Precauções

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O Padre entrou na delegacia por volta das doze horas no dia em que o corpo de Vivian fôra descoberto, com uma caixa embrulhada para presente em mãos. Caminhou até a recepção e falou com a atendente.

- Bom dia - ele disse, cordial. - Tenho essa encomenda para entregar à oficial Sarah Hoffman... - ele fingiu ler o nome em um papel. - ela se encontra?

- Ela não está, - respondeu a mulher - mas você pode deixar aqui a encomenda. Eu entrego a ela.

- Sinto muito - disse ele, com a melhor cara de desculpas que tinha. - mas tenho ordens para entregar isso pessoalmente.

A mulher desconfiou.

- E o que seria essa encomenda?

- Acredito que seja um presente - ele respondeu, mostrando o embrulho.

A expressão da mulher suavizou.

- Ah, deve ser o presente da filha dela! Acertei? - ela perguntou.

- Sim, claro! - o padre agarrou a oportunidade. - isso mesmo. Você descobriu. Mas não conte a ninguém, ela quer fazer uma surpresa.

- Mas claro! Entendo. - a mulher sorriu. - Sarah me falou que seria surpresa. Ela convidou meu filho para a festa amanhã.

Uma festa de aniversário para a filha.. interessante.

O presente era uma estratégia simples de se usar, mas nunca pensara que iria cair tão bem. A sorte me favorece, pensou ele.

- Só um segundo, vou descobrir onde ela está - a atendente pegou o telefone e discou alguns números. Após alguns minutos falou com o padre novamente:

- Acabaram de me informar que ela foi para casa - falou a mulher. Você pode deixar o presente lá? A filha dela ainda não deve ter chegado da escola.

- Certamente posso - o padre falou. - Você tem o endereço?

A mulher o olhou de esguelha.

- Vocês não tem o endereço dela? Estranho. De que loja você é mesmo?

- Limoeiro variedades - disse o padre, que tinha se preparado para essa pergunta. - Olhe, claro que temos o endereço dela - ele se aproximou e falou baixo - mas o problema é que não trouxe meu celular para perguntar ao chefe onde é. E se eu voltar para a loja para pegar esse endereço vai demorar muito... você entende né? Me ajuda, vai!

A mulher pareceu se convencer.

- Tudo bem, mas não conte a ninguém. Não posso sair distribuindo o endereço dos oficiais por aí...

- Não se preocupe, depois de entregar esse presente vou jurar de pés juntos que nunca nem falei com você.

A mulher deu uma risadinha. Anotou o endereço em um papel e entregou ao homem.

- Tome - disse ela. - Bom trabalho.

- A você também - ele falou, sorridente.

Ele estava se dirigindo à saída quando pensou melhor e voltou.

- Desculpe - ele disse à mulher - mas fiquei curioso para saber... quantos anos a filha dela vai fazer? Eu não soube...

- Ah, quinze - a mulher respondeu. - A mesma idade do meu filho. Mas ela é bem mais alta que ele... - ela sorriu - e ele sempre se queixa disso.

O padre sorriu também. Quinze. Interessante, muito interessante.

Dez minutos depois ele estava em frente à casa de Sarah, justo no momento em que ela chegava. Ele já havia se livrado do falso presente e colocara óculos escuros para completar o disfarce, mas nem precisou; ela chegou muito pensativa em casa, e nem notou a presença dele do outro lado da rua. Assim que ela fechou o portão ele avançou. Olhou para a rua; não havia ninguém àquela hora. Chegou junto ao muro, mas a casa era protegida por uma cerca elétrica, e ele não poderia simplesmente pular.

Não há problema, pensou ele. Já sei onde ela mora... era o suficiente. Essa precaução era apenas para que ele tivesse a vantagem no caso de Sarah Hoffman não desistir de investigá-lo. Aí então ele poderia abençoar sua filha, quem sabe?

Um sorriso maníaco brotou em seus lábios.

O CaçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora