Penúltimo capítulo
Eva Bovoir
Na hora em que ele chegou a mim tão longe de tudo o que me disse eu quase não fui.
Ele estava desarmado, parecia ferido e com minhas mãos quase o toquei no rosto tentando chegar as suas feridas.
Mas se cedesse quem curaria as minhas?
Ele não poderia, o que feria jamais poderia ser o que cura - Constatei.
Então soube que não tinha mais um minuto para estar ali, ainda que eu quisesse ouvir dele que tudo o que disse era mentira, porque na verdade magoava a tal ponto que sequer olharia seu olho, se ele pudesse fazê-lo primeiro comigo, claro!
Então me embebi de uns segundos, mas sem querer demais e com medo demais só segui até o suficiente para perceber que não importava o que fizesse, o quanto o meu coração retorcesse e quebrasse em pedacinhos tão mínimos que ninguém poderia juntar, por mais que houvesse a vontade.
E como eu, só que por mais ele estava quebrado, a tanto tempo que nem que eu quisesse ficar eu conseguiria concerta-lo, eram pedaços microscópicos.
Encarando-o com o lábio inferior tremendo de um frio que vinha desde dentro do meu peito eu o contemplei uma última vez sem toca-lo, não poderia, porque não teria forças para soltar sem dizer que ele era tudo o que mais me fez mal um dia porque começou fazendo um bem que ninguém nunca pode.
Porque terminaria por dar-lhe um pesado tapa e depois um beijo ardente que não resolveria nada, pelo contrário, me faria ter mais raiva dele por tudo o que fez e como ainda assim o desejo pode ganhar para mágoa.
Disse pode, porque quando perguntei ao meu íntimo ele teve medo de me responder, talvez por ter uma clara resposta que me afetaria demais.
Por se eu arriscasse deixaria para trás minhas chances de ser eu para ser em toda a extensão sua aquisição e com ele assim eu só sairia destruída, mais do que já estou.
E então sabendo, temendo e pendendo pelo peso da grandiosidade desse pensamento que escorria incontrolavelmente pelos olhos dei as costas e corri.
Tão rápido quanto puderam minhas pernas para que não pudesse parar com a visão embaçada pelas lágrimas quase me fazendo cair descendo completamente embolada os degraus das escadas do prédio, não poderia lidar com os olhares curiosos do elevador.
Poderia ser loucura descer tantos andares por ali mas eu não me importei se poderia estar sozinha até embaixo.
Meus gemidos se confundiam com a respiração de um jeito que me fazia ficar nervosa sem conseguir tomar ar, como se me afogasse no seco, sentindo que tudo me faltava mas de modo tão lento que parecia aos poucos, principalmente quando ofegante e com cansaço de ter corrido uma légua cheguei ao fim das escadas e olhando a rua por um milésimo de segundo, em meu peito esperando que Hugo me alcançasse e em minha mente que nunca o fizesse, que me deixasse ir enquanto pudesse correr para sair.
Coloquei um pé atrás do outro terminado o tempo e retornei a correr em plenas pernas sendo parada somente por braços em volta do meu corpo depois de dar poucos passadas com velocidade.
- Eu vou estar aqui - Os braços me apertavam tanto que eu não poderia me mover e não sabia se queria quando me sentia tão fraca.
Como se esse tempo todo precisasse de braços torneados me segurando, como se tivesse prestes a cair em inconsciência depois que as mãos grandes envolveram meus cabelos com tanta suavidade e me oferecendo tanto alento que mesmo que eu não quisesse olhar em nenhum olho me obriguei a olhar para cima.
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O pecado de Eva
RandomAmbição. Avareza. Luxuria. Ira. Orgulho. Vaidade. Inveja. O pecado de Eva não está escrito pois assim se limita, seu erro esteve e está, no que não se mede, não se explica só se sente . Eva tem em si tentação. E portanto arrisca-se a ter a primeira...