Capítulo 22

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Ethan me olhava nos olhos e, ao mesmo tempo que aquilo apenas atiçava a minha ira, me fazia recuar.

Eu não sabia se iria atirar.

Na verdade, na minha cabeça nem chegou a passar que eu precisaria atirar de verdade, para mim era só eu intimidar Ethan e sair dali. Foi o que eu fiz.

Depois da minha ordem, vi o rapaz se sentar na cadeira onde ele me amarrara e eu lhe prendi ali com uma algema que eu havia pego no cinto do Xerife da Cidade.

Ethan me encarava com ódio.

Como um cachorro perigoso, preso e aguado para cravar os dentes em alguém. Então, me apressei.

Apontei a arma para Ethan até eu estar ao lado de meu pai. Ele estava voltando a consciência e isso era um grande alívio.

Chacoalhei meu velho pelos ombros e ele reagiu de vez, tive até que desviar de um soco aleatório. Quando ele viu que era eu, espalhou o seu olhar pela sala e abriu um sorrisinho quando sua visão foi o meu ex-namorado, que havia no sequestrado, preso à uma cadeira.

Eu passei o seu braço por cima de meus ombros e o ajudei a se levantar e me acompanhar até a saída da sala, mas, aparentemente, não era só uma sala.

Era um lugar enorme.

Para começar, o cômodo em que estávamos situava-se na parte central de um corredor que tinha saída para os dois lados e, a partir daí, eu soube que sair daquele lugar seria como atravessar um labirinto.

— Acho melhor a gente se separar... — eu tentei e vi meu pai me encarar com indignação.

— Tá doida, Charlote?! Eu passei os últimos cinco anos te obrigando a assistir filmes de terror para ver se você desenvolvia algum senso do óbvio.

— Obrigada — eu me impressionei com a falta de fé.

— Se separar nunca é a solução quando só tem duas pessoas. Isso é coisa de filme! — ele cutucou o meu braço, para chamar a atenção e então indicou uma direção com a cabeça.

Direita, sempre.

Seguimos e o fato de parecer que estávamos andando em círculos me deixava cada vez mais desesperada.

Continuamos assim e então eu tive um motivo para me desesperar de vez: os capangas que andavam com Ethan estavam ali, de espreita.

Me abaixei o mais rápido que pude e me encostei em uma parede, obrigando meu pai a fazer o mesmo e ficar em silêncio.

— Eu consigo imobilizá-lo — papai sussurrou depois de ver o idiota andando se um lado para o outro com um personagem tosco de jogo.

— Você acha? Não está mal, ainda?

— Não, pequena. O problema é que ele tem uma arma... — ele franziu o cenho.

— A gente também tem uma arma, pai...

— Aí é que tá, Charl... Ethan a deixou descarregada...

— Por quê? — ele me encarou e deu de ombros. Segundos depois sua expressão se iluminou mas ficou sombria novamente.

— É uma armadilha... Droga, Charlie, é uma armadilha! Todos eles sabem que a gente tá saindo, mas pra Ethan é um jogo. Um jogo! O vencedor vai nos pegar primeiro e vai nos levar de volta para aquele doente... — meu pai se levantou e começou a bagunçar os cabelos, freneticamente. Depois se virou para mim, mordeu o canto do lábio e se abaixou novamente — Charlie... — ele chamou e eu passei a prestar atenção — Olha... Eu preciso que você corra...

— O quê?! Pai, não...! — ele tapou a minha boca com a mão.

— Charlie... Eu vou ficar bem, ok? Corra o mais rápido que puder até você achar um lugar seguro... Olha... Esse idiota nunca usou uma arma na vida dele, eu consigo imobilizá-lo. Você pode correr para esse lado e eu te alcanço logo...

— Você... — senti lágrimas subirem aos meus olhos novamente — Você disse que se separar nunca é a solução... — uma lágrima escorreu e eu me bati mentalmente.

— Um retiro o que disse, ursinha... — ele limpou a minha lágrima e então me puxou para um abraço forte antes de beijar a minha testa — Agora, vai!

Eu me levantei rapidamente e, por um segundo, chequei se o idiota não estava olhando para eu poder andar na ponta dos pés até o outro lado do corredor e correr o mais rápido que pude.

Não olhei para trás, não tinha coragem para voltar e o pouco que me restara, tinha de usar para tentar me manter viva.

Eu corri, corri, corri. O mais rápido que pude, sentindo que o meu coração poderia sair pela minha boca a qualquer momento. Não via a hora de tudo aquilo acabar.

Papai e eu voltariamos para casa e Ethan seria preso desta vez, eu tinha fé. Mas naquele momento, tudo eu podia fazer era correr, o resto se resolveria depois.

Eu corri mais um pouco até achar uma escada que eu desci, sem hesitar um segundo se quer.

Aquele lugar era uma espécie de armazém, daqueles que tinham duas portinholas numa parede um pouco mais em cima, que se abria para fora.

Eu arrastei uma caixa que estava ali e subi nela para alcançar os puxadores das portinhas.

Trancada. Droga!

Eu comecei a forçar aquilo desesperadamente, descontando na pobre porta toda a minha fúria e frustração, não fazendo questão de segurar as lágrimas.

Mas a minha garganta fechou no segundo em que ouvi um barulho vir do corredor. Sons de passos que tentavam ser discretos.

Agarrei um pedaço de madeira que havia ali e segurei aquilo como se fosse a arma mais poderosa do mundo, com muito medo de precisar usá-la.

— Charlote! — meu nome foi cantarolado e eu me recusei em acreditar que o dono na voz estava mesmo ali, sendo um idiota do Ethan.

— O que você está fazendo aqui, Cameron? — eu dei um passo para trás, com uma expressão confusa no rosto.

— Eu estou aqui... — ele fez uma pausa — Eu não te devo satisfações, garota! Agora larga isso aí e vem comigo. Ethan vai adorar saber que eu te peguei.

— Eu não vou com você! — me aproximei devagar e ameacei lhe bater com a madeira em minhas mãos. Mas ele meio que tinha uma arma também.

Uma arma que ele fez questão de apontar para mim.

— Vá em frente... — eu ri, abaixando a minha arma improvisada — Não tem bala nenhuma nessa...

Ele me interrompeu, atirando no banquinho que eu havia usado minutos atrás. Estremeci inteira.

— É claro que tem bala... Pergunta para o seu pai — ele disse o meu viu largar a ripa de madeira no chão e ficar totalmente sem ação.

Eu encarei Cameron e as minhas lágrimas voltaram. Fui agarrada pelo braço. O idiota posicionou o revólver na minha cabeça e então começou a me conduzir até o lado de fora do lugar.

O que eu não entendi muito bem.

O lado de fora era frio. Um frio amargo de congelar os ossos. Cameron apertou mais o meu braço quando eu parei de andar então me empurrou até um carro.

Me jogou dentro do veículo e algemou uma das minhas mãos em um dos suportes do apoio de cabeça dos bancos e, claro, me amordaçou.

Eu não resisti.

Estava cansada demais para resistir. Apenas conseguia rezar para o meu pai estar bem. Apenas podia me sentir fraca e impotente.

Apenas me sentia inútil.

Encostei a cabeça no banco quando Cameron saiu dali e então chorei até que não tivesse mais lágrimas para sair de mim.

Por que aquilo estava acontecendo comigo?

Bad Reputation | Shawn Mendes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora