Capítulo 23

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Eu não sabia se ficava preocupada, com medo ou se deixava o tédio me dominar por inteira. Cameron havia me deixado trancada ali por seis horas — eu sabia disso graças ao locutor da rádio que eu estava ouvindo.

Àquela altura, eu já não fazia a menor ideia de qual reação deveria estar tendo.

Na minha cabeça, se meu pai estivesse na pior, eu sentiria. Tinha essa intuição e acreditava nela — já que, na última vez em que eu pressenti que algo de errado estava acontecendo, fui comunicada de que meu pai fora internado no pronto-socorro e estava no soro por exaustão.

Consegui alimentar aquela teoria por tempo suficiente para não surtar.

Já havia criado todas as paranóias que meu cérebro era capaz de formular e apenas a música do rádio preenchia o vazio do veículo — nem mesmo meus pensamentos eram relevantes.

Senti o meu coração quase saltar pela boca quando ouvi sons de tiros do lado de fora do carro. Os capangas de Ethan eram uns idiotas, mas não o suficiente para brincarem de atirar uns nos outros.

Só podia ser o meu pai.

Naquele momento, deixei todo o desespero que eu havia sufocado naquelas seis horas escapar. Minhas mãos dignaram-se a esmurrar a janela do carro e o meu choro já era audível.

Graças ao ar que eu soprava involuntariamente no vidro, não pude ver ninguém se aproximar, mas a porta foi aberta e ao ver que era Ethan, sentia apenas mais vontade de gritar e esmurrar.

Ele abriu as algemas e me puxou para fora do carro.

— Eu não sei como você fez para chamar aquele seu amiguinho, mas escute bem... Eu não vou me sentir nem um pouco culpado se ele acabar com uma bala bem no meio da testa.

— Do que você tá falando?! — indaguei sem me preocupar em ajeitar o tom da minha voz. Me soltei de seus braços, mas a arma em sua mão me fez pensar duas vezes antes de me precipitar e sair correndo.

— Vai me dizer que não chamou aquele Shawn Merda? — ele continuou me empurrando em direção ao pequeno edifícil, no qual havia me feito de refém.

Quando chegamos na entrada do local ela estava totalmente barrada por viaturas, mas isso não intimidou o meu ex-namorado. Tudo o que ele fez foi me puxar para si e encaixar o revólver que segurava na parte inferior da minha mandíbula, ameaçando qualquer um que tentasse algo.

Havia tensão no ar e os agentes não me passavam nenhuma segurança.

— Charlie! — ouvi o meu nome ser chamado pela voz que me fazia morrer e voltar a vida novamente.

Peter surgiu, se esgueirando por entre os policiais armados e agilmente se esquivando de um mal humorado que o queria impedir de se aproximar.

— Shawn... — sussurrei baixinho, deixando um sorriso quase imperceptível se instalar em meus lábios.

— Nem mais um passo, idiota! — Ethan gritou e Peter recuou alguns centímetros.

O boçal que me fazia, novamente, de refém, aproximou os lábios do meu ouvido e sussurrou o que me fez estremecer dos pés à cabeça:

— Se lembra de que eu disse que precisávamos cortar o mal pela raíz? — uma risada sádica acompanhou o seu comentário e eu me debati, tendo o meu braço apertado mais forte e a arma pressionando mais o meu pescoço.

Eu não temia, exatamente. Apesar de não duvidar nem um pouco que Ethan era capaz de atirar em qualquer um ali — inclusive em mim —, era ele contra, pelo menos, vinte e cinco armas apontadas na sua direção, de diferentes ângulos.

Bad Reputation | Shawn Mendes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora