Lábios Úmidos

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O silêncio e o barulho de lápis sendo apontados criavam um ruído no ambiente branco.

A palestra do professor começou o que significava a surdez temporário pelos seus gritos, o Sr Phelis costumava se exaltar durante sua aula o que ganhava o apelido de "Berrador" pelos alunos e até mesmo outros professores.

Ficava atento a cada palavra sua anotando toda a matéria quando uma sensação estranha de me sentir observado veio a tona.

Olhei por cima do meu ombro e um grupo de quatro alunos sorria sem prestar atenção pro quatro, outros se distraiam com o celular e voltei a olhar para meu caderno.

Percebi ele sentado ao meu lado com as sobrancelhas juntas e o queixo apoiado no punho, meu coração começou bater mais forte e minhas mãos a suarem, pelo rosto que comecei a notar o conhecido.

Seus lábios começaram a se erguer num sorriso charmoso, a essa altura eu já estava com o estômago embrulhado e tremendo.

- Esse professor ainda vai perder a voz.

- Hm rm.

Voltei a riscar a folha com a mão apoia no pescoço evitando ao máximo contato visual com sua iris verde.

- Acho que você é o único aluno que consegue fazer anotações - Olhou para meu caderno com rabiscos em volta das frases.

Tentei ignora-lo e voltei a atenção para o professor que cuspia nos alunos da frente e ficava vermelho com suas falas.

- Desculpa, eu te interrompi? - tentava ver meus olhos - Nunca te vi por aqui antes.

- Eu geralmente não chamo muita atenção - Menti, quero me livrar o mais rápido dele - Também nunca notei você nessa classe antes.

- Geralmente eu sento mais no fundo - Ele virou a cabeça para uma turma de três meninas e dois garotos com uma cadeira vazia no centro - Você é recém chegado em Franhs Hals?

- Estou aqui desde o começo do semestre - Olhei para ele que tinha um traço de curiosidade no sorriso e luxúria no olhar.

- Então eu deveria me apresentar - Me estendeu a mão que tinha uma pulseira de aço - Sou Toby, Toby Jones

Hesitei mas a toquei e quase que meu pulso se rompeu ao meio.

- Sou Benjamin

- Nome antigo - Via a pronúncia se desenrolar na sua língua - A tempos que não escuto, você sabe o que significa?

- Não faço ideia - Claro que eu sabia mas não falaria ao ponto dele perceber quem eu era.

- Então Benjamin - Ele tirou uma nota do seu bloco e escreveu o dobrado e entregando na minha mão - Te vejo lá.

Deu uma piscada e saiu discretamente pela porta, abri o papel azul e era mais uma ordem que um convite.

Prédio Susan B. As nove da noite

A aula chegou ao fim e corri para a cantina onde Kat estava sentada ao lado de seu namorado.

Peguei uma bandeja e coloquei uma maçã e um refrigerante me sentando na frente do casal que se trocava carícias.

- Por acaso cometeu algum crime?

- O quê! - Falei um pouco alto demais para o ruivo

- Brincadeira Benjamin - Ele riu rolando uma garrafa de água para mim - Relaxa e nos conta o que houve.

- Então... Ouvi falar que você estava cheio de papo com o Toby na aula de literatura - Apoiou os cotovelos na mesa.

- Você continua esperta igual na escola - Dei um gole rápido - Ele chegou todo curioso e quando percebi ele me entregou um bilhete para encontra-lo.

- Que bilhete? - Soltou o braço ao redor da loira - Me deixa ver.

O tirei do meu bolso e o empurrei na mesa, ele estava com um ar de raiva e irritação mas não sabia o motivo certo se era por mim ou por ele.

- Ele vai levá-lo na luta? - Ela sussurou -

- Não mesmo.

- Que luta? E por que eu não iria? - Mordi a maçã.

- Fique longe do Jones, e não vá nesse endereço os dois são problemas e encrenca.

- Ouvi meu nome?

Me virei e vi o mesmo olhar ao meu lado novamente sentado na ponta da mesa com a cadeira virada para frente entre suas pernas.

- Iai loirinho! Já pensou na minha proposta?

- Nem pense nisso, ele é amigo da Kat e é um bom garoto - Riley jogou uma batata frita no seu rosto.

Olhando melhor ele era fisicamente atraente com o maxilar definido e ombros largos sobre a camisa preta, seus braços era tatuados com frases que deveriam continuar no seu peito.

- Ele já é bem grandinho pra tomar suas próprias decisões - se virou para mim - Iai loirinho? Já pensou no assunto?

- Ele vai estudar comigo hoje - Kat enrolava uma mecha no cabelo - Talvez outro dia.

- Seu curso é de Anatomia e não de de Literatura - Ele franziu a testa.

- Mesmas coisas! A única diferença é o cérebro.

Ele soltou um suspiro e revirou os olhos falando algo no ouvido dela.

- Hey, tira a boca do ouvido da minha garota! - Lançou o caroço da maçã no seu ombro.

- A gente se vê por aí loirinho! - Saiu pela porta dos fundos com uma multidão de garotas tentando chamar a atenção dele passando a mão no cabelo e cruzando as pernas.

De costas a visão sobre seus músculos era perceptível pela fina camada de algodão que se ajusta a medida que ele andava e marcava grandes partes delineadas.

- O que ele te falou? - Chamei a loira que arrumava seus óculos.

- Pra eu levar você pro apartamento deles hoje a noite.

- Deles? Quem mais mora com ele?

O ruivo a minha frente levantou a mão coçando a barba cor de ferrugem que insistia em nascer.

- Primo dele, fique longe dele Benjamin, todas as vezes que o Toby transa com alguém ele logo descarta e sobra para mim.

- Você deveria parar com isso - Kat cutucou sua costela - Toda vez que dissemos não para ele, sua vontade aumenta de fazer oposto.

- O que eu devo fazer então? - Ele abriu os braços derrotados.

Ela suspirou se inclinando mais para frente afastando a bandeja com restos de saladas.

- Vamos hoje a noite e mate essa curiosidade que ele tem por você.

- Eu não vou transar com ele!

- Eu não disse isso - Revirou os olhos acinzentados - Só mostre a ele que você não é tão interessante como ele pensa.

Ela estava certa, vai ver é por isso que ele veio a mim por não mostrar um pingo de interesse nele e não ser como os desesperados que passam por ele e as loucas de vestido curto ou meninos de roupas apertadas

Eu tinham que ficar longe dele, não, eu precisava ficar longe dele ele trazia tudo que deixei para trás e mesmo ele fingindo ou não ele também participou do meu sofrimento.





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