2017
O hospital já era um lugar bastante sombrio para mim durante o dia, perturbador, mas a noite era pior em um nível exorbitante. Vênus não abandonou o quarto por nem um segundo, portanto, há aquela hora ela já estava cansada e dormindo desconfortável no sofá. A noite era quente, abafada, a chuva parou de cair não haviam nem cinco minutos e ao invés de refrescar, esquentou.
Nenhum lugar me trazia lembranças piores do que aquele maldito hospital. Duas mortes são o suficiente para querer sair dali correndo. Isso fora toda a carga de mortes que aquele lugar carrega, todos aqueles fantasmas. Minha cabeça estava latejando e eu ainda estava impactada de mais com o meu fracasso. Estava inerte na cama do hospital, tão comum como todas as outras, mal coberta por um lençol verde água, que seria considerado bonito, mas estava acoplado a uma cama de hospital, o que não era um boa companhia. Era um quarto razoável, com pouca decoração e um azulejo português até metade da parede. O chão era de taco e além do leito, havia apenas uma poltrona onde Vênus estava deitada.
Frida atravessou a porta, sorridente. Os cabelos estavam soltos, uma cascata grisalha cobrindo os ombros e as costas, mas ainda vestia o seu vestido preto com gola rolê.
Ela sorriu ao ver minhas pernas e minha expressão de desespero por vê-la. Suas órbitas estavam tomadas por um tom de preto tão escuro, talvez mais escuro que o próprio preto. Era uma velha mais sombria que o próprio sombrio, mais demoníaca que o próprio demônio. Eu tinha ao mesmo tempo, medo e apreço pela velha senhora a minha frete. Apesar de amedrontadora a velha era sábia. Eu me certifiquei que Vênus estava dormindo antes de começar a falar.
— Você está aqui por quê? — perguntei a ela num tom seguro soando de certa forma mal educada. — Para me perturbar mais uma vez ?
Ela deu mais um passo em minha direção e eu me encolhi um pouco. Seus olhos ficaram normais, castanhos mesmo assim sem vida, porque, para todos os efeitos ela estava morta.
— Porque eu queria saber o motivo de você não ter acabado com isso. — ela disse, dando mais um passo e colocando as mãos no pé da cama.
Eu encolhi minhas pernas, tomada pelo pavor. A velha sorriu, como de costume quando eu estava com medo dela. Ela parecia mais sombria do que o normal.
— Eu não consegui. — disse com a voz já embargada.
Ela levantou o braço coçando a nuca e a leve nuvem de poeira que a envolvia voltou a ser vista. Seu nariz começou a sangrar de uma hora para outra, o sangue escorria pela boca e molhava o chão. Parecia que tinha muito mais do que cinco litros de sangue no corpo, em minutos haviam trinta centímetros de sangue no chão. Sangue este que sujava a porta e as paredes brancas, mas que não parecia vazar por debaixo da porta e invadir os corredores do hospital. Admito que fiquei com medo e era exatamente isso que ela queria.
— O que é todo esse sangue ? — eu perguntei
Os olhos da velha senhora estavam negros como a noite mais escura do inverno. Seus braços se abriram como numa cruz e seu espectro começou a pairar sobre o sangue que havia no chão. A barra de seu vestido estava molhada os pés sujos de sangue.
— É como eu morri.— ela disse com a voz rouca e e grave. — Foi numa fria noite de inverno. — ela disse em tom teatral colocando o dorso da mão na testa.— seu espectro desceu e tocou o chão, ela se moveu fazendo o sangue se movimentar formando ondas. A fina poeira que a envolvia dava-lhe um ar etéreo. — Meus filhos estavam dormindo, estávamos todos reunidos em casa, a família toda em festa. — seus dedos passaram pela beira da cama e ela sorriu. — Foi uma maneira estranha de morrer. Eu levantei a noite e cometi o erro de tentar descer as escadas no escuro. Por isso eu tropecei e cai. — seu tom teatral foi mantido, mas agora falando da família parecia mais soturna. — Como a vida humana é frágil, acaba até mesmo por um mísero tombo. — dramatizou andando de um lado para o outro no mar de sangue que havia colocado no quarto. - E ai, meu nariz sangrou, minha cabeça se abriu e eu morri, sozinha.
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Penhascos do drama [Completo]
Roman pour AdolescentsLara Bauer nunca teve uma daquelas histórias felizes com finais felizes. Nunca foi a princesa, sempre fora a coadjuvante da própria vida. E daí ela conheceu Charlie, e sua história que nunca foi sobre ela agora passava a ser sobre ele. Principalmen...