15. Depois da floresta

7 1 0
                                    

2009

Ele me encarava com aqueles olhos castanhos, piscava- os enquanto esperávamos o bolo ficar pronto. Eu respirei fundo sentido o cheiro do bolo de chocolate assando, ele fez o mesmo.

— Tá sentindo esse cheiro? — perguntei me jogando no travesseiro deixando as pernas penderem da cama.

— Bolo de chocolate. — constatou se encostando no encosto da cadeira.

Ele sorriu consigo mesmo e respirou fundo de novo. Era bolo de chocolate, como não podíamos ficar felizes ?

— Da minha mãe. — completei.

Eu me voltei para ele, fitando-o com meus olhos negros. Ele era tão lindo, a pele morena com aquele bronzeado natural irresistível e os olhos descomunalmente castanhos, os cabelos cacheados, os olhos grandes, tinha um sorriso radiante.

— Por que não me disse que era seu aniversário ? — ele perguntou se curvando para frente e apoiando o queixo nas mãos.

Me sentei e cruzei as pernas. Não o respondi verbalmente, apenas dei de ombros e ele compreendeu.

— Não é nenhuma receita japonesa maluca né ? — perguntou, eu franzi as sobrancelhas.

— Por que ? — indaguei sem nem raciocinar.

Ele olhou ao redor depois revirou os olhos sorrindo.

— Porque sua mãe tem cara de japonesa. — ele puxou os olhos fazendo os olhos ficarem pequenos e esticados.

Eu sorri ao entender, mas eu não sabia.

— Sei lá.

Mamãe tinha os olhos orientais assim como todo o resto dos traços. Ela estava fazendo o recheio quando espreitei através da porta, parecia delicioso e agradável, doce. Charlie estava pensativo de mais para um dia normal, eu o encarei por alguns instantes e ele suspirou.

— Não foi nada. — disse dando de ombros. — Eu juro.

Eu arqueei uma sobrancelha, mesmo sendo nosso segundo dia junto estava escrito em seu semblante  que algo estava errado. Ele estava sucumbindo a algo que nem mesmo era culpa dele.

— Tem certeza ? — perguntei me certificando.

Ele assentiu.

Eu temia pela sua mãe, por ele e tentava não me lembrar daquela noite terrível para todos nós. Charlie já estava acostumado, acontecia quase sempre, quase todas as noites, estava piorando, mas a Carla não tinha coragem para largar o marido. O medo estava dentro dela e não a deixava fazer nada.

Mamãe chamou. O bolo estava pronto, decorado e confeitado. Nós dois abrimos um sorriso ao ver o bolo branco como a mais pura neve do inverno  sobre a mesa. Estávamos felizes com aquilo, com o simples bolo sobre a mesa de madeira redonda.

— Fique a vontade. — Mamãe disse a Charlie concedendo a ele um pedaço do bolo.

Parecia apetitoso. Eu salivei enquanto esperava o meu pedaço, estava ansiosa. O primeiro pedaço eu dei para Charlie, queria de certa forma, surpreende-lo, parecer uma criança boa, que eu não era.

Penhascos do drama [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora