13. Casarão

6 1 0
                                    

2014

Quando Charlie descobriu que eu podia ver fantasmas tudo ficou mais interessante. As sextas-feiras 13 ficaram bem mais interessantes, tudo porque nós dois podíamos fazer algo condescendente com o dia em que estávamos em vez de ficar apenas assistindo filmes de terror. Era junho, estava frio e nós dois decidimos que seria uma ótima ideia sair de casa e ficar andando na rua procurando fantasmas. Ele foi até a minha casa, eram sete da noite quando chegou, minha mãe estava trabalhando e não tinha ninguém em casa. Victor tinha saído com Augusto para passear na casa dos avós e só voltaria no dia seguinte.

Charlie se jogou na minha cama assim que entrou no quarto. Eu levantei às sobrancelhas e revirei os olhos.

— Folgado. — reclamei enquanto ele se acomodava na minha cama e a bagunçava. 

Ele apenas riu e passou a mão por seus cachinhos negros.

— Você sabe diferenciar um fantasma de uma pessoa né ? — ele perguntou de repente.

Eu estava mexendo no guarda roupa procurando uma legging preta e uma blusa qualquer que fosse confortável para vestir, mas depois do que ele disse eu o olhei fixamente por alguns instantes, estava surpresa.

— Sei, mais ou menos. — dei de ombros. — Quem quer bancar o caça fantasmas é você. — disse com a cabeça dentro do guarda roupa. — Por mim nós deixaríamos os fantasmas em paz. — completei enquanto pegava a blusa.

Ele deu um daqueles sorrisos incríveis que sempre dava quando tinha uma ideia legal.

— E que tal a gente entrar naquela casa da rua Andrade? — ele perguntou com um sorriso travesso e continuou — Acho que alí devem ter vários fantasmas.

Eu lhe concedi um meio sorriso. Ele se sentou de um pulo na cama e virou-se para mim com urgência.

— E se a gente achar um tesouro? — ele perguntou como um idiota.

Fui obrigada a rir. Um tesouro ? Claro, o casarão da rua Andrade vai ter um grande tesouro e dois adolescentes de quatorze anos iam encontrá-lo sozinhos numa noite de sexta-feira 13 .Charlie era mesmo muito criativo, acho que ele não podia ser melhor contador de histórias. Tudo o que ele fazia era uma grande história de ficção.

—Tesouro ? — perguntei enquanto ria.

Seu semblante se tornou sério, não parecia estar nem perto de uma brincadeira quando falou do tesouro e ele achava esse absurdo completamente possível.

— É, tesouro. — confirmou e ainda completou — Meu pai disse uma vez que a família que morava ali era rica e todos morreram.

Eu peguei a legging que ia vestir no fundo do guarda-roupa e fiz um gesto de negação com a cabeça. Eu não podia acreditar que era amiga dele.

— Mesmo se tiver alguma coisa, nem todo fantasma é assim tão bonzinho. — disse enquanto saia pela porta e seguia para o banheiro do corredor.

Encostei a porta e comecei a me trocar. Escutei alguns passos se aproximando no piso de madeira, era Charlie e sua incrível imaginação.

— Mas eles não podem fazer nada com a gente. — ouvi ele dizer do outro lado da porta branca. — Eles estão mortos não estão? — perguntou com uma dúvida repentina.

Penhascos do drama [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora