VI

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Lauren estava começando a pensar que havia matado Camila, ou pelo menos a deixado em coma, pois a garota não acordava há quase dois dias. Os olhos verdes e inchados pelo choro das noites em claro encaravam o corpo esparramado na cama de seu porão, era um corpo tão lindo, uma garota tão linda. Se sentia desprezível por fazê-la sofrer e sentir dor, não entendia o porquê tinha que ser daquela forma, não entendia o porquê de não conseguir se controlar. Lauren odiava isso, odiava a si mesma. Odiava o que fazia a sua garota passar, especialmente neste momento em que a observava deitada de um jeito qualquer, com marcas por todo seu corpo e a pele pálida demais... Era tão indefesa, tão linda, tão sua naquele momento.

A sequestradora sabia que em algum momento acabaria ultrapassando todos os limites assim como havia feito com todas as outras garotas, e também tinha em mente de que não poderia deixar isso acontecer, não com Camila. A jovem era seu maior sonho há tempos, não a destruiria dessa forma sem antes ter a chance de a possuir como sempre almejou.

Tivera acabado de tomar uma decisão, e estava firme em bota-la em prática. Torcia para que sua mente colaborasse para tal.

Ouviu a adolescente resmungar em cima de seu colchão, seguido por movimentos lentos e aparentemente dolorosos. Foi o necessário para fazer Lauren saltar de sua cadeira velha a fazendo rangir ao ir de encontro ao seu corpo magro e logo se posicionando com as mãos gélidas no rosto da menina Cabello, tentando conter a felicidade que a tomou ao saber que não havia a matado.

- Oh, graças a Deus, você acordou. - Exclamou a mulher mais velha acariciando os cabelos molhados por suor de Camila. - O que está sentindo? Está se sentindo bem?

- Tudo dói... - ela reclamou, apertando os olhos com força.

Jauregui suspirou pesado e se xingou em pensamento, fechando os olhos e tentando não chorar de ódio.

- Aqui, fiz isso para quando acordasse - ela apontou para uma bandeja ao lado da cama que continha alguns pãezinhos e um copo com suco.

Camila franziu a testa e tentou se lembrar do que houvera acontecido antes de apagar, algo que explicasse tamanha gentileza de sua sequestradora para com ela, mas nada lhe veio a mente, era um completo borrão e era extremamente difícil de se lembrar da última coisa que aconteceu consigo naquele porão sujo e mofado. Só sabia que precisava comer, sentia como se um buraco negro estivesse instalado em seu estômago e sua garganta estava tão seca quanto seus lábios rachados pelo frio. Ergueu o braço para pegar um dos pães que continham algum recheio, e gemeu pela dor que recebeu durante esse movimento, logo Lauren se dispôs a ajudá-la.

- O que aconteceu? - questionou a mais nova.

A mulher Jauregui se repreendia mentalmente para dizer as exatas palavras que rondavam sua mente, não queria dizê-las em voz alta e muito menos que sua refém as ouvisse. Se Camila não lembrava de nada, ela podia muito bem mentir sobre o ocorrido, certo? Não faria mal encobrir algo apenas para que ela não a detestasse mais do que já detesta, para que não a temesse tanto.

- Hm... Você deve ter ficado muito tempo sem se alimentar que perdeu toda sua força e acabou apagando totalmente. - Engoliu a saliva como se estivesse jogando suas mentiras garganta á baixo.

- Por quanto tempo fiquei assim? - quis saber após dar um enorme gole no suco e encarar a mulher sentada na ponta da cama, em uma direção desconfortavelmente perto de si.

Quase dois dias.

- Algumas horas.

A menina Cabello assentiu e voltou sua atenção para a comida, sentia sua barriga roncar a cada mordida desesperada que dava em seu sanduíche. Estava com medo de ter alguma substância que a fizesse apagar de novo dentro de sua comida, mas estava com muita fome e ainda muito fraca para negar. Observou a morena sentada na ponta da cama, evitando contato visual com si, o que foi extremamente incomum sendo que o que mais fazia era engolir Camila com os olhos cor de esmeralda. Sentia algo diferente na mulher naquele momento, algo como insegurança e nervosismo - mas não do tipo que envolvia ira, e sim em questão de inquietude -, sentia culpa em seu olhar cabisbaixo e em sua respiração pesada saindo de seus lábios a cada instante. Notou que Jauregui brincava com os dedos e tentava parar de balançar as pernas assim que notou que isso causava aquele ranger das molas do colchão irritante. Camila quis tentar aliviar as coisas.

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