compreendia como a irmã poderia se dar ao luxo de perder tudo isso.

A árvore genealógica da família real era bem complicada, e sua história bem interessante. O atual rei Éres e a falecida rainha Thais tiveram 8 filhos juntos. A mais nova, Thaila, a herdeira do trono, era quem comemorava seu aniversário com essa grande festa na presença de todos os súditos. Éres nunca concordara com as ideias de seu pai e o jeito que sua mãe governava o reino. Suas idéias eram absolutistas e muito egoístas na opinião do atual rei. Ao assumir o trono, decidiu retomar alguns costumes antigos e declarar que seu mais novo filho, sendo este homem ou mulher, seria seu sucessor. Ele redividiu o reino em províncias e distribuiu-as entre seus oito decendentes. Declarou que dali para frente, suas ideias deveriam permanecer. Quando sua mulher concebiu Thaila, ele decidiu que ela seria a primeira rainha da nova ordem, criada por ele prórpio. Mudou o nome do reino para Érestha, uma combinação de seu nome com o de sua amada esposa, e decidiu que a grande festa não seria apenas o aniversário da futura rainha, mas também o ano novo para a nova Érestha. O reino concordou, em sua maioria. Todos sempre concordavam com Éres. Ninguém se lembrava do nome antigo do reino, ninguém se importava com a data antiga de comemoração do novo ano. Éres era a palavra absoluta. Uma das pessoas que não concordava em abandonar as ideias dos reis antes de Éres era uma de suas prróprias filhas. O resultado foi uma guerra sangrenta e a morte da rainha Thaís.

O terminal A da central de trens fervia em gente. Havia filas por todos os lados: para comida, para tickets, e até filas para outras filas. Os bilhetes diziam plataforma 2 vagão 24 cabine 072. Chegar até lá no meio de todas aquelas pessoas não foi fácil. Rômulo, o irmão mais velho, e a namorada dele esperavam pelo resto da família em frente ao vagão 24. Na cabine, Riley se sentou ao lado da cunhada na viagem que durou duas horas e meia. Embora tia Rosa pudesse pagar oito bilhetes numa cabine exclusiva precisaria de alguns anos de seu salário para a área VIP da festa, o único lugar onde se tinha que pagar, e pagar muito, o que significa que a mesa deles era tão comum quanto as outras dez mil expremidas pelo jardim da frente do Castelo.

Era uma construção bastante impressionante. Duas torres redondas feitas inteiramente de vidro e entre elas uma parede gigante do mesmo material que permitiria ver o salão de recepção e o segundo andar, se não houvessem cortinas vermelhas e pesadas sempre tapando a visão. O pouco que se abria quando a princesa e seus irmãos apareciam no dia da festa não eram suficientes para se ver o interior. Eles saiam para a varanda -também de vidro- e elas voltavam a se fechar. O jardim da frente do castelo era enorme, e simplesmente composto por grama. Nos fundos, ele não sabia o que se escondia, mas tinha a impressão de que era tão magnifico quanto a parede e as torres de vidro.

O começo da festa foi bem chato. Demoraram para chegar até a mesa, parando de cinco em cinco metros para cumprimentar alguém -a maioria velhos- ou percebendo que estavam indo para o caminho errado. Quando finalmente se sentaram, Riley entre a cunhada e um lugar vazio, Ramona decidiu reclamar de cada coisa que fosse possível. Ele jurou três vezes que jamais iria àquela festa de novo sem a irmã. Só deixou de ser um tédio quando Lilian pediu permissão à tia Rosa para se sentar com a família.

Ela era uma garota muito simpática, inteligente e bonita. Seus cabelos ruivo claros estendiam-se, lisos, até as joelhos. Os olhos castanhos eram bondosos e as feições não podiam ser descritas com uma palavras menor do que perfeição. A mãe dela trabalhava para a princesa Tâmara, como sua representante, ou seja, participava de reuniões ou fazia favores variados para a princesa. Seu salário não tevia ter menos do que cinco dígitos. Se Lilian não tivesse uma mesa na área VIP, poderia entrar com a mãe no castelo de Vidro. O que ela estava fazendo no meio do povo comum?

-É meio solitário por lá -ela disse como se lendo os pensamentos do menino.- Estava te procurando até agora.

-Procurando a mim?- Ele se surpreendeu.

-É. Você e sua irmã. Onde ela está?

-Em casa. Não quis vir -ainda estava surpreso.

-Ah.

O assunto morreu, mas a conversa não podia simplesmente acabar. Qualquer assunto seria bem-vindo para falar com ela. Riley era o mestre das conversas. Podia manter uma ou inciar uma sem se esforçar muito. Conversar era natural para ele.

-Você não pode ficar dentro do castelo durante a festa? Com sua mãe?

Que porcaria de pergunta foi essa? ele pensou. De nada adiantava ser bo em conversas se a pessoa com quem falava era Lilian Alberton.

-Acho que posso, mas eu mais atrapalho que ajudo. Os outros representantes são muito legais, mas estão trabalhando e eu fico praticamente sozinha.

Antes que Riley pudesse iniciar mais algum assunto uma voz chamou atenção da multidão. O príncipe favorito de todo o reino iniciou a festa com piadas, caretas e estilos variados de danças ridículas. Ele Tinha os cabelos pintados metades brancos e metade vermelhos, jogados para cima com muito gel. As cores representavam seu domínio e o legado de seus súditos: gelo e fogo. Chamava-se Elói. As pessoas riam desesperadamente. E foi aí que Riley decidiu voltar para casa. As gracinhas não tinham tanta graça sem a irmã. Despediu-se dos ali presentes e voltou. As comidas não eram assim, tão boas. Alícia triste sempre deixava ele triste também. Tinha sido um dia quase perfeito. O começo de uma vida diferente. Mas ele não sabia se ela viria ou não acompanhada da gêmea. A decisão dela, de ir ou não para érestha, podia mudar o jeito como ele via seu futuro. Mas ele não ia desistir.


De acordo com a LEI N 9.610 DE FEVEREIRO DE 1998, PLÁGIO É CRIME.

Érestha- Castelo de Vidro [LIVRO 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora