Capítulo 25

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A manhã que me recebeu quando acordei, três dias depois da prisão de Ethan, era fria e normal.

Minhas pálpebras ainda pesavam como se fossem feitas de chumbo e não de pele, mas eu tive de me levantar mesmo assim.

O que me despertara fora o som agudo da campainha que se espalhou pela casa e se repetiu depois de eu julgar que teriam se passado alguns minutos. Eu desci as escadas correndo e caminhei até a porta com pressa, sob meus pés descalços o tapete de fiapos.

Antes de abrir a porta, tive a decência de analisar as opções de quem poderia estar atrás do grande pedaço de madeira adornada. Em primeiro lugar, meu pai poderia ter esquecido as chaves, mas era improvável que precisasse de mim, uma vez que tínhamos uma chave reserva escondida embaixo de uma tábua solta no alpendre; em segundo lugar, poderia ser Shawn, mas ele deveria estar na escola àquele horário e no último caso, Ethan poderia estar ali com uma faca pronta para ser enterrada no meu estômago.

Chequei o olho-mágico e, por um segundo, me convenci de que ter Ethan ali seria menos pior. Abri a porta, me arrepiando graças ao vento frio e tentei abrir um sorriso para a garota parada a minha frente.

Lauren.

Dei espaço para que ela adentrasse a minha casa e se protegesse do frio, juntamente comigo. Foi nostálgico vê-la ali. Jauregui observava tudo com os seus belos olhos verdes surreais e eu apenas conseguia mentalizar o ponto de interrogação metafórico que poderia estar pairando sobre a minha cabeça.

Ela limpou a garganta para tentar amenizar o silêncio constrangedor e eu aproveitei o seu manifesto para acompanhá-la até a sala de estar e me sentar em um dos sofás com as pernas cruzadas.

Esteticamente, Lauren não combinava com aquele lugar. Em cima de seus saltos, tudo parecia pequeno demais e eu podia ver em sua expressão que aquilo era tão estranho para ela quanto para mim.

Dois anos antes era quase um mecanismo padrão de nossas vidas sair da escola e caminhar até a minha casa para fazer o dever de casa juntas e jogar conversa fora ou maratonar uma série.

Eu sabia que aquilo também se passava pela cabeça dela quando a vi puxar o ar com força e fechar os olhos logo depois, como se estivesse se familiarizando novamente com o lugar.

— Pergunto sem nenhuma intenção de te ofender, mas... O que você está fazendo aqui? — indaguei com a minha voz rouca e sonolenta.

— Ãh... Charlie... Charlote... — ela tentou se decidir no que seria mais apropriado. Sentou-se ao meu lado e pousou a sua mão próxima a minha — Eu quero me desculpar contigo... Olha, depois do que aconteceu com o Ethan eu... Andei repensando algumas coisas na minha vida. Coisas que poderiam vir a ser uma grande dor de cabeça no futuro... assim como Sherman tem sido há alguns meses. Você... você tem razão, sabe... Aquilo que disse aquele dia... Eu me acabei depois daquilo. Demorei horas pra me recompor e... Cheguei a conclusão de que eu tenho tudo para ser um Ethan na vida das pessoas — ela se remexeu em seu lugar — Eu não quero isso.

— Você não... Não é o Ethan, Lauren...

— Eu sei... Mas... Sei lá, eu já to cansada de disso... — ela fez uma pause e abaixou o olhar — Você pode dizer o que quiser, mas saber que agora que o Ethan... foi preso... Eu sou a troglodita oficial da escola. Você tá entendendo isso, Charlote? É um legado que eu não pedi... e quer saber? Você tem sorte, apesar de tudo o que passou... — sua mão escorregou pelos seus cavalos em uma mania de ajeita-los a toda hora.

— Não — eu a interrompe bruscamente, mas de uma forma que não a deixaria aborrecida — Eu sinto muito pelo que está passando. Apesar de ser um imbecil, Ethan era seu namorado e deve estar sendo difícil para você... Mas... não me parece justo que você compare uma crise de identidade com ser sequestrada e feita de refém.

— Eu me expressei mal, Charlie. Me desculpe. Eu estou enrolando para falar, mas... O que quero dizer e que eu me sinto culpada e não falo só porque você "exigiu" que eu me sentisse a pior pessoa do mundo... — ela juntou as mãos em uma clara tentativa de aliviar o nervosismo — Se eu pudesse voltar no tempo, com certeza, eu teria ficado ao seu lado... Poxa, você é... era a minha melhor amiga e eu, simplesmente, te larguei ali por birra. Porque eu queria Ethan e você tinha acabado de perde-lo... Charlie, eu me arrependo. Ethan não valia a nossa amizade. Não valia — ela puxou o ar com força e imaginei que aquele seria o grand finale — Eu não estou sugerindo que a gente volte a ser o que era antes... Mas eu ficaria muitíssimo feliz se nós pudéssemos... Sei lá, se falar mais, ou...

— Lauren... Eu te devo desculpas também... Fui dura demais... O que eu disse no banheiro, eu... tava muito chateada e...

— Não. Charlote, eu acabei de dizer que sou grata por você ter dito tudo aquilo. Me ajudou a rever algumas ações minhas e eu conclui que eu sou sim uma pau no cu... Mas eu quero consertar isso.

Depois daquilo, eu sugeri que Lauren ficasse ali comigo para me acompanhar no café da manhã. Juntas preparamos a refeição e isso nos rendeu muitas risadas.

Qualquer um diria que a nossa situação estava sendo forçada, mas, ter Lauren ali, comigo, me trouxe parte da segurança que eu não sentia desde que fui resgatada do sequestro.

Eu sentia que aquilo poderia voltar a ser o que era antes, porque, para ela não sabia, mas eu achava que não dar uma chance para ela seria admitir que Ethan tinha mais influência em nós do que realmente tinha. Sem contar que, na minha atual situação, o que eu menos queria eram inimigos sequestradores em potencial.

Tivemos os momentos de constrangimento, mas, em parte, resgatamos o que havia largado sem hesitar.

Lauren havia disse que se pudesse voltar no tempo ela consertaria tudo o que fizera de errado. Mas, se eu pudesse voltar no tempo... Apenas desejaria ter mais tempo com a minha mãe.

Seria muita hipocrisia dizer que eu não me arrependo de nada que já tenha feito. Mas eu finalmente estava contente com quem eu era.

E sabia que cada idiotice que eu já havia feito foi necessária para me moldar e a pessoa que eu sentia estar me tornando era alguém capaz de perdoar, amar, se sacrificar e ser forte.

Falhar sempre seria inevitável. A verdade é que todos somos fadados ao fracasso. Mas, com determinação, é possível diminuir a frequência com que quebramos a cara ou a dor que sentimos quando isso acontece.

Naquela manhã, eu senti que estava ajudando uma das varias Charlies interiores a se reerguer.

E foi uma ótima sensação.

🌼🌼🌼

Ooi povinho querido, como vocês estão?

Eu trouxe este capítulo, não porque ele essencial para o decorrer da história, mas como estamos a cada capítulo mais próximos na linha de chegada metafórica, eu achei que não faria mal se houvesse uma reconciliação da Charlie e da Lauren (até porque, alguns leitores me questionaram sobre isso. E eu achei justo que a história acabasse com "todos os pecados pagos". Ethan preso, Charlie e Lauren miguxas e o resto é segredo).

Um beijo para todo vocês, gente.

With all love,
A tia da reconciliação

Bad Reputation | Shawn Mendes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora