Capítulo 24

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“O verdadeiro terror não é ter medo, é não ter escolha senão senti-lo.”

A frase de John Green, simplesmente, definia cada segundo da minha existência desde que eu chegara em meu lar depois de ser sequestrada pelo meu ex-namorado.

Medo de que se repetisse, medo ao me lembrar da sensação desesperadora de acordar em um lugar desconhecido com um maluco; medo de ficar sozinha, medo de sair de casa sozinha, medo de ficar sozinha com alguém para presenciar que a pessoa que estava comigo, de fato, estava comigo.

Medo.

Medo de tudo.

Na segunda-feira seguinte aos dois piores dias da minha vida, meu pai me acordou depois do horário da escola. Pulei da cama e corri para o banheiro para fazera minha higiene, antes mesmo de saldá-lo.

Quando voltei ao quarto para me vestir, percebi que ele não estava com o seu uniforme e a sua expressão era sombria.

Eu não iria para a escola naquela manhã.

— Hoje é o julgamento do Ethan — foi tudo o que ele disse até que já estivéssemos no tribunal.

Aquele lugar era pesado.

O ar ali parecia mais rarefeito toda hora que alguém chegava, o banco de madeira sob mim já estava molhado com o meu suor, assim como as minhas axilas e a minha nuca.

Ethan, meu ex-namorado, alguém com quem eu compartilhei inúmeros momentos da minha vida, estava para ser julgado e, embora ele tivesse feito o que fez, ele ainda era uma pessoa que eu havia amado.

Eu deveria estar triunfante, mas estava devastada.

Talvez a idade estivesse me fazendo amadurecer, finalmente, e o fato de eu estar compreendo o que estava para acontecer me fazia ter vontade de chorar, principalmente com ele no mesmo lugar que eu.

Minha magoa era enorme, àquela altura eu não estava mais com raiva e nem desejando que um raio caísse na cabeça oca de Ethan, eu estava desapontada.

Deprimida porque eu havia entregado um ano e meio nas mãos de alguém que era capaz de tamanha maldade.

Minha cabeça parecia pesar mais do que nunca. Eu estava exausta, triste, com sono e com medo.

Na teoria, eu deveria apenas olhar para frente e esperar tudo começar, mas o olhar de Ethan em mim me atraia. Não conseguia evitar encarar o seu semblante estupidamente calmo e os seus olhos claros lembravam-me da manhã em que eu entrei na escola e vi a minha imagem nua — ironicamente — cobrindo as paredes e armários.

Todos brigavam pelo último pedaço da minha dignidade e era exatamente o que Ethan estava fazendo naquele momento.

Minhas mãos tremiam, meus pelos estavam arrepiados e o meu coração parecia que explodiria a qualquer segundo, de repente, meu pai me chamou a atenção.

A juíza foi anunciada e todos nos levantamos, apresentaram o caso e então começou, Ethan foi chamado para depor.

Ele se sentou na cadeira com tanto descaso que parecia que estava se sentando em um trono que já era seu há muito tempo.

Depois de responder, da forma mais debochada que pode, as perguntas que lhe foram feitas, meu pai foi chamado para depor.

Vê-lo naquelas condições fazia o meu coração se partir em milhões de pedacinhos.

As perguntas pareciam deixá-lo cada vez mais exausto e eu estava ficando mais deprimida, conforme ouvia seus relatos.

Ethan havia lhe mandado uma mensagem — uma mensagem! — dizendo que estava comigo e que se meu pai não o encontrasse no local sugerido e na hora sugerida, ele nunca mais me veria.

Bad Reputation | Shawn Mendes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora