Aliado

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Lara falava com um delegado de uma pequena cidade do nordeste quando a luz do local caiu. O computador que estava ligado em sua frente piscou como se aquela queda de energia pudesse afetá-lo.

— Só um momento, doutor. — pediu e notou que o telefone ficara mudo. — Que droga foi essa?

Levantou-se e pegou seu celular para usar a lanterna quando viu um vulto.

— Giane! — chamou e notou o silêncio. Olhou a hora no aparelho em sua mão e não era hora de estar sozinha no departamento.

O vulto correu e a delegada o seguiu. Quando ouviu o grito de André as luzes se acenderam e ela conseguiu ver o homem se debatendo no chão.

— Socorro! — gritou para a esmo, pois não viu ninguém ali além do vulto.

Usou o celular para ligar para uma ambulância e quando o agente apareceu e abriu a cela se ajoelhou ao lado de André.

— André, fala comigo! — pediu e tocou no rosto do homem. — Que porra é essa? — indagou sentindo o rosto dele completamente gelado.

Alana tocou no peito do homem e começou a aquecer lentamente enquanto ele ainda se debatia. Lara colocou a cabeça dele sobre sua perna e rapidamente tirou a própria jaqueta, colocou sobre ele. Sentia o próprio coração querendo sair pela boca de tão acelerado. Ofegava. Engoliu saliva ao sentir a garganta seca.

Calma! Ele vai ficar bem. — Alana pediu na consciência de Lara, que tinha os olhos fechados enquanto segurava a cabeça de André para que não machucasse.

Carízia estava encolhida num canto da cela quando Alana se aproximou da menina, que tentou expulsá-la de lá como um animal ameaçado, mas a jovem não se intimidou e arrastou a menina dali num movimento brusco.

Lara tremia de nervosismo e muito frio quando os paramédicos chegaram e levaram André ainda gelado para o hospital.

— O que aconteceu, Lara? — Murilo quis saber quando chegou perto da colega e a viu abraçar o próprio corpo.

— Não sei. — respondeu ofegando.

Resolveu não falar sobre o vulto, pois não acreditariam.

— Esse cara armou tudo isso? Deve ter tomado alguma coisa...

— Não. Ele foi revistado antes de ir para a cela. — Respirou profundamente. — Eu vou pra casa, preciso de um banho quente.

Murilo viu a colega sair e foi à cela onde André ficou, notou-a muito fria, mas ignorou. Verificou tudo à procura de algum sinal de tentativa de suicídio, mas não encontrou nada. Viu apenas o chão molhado. Franziu o queixo e se virou para sair, escorregou na umidade do chão e caiu de costas de olhos fechados. Quando os abriu viu Otto no teto com seu sorriso assustador e olhos furiosos vermelhos. Quando Murilo tentou se levantar, o espírito maligno pulou sobre ele emitindo um grito rouco baboso em seu rosto. O homem ficou paralisado de olhos arregalados enquanto sentia as mãos geladas e pegajosas do espírito em seu pescoço.

O policial sentiu uma ventania entrar pela porta da cela e atingir aquela entidade afastando-a de cima dele.

Completamente sem fôlego, Murilo se arrastou para fora da cela. Subiu os degraus que davam acesso às salas com muita dificuldade.

— O senhor, está bem? — Uma agente perguntou chegando perto para ajudá-lo e se assustando ao ver o rosto do homem completamente cianótico.

Murilo engoliu saliva ofegando e se segurando na parede.

— Sim, Lourdes, foi apenas um mal-estar. Eu vou para casa. — avisou e saiu desabotoando a camisa.

A agente o seguiu e chamou:

— Doutor Murilo, o senhor quer que eu o leve ao hospital?

— Obrigado, mas não precisa. — disse tentando abrir a porta de seu carro.

— O que aconteceu? — Ela perguntou, pegou a chave da mão dele e desativou o alarme do veículo.

— Não vá à cela 4. Lá está molhado. E está cheia...

— Do que está falando? — perguntou preocupada e abriu a porta do carona para ele. — Entre, eu levo você em casa. Não está bem, devia ir ao hospital.

Murilo se sentou no banco e fechou os olhos suspirando profundamente, quando sentiu uma presença ao seu lado abriu os olhos e gritou de pavor quando viu o sorriso de Otto na agente, que deu partida no carro e saiu em alta velocidade.

Lourdes havia entrado no departamento para avisar que estava indo levar o detetive em casa e ouviu o barulho dos pneus do carro do homem cantar. Pegou o telefone e ligou para Lara.

— Lourdes? O que houve? — Lara perguntou enquanto secava o cabelo com uma toalha.

— O doutor Murilo passou mal e saiu em alta velocidade com o carro dele.

— Se ele saiu de carro não estava tão mal, né?

— Ele estava roxo, ofegando. O deixei no banco do carona para levá-lo em casa e ele arrancou com o carro. Estava muito estranho. Disse para não ir à cela 4... — Lara desligou o celular e tentou ligar para o colega.

— Que droga! — xingou e procurou uma roupa para vestir.

Pegou suas coisas e saiu correndo ainda tentando falar com o colega.

Já bem longe dali, Murilo estava desesperado tentando abrir a porta do carro enquanto aquela entidade demoníaca guiava seu carro. O celular do policial tocava no bolso de sua calça. Lara tentou rastreá-lo, mas foi em vão.

Otto acelerou o máximo que pôde para bater de frente com um caminhão, mas Alana surgiu pela janela dele e retirou Murilo do carro em alta velocidade, jogando o homem por cima de uns arbustos. Virou-se subitamente para encarar o demoníaco Otto que sorria com seus olhos completamente escuros e viu o impacto causado pela colisão do carro do detetive contra um caminhão de combustível.

Você não vai impedir que aquela desgraçada pague por tudo que fez! — vociferou num ronronar horripilante e avançou na direção da entidade rival que sorria inalando a alma do motorista do caminhão que se dirigia tranquilamente para seu destino.

Furiosa, Alana atingiu o peito daquele demônio e o arrastou para dentro do fogo que se formou depois do choque dos dois veículo. Otto gargalhou e agarrou Alana pela cintura num abraço de mãos, a envolveu e a afastou para fitar seus olhos.

Venha comigo! Podemos fazê-la pagar sem precisar depender de ego. — disse olhando-a nos olhos e a manipulando para que seguisse com ele.

Naquele momento Alana notou que desde o início estava sendo guiada por seu ego. Queria que o mundo físico soubesse que Inácia era uma assassina e queria vê-la pagando por seus crimes e sendo julgada pelo povo.

Os demônios precisam apenas de aliados para conseguir mais forças em suas maldades e naquele momento Otto conseguiu uma.

O olhar de Alana denunciava o fim de qualquer vestígio daquela menina confiável, romântica e meiga!

AlanaOnde histórias criam vida. Descubra agora