Mudança de Foco

163 32 70
                                    




Era madrugada, quando André acordou sufocado, sem conseguir respirar direito. Uma enfermeira entrou correndo ao vê-lo se debatendo e tentando puxar o ar.

Aquela entidade horripilante estava deitada sobre ele, uma equipe médica entrou e o preparou para reanimação.

— Não há obstrução das vias aéreas, aparentemente está bem...

— Como está bem se não respira? — indagou uma cardiologista.

O coração de André parou. A médica subiu na cama ficando sobre ele, tentando reanimá-lo.

Suada e exausta da prática da reanimação cardiopulmonar, a médica meneou a cabeça negativamente.

— Hora do óbito 3h25 — avisou e saiu.

Ficou apenas a enfermeira para preparar o corpo do empresário para a necropsia.

3h28 o coração de André voltou a bater. A enfermeira arregalou os olhos, pois ele tentou se levantar.

— Acalme-se! — pediu tentando mantê-lo deitado e gritou: — Alguém ajuda aqui, por favor!

Os olhos de André estavam com um brilho diferente. Ele se sentia bem, como há muito não sentia. Estava pleno.

Os médicos entraram e examinaram o empresário, que afirmou estar bem.

— Precisamos fazer uma tomografia...

— Estou bem, já disse.

— O senhor passou três minutos, morto, precisamos fazer todos os exames para que não haja nenhum dano irreversível.

Apenas se deixou ser levado para fazer os exames. Depois de tudo certo.

— Quando vou poder sair daqui, doutora? — André perguntou à médica.

— Hoje à tarde já poderá ir para casa, avisaremos a sua família. — avisou e o deixou sozinho.

O empresário começou tocar no próprio corpo, nos locais onde havia se machucado naquele fatídico momento.

— Não sinto mais nada. — comentou para si.

— Falou comigo? — indagou a enfermeira que arrumava algumas coisas no quarto.

— Ah, não, só pensei alto. Posso usar o telefone?

— Eu faço a chamada, por favor, me passe o número.

André passou e logo ela voltou com o aparelho.

— Alana?

— Sim, está tudo bem?

— Por favor, me chame a Zélia...

— Ela não voltou pra casa, André... aconteceu alguma coisa?

— Não. — respondeu e desligou entregando o aparelho para a enfermeira que ficou do lado de fora do quarto. — Obrigado.

Alana foi acordada pelo irrigador automático do jardim. Olhou em volta e notou que estava no quarto de André. Lembrava vagamente do ocorrido envolvendo aquele espírito maligno. O silêncio reinava absoluto na mansão quando o telefone tocou, ela esperou tocar, mas como ninguém atendeu, resolveu atender e falou com André.

Entrou no banheiro, tomou um banho demorado, não notou, mas saiu lama de seu corpo com restos de relva e escorreu pelo ralo. Depois de secar o cabelo, ela desceu para ver se estava tudo bem, pois acreditava ter passado por um terrível pesadelo.

Pegou o telefone e ligou para André, precisava saber o que estava acontecendo já que a ligação caiu, o celular dele tocou sobre o sofá da sala de estar para onde sua atenção foi.

— Droga! — xingou e foi à cozinha, sentia sede e precisava comer algo.

Ao entrar no cômodo viu o local cheio de comida espalhada pelo chão, pelas mesas, fogão. Sentiu forte ânsia de vômito ao sentir aquele cheiro podre. Tentou sair de lá, mas gritou ao ver Ramón inchado e sujo de comida enquanto ainda mastigava. A pele de sua mandíbula já não existia mais havia um nojento buraco em sua barriga por onde a comida que ele engolia saía.

— Saia da minha frente! Socorro! — gritou na intenção de fazer algum funcionário ouvir, mas parecia que ninguém ouvia nada, além dela.

Rebeca pulou sobre a mesa de mármore, tinha a cabeça inchada e os vermelhos sangrando.

Alana tentou passar por ela para sair dali pela porta dos fundos, mas a pequena menina morta pulou sobre ela e a derrubou no chão.

Gritando de medo e nojo, Alana tentou, em vão, afastar aquela menina cadavérica de cima dela. Mas a menina de sete anos tinha uma força incrível.

Alana foi içada do chão pela garota, que queria apenas contê-la para que não saísse do local.

Alana começou a gritar desesperada, mas não era ouvida por ninguém, pois do lado de fora da casa estava tudo em silêncio. Ouvia-se até canto de pássaros.

André saiu do hospital sozinho. Olhou em volta e respirou fundo. Sentiu o ar puro encher seus pulmões. Havia um táxi à espera dele, chamado pela recepcionista do hospital.

— Vamos acabar com isso! — falou para si. Sentiu um arrepio intenso no seu lado esquerdo, onde a entidade estava colada nele.

André chegou à mansão e entrou, ouviu os gritos de Alana na cozinha, ele correu pra lá e a viu sentada numa cadeira gritando e se debatendo.

Ele a pegou pelos bíceps e a sacudiu. Quando ela abriu os olhos, viu a cozinha limpa e apenas André à sua frente.

— André? — indagou com desespero no olhar. — Por que está assim? O que houve com você?

Os olhos de André sangravam e ele tinha um corte triangular na testa.                

AlanaOnde histórias criam vida. Descubra agora