2009
Ele me encarava com aqueles olhos castanhos, piscava- os enquanto esperávamos o bolo ficar pronto. Eu respirei fundo sentido o cheiro do bolo de chocolate assando, ele fez o mesmo.
— Tá sentindo esse cheiro? — perguntei me jogando no travesseiro deixando as pernas penderem da cama.
— Bolo de chocolate. — constatou se encostando no encosto da cadeira.
Ele sorriu consigo mesmo e respirou fundo de novo. Era bolo de chocolate, como não podíamos ficar felizes ?
— Da minha mãe. — completei.
Eu me voltei para ele, fitando-o com meus olhos negros. Ele era tão lindo, a pele morena com aquele bronzeado natural irresistível e os olhos descomunalmente castanhos, os cabelos cacheados, os olhos grandes, tinha um sorriso radiante.
— Por que não me disse que era seu aniversário ? — ele perguntou se curvando para frente e apoiando o queixo nas mãos.
Me sentei e cruzei as pernas. Não o respondi verbalmente, apenas dei de ombros e ele compreendeu.
— Não é nenhuma receita japonesa maluca né ? — perguntou, eu franzi as sobrancelhas.
— Por que ? — indaguei sem nem raciocinar.
Ele olhou ao redor depois revirou os olhos sorrindo.
— Porque sua mãe tem cara de japonesa. — ele puxou os olhos fazendo os olhos ficarem pequenos e esticados.
Eu sorri ao entender, mas eu não sabia.
— Sei lá.
Mamãe tinha os olhos orientais assim como todo o resto dos traços. Ela estava fazendo o recheio quando espreitei através da porta, parecia delicioso e agradável, doce. Charlie estava pensativo de mais para um dia normal, eu o encarei por alguns instantes e ele suspirou.
— Não foi nada. — disse dando de ombros. — Eu juro.
Eu arqueei uma sobrancelha, mesmo sendo nosso segundo dia junto estava escrito em seu semblante que algo estava errado. Ele estava sucumbindo a algo que nem mesmo era culpa dele.
— Tem certeza ? — perguntei me certificando.
Ele assentiu.
Eu temia pela sua mãe, por ele e tentava não me lembrar daquela noite terrível para todos nós. Charlie já estava acostumado, acontecia quase sempre, quase todas as noites, estava piorando, mas a Carla não tinha coragem para largar o marido. O medo estava dentro dela e não a deixava fazer nada.
Mamãe chamou. O bolo estava pronto, decorado e confeitado. Nós dois abrimos um sorriso ao ver o bolo branco como a mais pura neve do inverno sobre a mesa. Estávamos felizes com aquilo, com o simples bolo sobre a mesa de madeira redonda.
— Fique a vontade. — Mamãe disse a Charlie concedendo a ele um pedaço do bolo.
Parecia apetitoso. Eu salivei enquanto esperava o meu pedaço, estava ansiosa. O primeiro pedaço eu dei para Charlie, queria de certa forma, surpreende-lo, parecer uma criança boa, que eu não era.
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Penhascos do drama [Completo]
Ficção AdolescenteLara Bauer nunca teve uma daquelas histórias felizes com finais felizes. Nunca foi a princesa, sempre fora a coadjuvante da própria vida. E daí ela conheceu Charlie, e sua história que nunca foi sobre ela agora passava a ser sobre ele. Principalmen...