capítulo 1

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O despertador toca às seis da manhã e eu já quero morrer. Meu Deus quando isso vai acabar? Ok, eu sei quando isso vai acabar, falta um ano para finalmente a palavra colegial sair da minha vida. E com elas, alguns ogros e ogras que, meu deus, me surpreende eles terem chegado ao terceiro. São completamente burros e boçais.

Tomei meu banho, tive a típica conversa matinal com meus pais e fui para o colégio. As coisas são muito intensas na minha família, principalmente comigo. Sou filha única de dois pais completamente babões. Quando eu digo dois pais eu não falo de pai e mãe iguais à palavra pais. Eu falo de pais mesmo, dois homens. Sou filha de um casal gay.

Sou filha biológica de um, mas nem eu e nem eles sabemos. Alguns dizem que eu pareço mais com o pai Alejandro, outros com o pai Marcel. Independentemente de qualquer coisa, são meus pais e os amo muito.

Tive uma criação ótima, desde pequena já sabia a maioria de musicais da Brodway e sempre que podia eles me levavam em alguma peça de teatro, cresci rodeada de cultura e divas do pop como Madonna e Cher. Isso foi um pouco estranho, afinal, quando minhas amigas ainda escutavam a pequena sereia, eu já sabia de cor todas as músicas do CD BedTimes Stories da Madonna e Love Hurts da Cher.

Moro em Nova York, então é meio que engraçado ver pessoas do mundo inteiro vindo conhecer coisas que eu tenho acesso sempre. Era o que eu achava quando tinha 10 anos. Agora com 16, só acho que morar em Nova York é um desastre! Aqui tem tudo, literalmente tudo, inclusive as melhores faculdades, entre elas o curso que desejo, quero fazer publicidade. Sendo assim, eu não me mudarei de cidade, não conhecerei pessoas novas e nem poderei dizer que sinto saudades dos meus pais.

"Afinal, para que sair de casa se a sua casa é na mesma cidade da sua universidade? ''

Essa pergunta é a que meus pais fazem todo santo dia. Meu Deus, eu preciso de espaço, privacidade! E se eu quiser trazer um garoto ou garota para dormir em casa no auge da minha fase na faculdade? Eu terei que entrar pé por pé para meus pais não ouvirem? Pelo amor de Deus!

Cheguei ao inferno, digo, colégio.

Não é coisa de filme americano, é verdade, todo colégio tem suas turmas, os atletas, as líderes de torcida, os gênios... Esses estão no topo da pirâmide. Tem os roqueiros, os hipster, os de matemática. Esses estão no meio da pirâmide. Tem os de humanas, que estão na base. E tem os que fazem teatro, cuidam do jornal da escola, os que comem no banheiro para não serem apanhados e apanharem dos valentões. Esses estão no subsolo dessa pirâmide.

E é bem no subsolo que eu me encaixo, como dizem meus pais, dos males o menor. Eu não apanho de ninguém, mas faço teatro e sou redatora do jornal da escola. Já é o bastante para ser zoada eternamente, pela base (como se eles tivessem moral para isso), meio e o topo dessa maldita pirâmide.

– E aí, Camila, sua mãe ganhou o que nesse domingo? Ah me esqueci! Você não tem mãe! – Austin saiu com a turma dele me zoando.

Ele é o capitão do time de Hockey, ele namora Becky que é líder de torcida. Dois completos idiotas que só falam merda. Não tiram notas boas, foram pegos várias vezes transando no banheiro e no refeitório do colégio e nunca foram expulsos, sabe o porque? Porque eles são importantes para o funcionamento do colégio. Os jovens precisam ter modelos para se espelharem. E Austin e Becky tem tudo para isso, são lindos, corpos esculturais e muito influentes aqui.

É, eu sei, é besteira, mas foi o que o treinador dele e a treinadora dela falaram para defendê-los e não perdê-los, afinal é ano de campeonato estadual.

Eu não vou ficar aqui falando de um por um. Mas digamos que aqui tem os roqueiros darks. Tem as patricinhas. As que adoram jogar na minha cara que eu não ando na moda e nem tenho roupas da grife da Beyoncé. É um saco.

a thousand butterflies (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora